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ABD_ALMOHIMEN_SAYED/SHUTTERSTOCKautonomia e vêm sendo duramente reprimidos África do Sul, do apartheid à nação
CODEGONI DANIELE/SHUTTERSTOCKpelo governo etíope. Essas ações já vitimarammais desigual
meio milhão de indivíduos e provocaram o des-
locamento de 1,8 milhão de pessoas. Na África do Sul, a maioria negra (cerca de 68%
• No Sudão, desde 2003, confrontos entre grupos da população) viveu, até o início da década de 1990,
rebeldes, forças de segurança e milícias afetam sob a política segregacionista denominada apar-
a população de Darfur, motivados por conflitos theid. Ainda hoje, mesmo com o fim do apartheid,
étnicos e delimitação territorial. Nesse país, o o preconceito perdura, e as diferenças socioeconô-
desenvolvimento desigual entre as diversas re- micas se intensificam no país, visto que a maioria
giões agravou o sentimento de revolta e favo- negra detém menos de 5% das riquezas totais da
receu a criação de grupos rebeldes nas regiões República Sul-Africana.
pobres, que alegam lutar pelos seus direitos.
Entretanto, o governo central apoia grupos de Apartheid
origem árabe, inclusive com armamentos, para
combater grupos não árabes, o que causou a Com Mandela, teve início o período de re-
morte de milhares de pessoas. Em 2011, os construção da dignidade da maioria negra sul-
eleitores do Sudão do Sul decidiram por sua -africana, marcado por muitos avanços, como a
independência de forma pacífica em relação Lei de Direitos sobre a Terra, que restituiu pro-
ao resto do país. Mesmo assim, lutas internas priedades às famílias negras, além de leis abran-
pelo poder mantêm a instabilidade política no gentes contra a discriminação de etnia, gênero
Sudão. Em 2023 o grupo paramilitar Forças de e deficiência física. O Partido Nacional, formado
Suporte Rápidas (FSR) iniciou uma nova guerra principalmente por supremacistas brancos, na
civil, deixando milhares de mortos e feridos. África do Sul, levou à promulgação de um con-
junto de leis segregacionistas na década de 1940,
↑ Incêndio causado por conflito entre o exército sudanês e o grupo chamado apartheid. O objetivo era controlar a
paramilitar FSR. Cartum, Sudão, 2023. maioria negra e favorecer o modelo econômico
baseado na exploração dessa mão de obra.
• Ainda hoje existem minas terrestres que mu-
tilam centenas de pessoas em Angola e em Mesmo com forte oposição política interna
Moçambique, duas ex-colônias portuguesas que e externa, o governo da África do Sul criou, na
enfrentaram guerras civis entre as décadas de 1970 década de 1970, territórios de confinamento para
e 1990. Nos últimos anos, ataques promovidos por isolar ainda mais a população negra: os bantus-
movimentos associados ao Estado Islâmico são tões. Um dos objetivos da criação dessas áreas
responsáveis por conflitos na província de Cabo era tirar os direitos políticos da população negra,
Delgado, nordeste de Moçambique. De acordo com que passaria à condição de “estrangeira” quando
dados da ONU, entre 2017 e 2024, mais de 4 mil estivesse em território branco.
pessoas morreram e outras 700 mil foram deslo-
cadas por conta dessas ações de violência. No fim da década de 1970, a Organização das
Nações Unidas (ONU) aprovou diversas sanções
• No Mali, as raízes dos conflitos remontam à inde- contra a África do Sul com o intuito de forçá-la
pendência do país em relação à França, ocorrida a suspender sua política de discriminação racial.
em 1960 – hoje há rebeliões de tuaregues, povo No entanto, foi apenas em 1992 que as leis se-
de cultura nômade pastoril, que luta pela inde- gregacionistas foram finalmente revogadas. No
pendência da parte norte em relação ao Mali. embalo das mudanças, o país promoveu eleições
livres multirraciais, que colocaram o líder negro
Nelson Mandela no poder em 1994. Mandela ha-
via permanecido encarcerado por quase 30 anos.

↑ Moradias no bantustão de Zululand. África do Sul, 2016.

CAPÍTULO 22: DESIGUALDADES, CONFLITOS E DESAFIOS NO SUL GLOBAL 301