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completamente às análises tradicionais de poder: a existência de uma relação                                                         CORTESIA PEST CONTROL, BANKSY, BOSTON, 2010
intrínseca entre poder e saber e o aspecto produtivo, realizador, do poder.

      Toda prática disciplinar ou de dominação relaciona-se a uma série de saberes.
Em uma prisão, por exemplo, desenvolve-se a organização espacial dos presos, o
controle dos detentos, um regime de vigilância constante: criam-se métodos de
observação, formas de registro, técnicas de inquérito etc. Nesse regime, há um
saber inerente aos mecanismos de poder criados ali. O mesmo pode ser dito das
relações dominadoras desenvolvidas em um hospício, em uma escola ou em outra
instituição. Neles também se acumulam saberes relacionados às diferentes técnicas
de dominação. Para Foucault, poder implica saber e vice-versa.

      De maneira original, o filósofo francês entendeu que o poder não é só ele-
mento de repressão; antes de tudo, ele elabora saberes, cria discursos, inventa
aparelhos, induz ao prazer. O poder cria técnicas que tornam possíveis seu
desenvolvimento, circulação e manutenção na sociedade.

      Como vimos, essas primeiras reflexões apresentadas estabelecem vínculos
indissociáveis entre liberdade, poder e política. A liberdade, em Sartre, é algo que
se confunde com o próprio ser humano; ele é livre e responsável pelo seu vir a ser.
Mas, como apontou Merleau-Ponty, isso acontece no corpo e por meio dele, assim
como no mundo e por meio das coisas e da sociedade. Tal realidade influencia o
poder de ser livre, traçando suas possibilidades e limites. Já Arendt nos demonstra
como se dá o vínculo entre a liberdade e a política, já que a política só teria sentido
como expressão da liberdade. As investigações de Foucault ressaltam que o poder
não se restringe ao Estado e que existem diversos poderes disciplinares, cujas
técnicas e saberes próprios induzem ou determinam comportamentos na família,
na escola, na empresa ou indústria, no hospital, na prisão etc.

		↪ Somos livres?

↑ Um carimbo de cancelado está sobre a frase “Siga seus sonhos” (em tradução do inglês). Grafite do artista
britânico Banksy, conhecido por produzir obras críticas à sociedade contemporânea. Até que ponto o ser
humano pode, nesta sociedade, realizar seus sonhos?

      Todas essas colocações nos estimulam a formular uma nova questão:
Somos livres na sociedade contemporânea? A política e as relações atuais de
poder favorecem ou impedem a nossa liberdade?

      Podemos responder a essa pergunta de várias maneiras, dependendo da
compreensão que temos da sociedade e do papel que desempenhamos nela.
Vamos fazer uma reflexão sobre esse tema dando continuidade ao pensamen-
to de Foucault, que identifica o surgimento de uma nova técnica de poder: o
biopoder. Esse conceito mostrou-se tão profícuo que inúmeros pensadores

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