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Minotauro: figura mítica da Grécia an- ↻ O Atlântico na história da cartografia
tiga, descrita como metade homem,
metade touro, que vivia em um labi- Muitos topônimos que usamos comumente para denominar continentes,
rinto na ilha de Creta, governada pelo mares e oceanos têm origem em mitos da Grécia e da Roma antigas. A palavra
rei Minos. Europa, por exemplo, teria sido o nome de uma princesa fenícia raptada por
Zeus, a principal divindade dos antigos gregos, de cuja união teria nascido o
Popa: parte traseira de uma embarc ação. Minotauro. O nome do continente europeu pode estar relacionado também
às expressões gregas eurys (largo) e ops (face).
A partir dos séculos XV e XVI, com a expansão marítima europeia, a to-
ponímia atribuída aos territórios conquistados no ultramar evidenciou a visão
eurocêntrica do mundo. América, por exemplo, tem a origem de seu nome
atribuída ao mercador e navegador italiano Américo Vespúcio (1454-1512),
que, ainda no século XV, teria descrito essas terras continentais localizadas
a oeste da Europa. Vários cabos, ilhas e rios receberam nomes relacionados
à tradição cristã europeia, a exemplo das ilhas de São Tomé, São Vicente e
Santa Helena (África), dos cabos de São Roque e Santo Agostinho (Brasil) e
dos rios San Juan e Santa Ana (Venezuela).
O topônimo Atlântico já estava presente em representações cartográ-
ficas do grego Ptolomeu (90-168 d.C.), que mostravam somente o chamado
Velho Mundo. O nome desse oceano faz referência a mares que, a partir do
Mediterrâneo, indicavam a expansão do mundo para além da cadeia de mon-
tanhas do Atlas, situada no noroeste da África. O nome Atlântico, portanto,
originou-se de Atlas, filho de Netuno – o deus dos mares na mitologia grega.
Antes do século XV, a extensão do Oceano Atlântico era desconhecida;
ele era considerado um mar perigoso, povoado de monstros míticos e animais
fantásticos, inspirando um misto de temor e fascínio. O escritor e poeta por-
tuguês Fernando Pessoa (1888-1935), em seu poema “Mar português”, para
enaltecer o apogeu marítimo das Grandes Navegações, por exemplo, escreve:
“... Quem quer passar além do Bojador, / Tem que passar além da dor. / Deus
ao mar o perigo e o abismo deu, / Mas nele é que espelhou o céu...”.
A melhor descrição que exprime o mistério e a extensão inimaginável
das águas atlânticas encontra-se nesta narrativa de viagens do navegador
cartaginês Himilco:
“A partir das colunas, a oeste, há um ilimitado abismo, oceano, que se estende na largura
e exibe um teor salgado. Ninguém se aventurou nessas águas, ninguém colocou os cascos dos
navios naquela planície marinha, seja porque em alto-mar faltem ondas para impulsioná-los,
seja porque nenhum sopro de vento empurre a popa, ou ainda porque a neblina cubra o ar
como um véu, ou a névoa oculte permanentemente o abismo marinho e permaneça muito
espessa durante o dia. É esse o oceano, o maior dos mares, que ruge profundo ao redor do
globo imenso.”
HIMILCO [século V a.C.]. In: SILVA, Francisco Carlos Teixeira da; LEÃO, Karl Shurster de Sousa; ALMEIDA, Francisco
Eduardo Alves (org.). Atlântico: a história de um oceano. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015. s/p.
Foi a partir do século XV, com a experiência das navegações em direção
às Índias, que os europeus começaram a ter ideia da dimensão real do imenso
“mar de águas contíguas” que banha três continentes: Europa, América e África.
Muitos cartógrafos europeus atribuíram outros nomes ao Atlântico, na
tentativa de incorporar informações geográficas obtidas com a chegada dos
navegadores ao chamado Novo Mundo. Os primeiros mapas-múndi do período,
por exemplo, já representavam o Atlântico com uma área mais ampliada. Esse
foi o caso da denominação Mare Oceanus, atribuída ao Atlântico no planis-
fério de Cantino, em 1502. Analise esse planisfério, observando a indicação
da seta vermelha.
CAPÍTULO 4: OCEANO ATLÂNTICO: MAPAS PARA O NOVO MUNDO E A ROTA TRIANGULAR 43