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DIÁLOGO COM HISTÓRIA E DIÁLOGO COM SOCIOLOGIA .DOC. 2
DOC. 1 Proposta alternativa de regionalização:
“Quatro Brasis”
Para uma análise geográfica da Divisão
Internacional do Trabalho No livro O Brasil: território e sociedade no iní-
cio do século XXI (2001), o geógrafo brasileiro Milton
“A noção de divisão internacional do trabalho Santos (1926-2001) e a geógrafa argentina María
corresponde às funções produtivas desempenhadas Laura Silveira propõem uma forma de regionalização
por cada Estado nação no sistema internacional e, para o país. A proposta é pautada em análises do
deste modo, está diretamente ligada a uma divisão do dinamismo da sociedade e da economia no território
trabalho que também se dá no interior do território nacional. Os autores estabeleceram as bases para
nacional [...]. Trata-se de uma divisão do trabalho que uma proposta de redivisão do território brasileiro em
é, ao mesmo tempo, também uma divisão e repartição “quatro brasis”: Região Amazônica, Região Nordeste,
dos recursos (materiais e imateriais) mobilizados nas Região Centro-Oeste e Região Concentrada.
atividades produtivas.
Essa proposta de regionalização demonstra
Do mesmo modo como a importância de cada como a produção científica e tecnológica, a informa-
agente produtivo é muito diferenciada no interior das ção, as finanças etc. se distribuem de forma desigual
formações socioespaciais, cada Estado nacional tam- pelo Brasil, criando disparidades e hierarquias no
bém acolhe diferentes funções e trabalhos no sistema território nacional. Por exemplo: a Região Amazônica
internacional da produção e das trocas, produzindo, apresenta estados com baixa densidade técnica e
a partir do empenho de diferentes recursos, feições demográfica; a Região Nordeste é marcada pelas
territoriais bastante desiguais tanto quando tomamos raízes históricas da colonização e do povoamento
como exemplo a configuração do espaço no interior inicial do Brasil; a Região Centro‑Oeste vem se con-
de um território nacional (as diferenças regionais, por solidando em razão da modernização e da mecani-
exemplo) ou quando comparamos a formação territo- zação do setor agropecuário; e a Região Concentrada
rial de diferentes Estados nacionais. reúne e comanda a produção industrial, os centros
financeiros, de infraestrutura viária e de serviços no
No Brasil a sociedade e o território nacional his- país. Observe o mapa.
toricamente se empenham num tipo de trabalho que
é, em grande parte, requerido e exigido de fora do país. BRASIL: REGIONALIZAÇÃO SEGUNDO ALLMAPS
Este processo, com a natureza que ele assume no caso MILTON SANTOS (2001)
brasileiro, é importante para a compreensão das dinâ-
micas que orientam a formação socioespacial e a divisão 50° O
territorial do trabalho.
Equador RR AP
Assim, algumas questões nos parecem funda-
mentais para a análise desta situação[:] quais agentes 0°
tiram proveito das funções desempenhadas pelo país
no sistema econômico-produtivo internacional e quais AM PA MA CE RN
as suas consequências para o território nacional? Quais PB
as perspectivas do Brasil (e a função a ser desempe- AC PI PE
nhada pelo país) na divisão internacional do trabalho RO
neste início de século? Para que possamos realizar TO AL
uma análise geográfica destas questões é necessário OCEANO SE
pensarmos como as participações do país na divisão PACÍFICO BA
internacional do trabalho atuam constantemente na Trópico de Capricórnio
produção e transformação de seus recursos e estruturas MT
territoriais, ou seja: como regiões produtivas se formam Regiões DF
(e se transformam) no território nacional para atender Amazônia
as demandas do mercado externo? [...].” Centro-Oeste GO
Concentrada
PEREIRA, Mirlei Fachini Vicente. A inserção subordinada do Brasil Nordeste MG OCEANO
na divisão internacional do trabalho: consequências territoriais e MS ES ATLÂNTICO
perspectivas em tempos de globalização. In: Sociedade & Natureza,
v. 22, n. 2, ago. 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sn/a/ SP RJ
SHBvQFnZdz4qbnxdZpTFYDw/?lang=pt. Acesso em: 16 ago. 2024
PR N
SC OL
RS
S
0 605 km
Fonte: SANTOS, Milton; SILVEIRA, María Laura. O Brasil: território e
sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2006. p. LXIV.
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