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A apropriação dos territórios indígenas continua sendo um desafio atual
enfrentado por essa parcela da população brasileira. A exploração econômica
e predatória dos recursos naturais; a expansão da ocupação de terras voltadas
à produção agropecuária comercial; a construção de grandes obras de infraes-
trutura, como rodovias e usinas hidrelétricas, sobretudo no decorrer do século
XX e início do século XXI, são processos que pressionam as terras indígenas.
Disso resultam deslocamentos forçados na direção de áreas mais remotas
do território, principalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste. Essas regiões
apresentam os maiores percentuais de pessoas que se autodeclaram indígenas
no país (3,1% e 1% do total, respectivamente).
Além de provocar a redução da população originária e impor novas espacia-
lidades aos indígenas, a colonização se vinculou intimamente ao deslocamento
forçado de pessoas para fins de escravização na América portuguesa.
Estima-se que mais de 12,5 milhões de pessoas deixaram a África nessa
condição entre 1500 e 1867. Desse contingente, cerca de 1,8 milhão de pessoas
morreram na travessia do Atlântico. Daqueles que chegaram vivos ao continente
americano (10,7 milhões de pessoas), quase metade desembarcou no Brasil no
período de 1500 a 1850 (4,9 milhões de pessoas).
MUNDO: ROTAS TRANSATLÂNTICAS DE COMÉRCIO DE PESSOAS ALLMAPS
ESCRAVIZADAS — 1500-1900
0° Número de escravizados
EUROPA 8 000 000
AMÉRICA ESTADOS OCEANO TUNÍSIA Mar ÁSIA 4 000 000
DO NORTE UNIDOS ATLÂNTICO LÍBIA 2000 000
MARROCOS Mediterrâneo 1 000 000
EGITO A espessura das setas indica
a proporção do número de
escravizados pessoas em
condição de escravidão
transportados
Trópico de Câncer CUBA ARÁBIA ÍNDIA
Vera Cruz SANTO DOMINGO
Mar da
AMÉRICA BARBADOS SENEGÂMBIA 1700-1900 IÊMEN Arábia
CENTRAL Cartagena
SERRA COSTA COSTA ÁFRICA
LEOA DO DO GOLFO
OURO BENIN
DO
Equador BIAFRA
0°
↓ Vista do mercado de Valongo, OCEANO AMÉRICA 1501-1866 CÁEFNRTIRCAALCSOUSATHAIDLIO OCEANO
publicada no diário de Maria PACÍFICO DO SUL OCIDENTAL ÍNDICO
Graham, inglesa que visitou OCEANO
o Brasil no início da década Trópico de Capricórnio BRASIL ATLÂNTICO SUDESTE
de 1820. Valongo, no Rio de N DA ÁFRICA
Janeiro, foi o maior mercado Buenos Aires Meridiano de Greenwich Ilhas
de escravizados no Brasil no OL MADAGASCAR Mascarenhas
século XIX. Parte das pessoas
negociadas nesse mercado S
permanecia no Rio e parte era 0 1865 km
revendida para outros mercados
do país. Fonte: VISÃO geral do comércio de escravos para fora da África. Slave Voyages, jan. 2022. Disponível em: https://
www.slavevoyages.org/blog/overview-slave-trade-out-africa.Acesso em: 9 jul. 2024.
MUSEU BRITÂNICO, LONDRES, INGLATERRA
No período colonial, escravizados africanos se
concentravam nas áreas economicamente mais
dinâmicas, como o Nordeste – onde prevalecia
a produção de açúcar (séculos XVI ao XVII) – e o
Sudeste – nas regiões de mineração de ouro e dia-
mante (século XVIII) e, posteriormente, nas áreas
de cafeicultura (século XIX). As embarcações vindas
da África chegavam principalmente aos portos de
Salvador, Rio de Janeiro e Recife, sendo os escravi-
zados transportados daí para outros locais.
O volume do desembarque e a importância re-
lativa dos portos no comércio de pessoas escraviza-
das foram sendo alterados ao longo do tempo. Um
dos principais condicionantes dessas mudanças era
a demanda de trabalhadores associada às atividades
que sustentavam a economia da colônia e, poste-
riormente, do país recém-independente.
94 UNIDADE 2: O MUNDO EM MOVIMENTO