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Leia agora dois textos de historiadores com                                         A mesma linha argumentativa de Fernando
interpretações diferentes sobre as razões para a                                    Novais é seguida pelo historiador Luiz Felipe de
substituição da escravidão indígena pela africana.                                  Alencastro. Ele afirma que o tráfico atlântico afri-
                                                                                    cano permitia que as engrenagens que movimen-
Escravidão indígena e africana                                                      tavam o sistema colonial continuassem a operar.
                                     Veja respostas e orientações                   Em outras palavras, o capital mercantil, a política
Texto 1                                 no Manual do Professor.                     fiscal da Coroa e a administração do reino português
                                                                                    dependiam diretamente do tráfico de escravizados.
“Os indígenas foram também utilizados em determi-                                   Alencastro, porém, não despreza a redução da ofer-
                                                                                    ta de indígenas como fator que interferiu na prefe-
nados momentos, e sobretudo na fase inicial [da colonização                         rência pelos africanos. Ele destaca que, ao contrário
                                                                                    do que ocorreu com os africanos, não havia uma
do Brasil]; nem se podia colocar problema nenhum de maior                           rede mercantil que alimentasse regularmente e em
                                                                                    larga escala a oferta de nativos para o trabalho.
ou melhor ‘aptidão’ ao trabalho escravo [...]. O que talvez
                                                                                          Apesar dessas diferenças de interpretação,
tenha importado é a rarefação demográfica dos aborígines,                           o fato é que, ao terminar a década de 1620, qua-
                                                                                    se a totalidade da mão de obra cativa utilizada
e as dificuldades de seu apresamento, transporte etc. Mas                           nos grandes engenhos nordestinos era de origem
                                                                                    africana. No decorrer desses vinte anos de tran-
na ‘preferência’ pelo africano revela-se, mais uma vez, a en-                       sição para a escravidão negra, verificou-se uma
                                                                                    significativa expansão das unidades produtivas de
grenagem do sistema mercantilista de colonização; [...] ora,                        açúcar, estimuladas pelos altos preços no mer-
                                                                                    cado internacional e pela crescente demanda do
o tráfico negreiro [...] abria um novo e importante setor do                        produto na Europa.

comércio colonial, enquanto o apresamento dos indígenas                              A PRODUÇÃO DE AÇÚCAR (SÉCULOS XVI-XVII)

era um negócio interno da colônia. [...] com os colonos em-

penhados nesse ‘gênero de vida’; a acumulação gerada no

comércio de africanos, entretanto, fluía para a metrópole [...].

Esse talvez seja o segredo da melhor ‘adaptação’ do negro à

lavoura [...] escravista. Paradoxalmente, é a partir do tráfico

negreiro que se pode entender a escravidão africana colonial,

e não o contrário.”

NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial.
                                          5. ed. São Paulo: Hucitec, 1989. p. 105.

Texto 2                                                                             Equador  Meridiano de Tordesilhas                                                                                                                            0°

       “A transição dos índios para os africanos como tra-                                                                                                                                                      ALLMAPSSão Luís
balhadores foi um elemento-chave da expansão da eco-
nomia açucareira brasileira no fim do século XVI. Com a                                                                                                                                                                                Natal
intensificação das exigências da agricultura açucareira em                                                                                                                                                                              Paraíba
meados da década de 1560, o trabalho do indígena já não                                                                                                                                                                                  Olinda
podia ser obtido por escambo. Além disso, as tentativas dos                                                                                                                                                                             Recife
portugueses de se apropriar de trabalhadores nativos pelo
resgate de prisioneiros de guerra, para em seguida mantê-                                                                                                                                                                          OCEANO
-los temporariamente como escravos, enfrentou crescente                                                                                                                                                                          ATLÂNTICO
oposição dos jesuítas [...].
                                                                                                                                                                                                                          Salvador
       A demografia também foi um fator decisivo na tran-
sição. A população indígena foi dizimada por doenças,                                                                                                                                                                  Ilhéus
primeiro a varíola, depois o sarampo, entre 1559 e 1563.                                                                                                                                                               Porto Seguro
Milhares morreram, aldeias inteiras foram abandonadas,
muitos fugiram para o interior, disseminando a doença.

       A transição de uma força de trabalho de indígenas para
outra predominantemente de africanos ocorreu lentamente
ao longo de um período de cerca de meio século.”

           SCHWARTZ, Stuart. O Nordeste açucareiro no Brasil colonial. In:
FRAGOSO, João Luis R.; GOUVÊA, Maria de Fátima (org.). O Brasil colonial.

          2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016. p. 364-365. v. 2.

1.	 Como o historiador Fernando Novais explica a substi-                                                            Vitória
    tuição da escravidão indígena pela africana? Qual é o                                                          Espírito Santo
    argumento principal apresentado por ele para defender
    essa tese?                                                                                                     Campos dos
                                                                                                                   Goytacazes
2.	 Que interpretação defende o historiador Stuart Schwartz                                  Santos                                                                                                                    Trópico de Capricórnio
    sobre o mesmo tema? Que evidências ele apresenta para                                                Rio de Janeiro
    sustentar sua posição?                                                          N
                                                                                               São Vicente
3.	 Qual explicação para a transição da escravidão indígena                         O L Itanhaém
    para a africana você considerou mais consistente? Por quê?
                                                                                            S
                                                                                    0 370 km

                                                                                             Século XVI                                                                                                                Século XVII

                                                                                    Fonte: Atlas histórico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro: FAE, 1991.
                                                                                                                                                p. 20 e 28.

128 UNIDADE 2: O MUNDO EM MOVIMENTO
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