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Leucipo (século V a.C.) e Demócrito (c. 460-c. 370 a.C.), ambos de Abdera,
                                     foram os formuladores de um sistema físico conhecido como atomismo. As
                                     reflexões desses dois pensadores, assim como as dos anteriores, tiveram como
                                     ponto de partida a ideia de que não se poderia falar de mudança ou de desen-
                                     volvimento sem que existisse algo de permanente, de imutável, na coisa em
                                     transformação. O que seria esse algo imutável? Apoiemo-nos no testemunho
                                     do filósofo Aristóteles.

                                                “Demócrito... designa o espaço pelos seguintes nomes: ‘o vazio’, ‘o nada’ e ‘o infinito’,
                                         ao passo que cada substância individual ele chama ‘coisa’, ‘compacto’ e ‘ser’. Pensa ele que
                                         as substâncias são pequenas, que escapam aos nossos sentidos, se bem que possuam toda
                                         espécie de formas, de feitios e diferenças de tamanho. Deste modo, consegue ele, a partir
                                         delas, como a partir dos elementos, criar, por agregação, massas perceptíveis, à vista e aos
                                         demais sentidos.”

                                                ARISTÓTELES. In: KIRK, G. S.; RAVEN, J. E.; SCHOFIELD, M. Os filósofos pré-socráticos. 4. ed. Lisboa: Fundação
                                                                                                                                          Calouste Gulbenkian, 1994. p. 438.

                                           Assim, esses filósofos buscaram algo que permanecesse sempre igual no
                                     constante processo de mudança da natureza. Deram o nome de átomo a esse
                                     ser imutável e eterno. Além de indivisíveis (átomon = “indivisível”), os átomos
                                     seriam partículas compactas, com tamanhos diferentes e constantes, sem ou-
                                     tras características. Por serem muito pequenas, essas partículas não poderiam
                                     ser observadas ou percebidas pelos órgãos dos sentidos. No entanto, quando
                                     se agregavam em número muito grande, compunham as coisas ou os seres da
                                     natureza. Quando um ser ou uma coisa deixava de existir, a composição se des-
                                     fazia, mas os átomos se mantinham. Assim, a união e a separação dos átomos
                                     explicavam todos os acontecimentos na natureza.

                                           O sistema elaborado por esses filósofos, que influenciou a ciência durante
                                     muito tempo, ficou conhecido como materialista. O nome deve-se ao fato de
                                     que, segundo esse sistema, a essência, a realidade última de tudo o que existe
                                     é o átomo, a unidade mais elementar da matéria.
PETER PAUL RUBENS - MUSEU DO PRADO, MADRI↑ Vulcano forjando os raios de
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                            FERNANDO GONSALESJúpiter (c. 1637), pintura de Peter
Paul Rubens. Com a filosofia, a
natureza deixa de ser vista como
manifestação do sagrado para
ser entendida como algo que
pode ser explicado e conhecido
pelo ser humano.

   Veja respostas e orientações      		↪ A novidade do pensamento filosófico
      no Manual do Professor.
                                           Com a filosofia, aos poucos a natureza deixou de ser compreendida como
  	QUESTÃO	                          uma extensão emotiva do ser humano ou como consequência da ira ou da be-
                                     nevolência dos deuses. Ela passou a ser concebida como uma legalidade, isto
•	 Depois de ter conhecido           é, regida por leis ou regras próprias.
    algumas ideias dos primei-
    ros filósofos naturalistas,            Embora as regras que regem a natureza sejam independentes do ser hu-
    que resposta você daria à        mano, elas podem ser conhecidas. O instrumento para conhecê-las é a razão
    pergunta: quando teve iní-       (logos). O discurso racional pode apreender essas regras e estabelecer sistemas
    cio e o que o pensamento         de explicação da realidade. Ou seja, pela razão o ser humano pode descortinar
    filosófico trouxe de novo?       a natureza.

                                           Na origem da filosofia, estas três ideias estão presentes: a natureza tem
                                     regras próprias; o ser humano pode conhecer essas regras; o instrumento desse
                                     conhecimento é a razão.

                                     ↑ Níquel Náusea (1999), tirinha de Fernando Gonsales. A lei da gravidade, formulada por Isaac Newton no
                                     século XVII, é fruto da especulação científica, que deu seus primeiros passos na Grécia antiga, com os
                                     filósofos da natureza.

                                     CAPÍTULO 3: A DESCOBERTA DA NATUREZA: OS PRÉ-SOCRÁTICOS                                                                                                                                                                                                                                                                   37
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