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Os primeiros embates aconteceram em 1624, ↪ A Idade de Ouro do Brasil
quando os holandeses tentaram, sem sucesso, to- holandês
mar Salvador, a sede do governo-geral. Bem antes
desse ataque, na segunda metade do século XVI, os A dificuldade em vencer a resistência que vi-
holandeses já participavam da indústria açucareira, nha do interior obrigou os holandeses a estabele-
atuando principalmente no refinamento e na dis- cer acordos nas capitanias conquistadas, em que
tribuição do produto na Europa. Prova disso era a garantiam proteção aos negócios e à propriedade,
presença constante de navios de transporte holan- mantinham a carga de impostos, sem aumentá-la,
deses no Recife e em Salvador na última quinzena e concediam liberdade de pensamento e de culto
do século XVI. aos que decidissem residir no território conquistado.
Quando os holandeses atacaram Salvador, Esse pacto garantiu a permanência nos domínios
Portugal estava sob domínio espanhol, período co- da WIC não só do clero e dos colonos católicos, que não
nhecido como União Ibérica (1580-1640). O rei da precisavam temer a conversão forçada ao calvinismo,
Espanha, visando garantir o controle da capital da como de parte dos senhores de engenho, que foram be-
colônia, enviou uma poderosa esquadra para com- neficiados com créditos para comprar cativos e reerguer
bater os holandeses, que foram expulsos meses de- os engenhos destruídos pela guerra. O fim dos conflitos
pois. Em 1630, porém, dispondo de mais homens, inaugurou a Idade de Ouro do Brasil holandês.
armas e navios, a Companhia redirecionou o ata-
que a outro grande centro produtor de açúcar do A chegada do governador empossado pela WIC,
Nordeste, Pernambuco. As vilas de Recife e Olinda, João Maurício de Nassau-Siegen, no começo de
precariamente fortificadas, não resistiram e foram 1637, marcou o início desse período de prosperida-
tomadas pelos holandeses. de do domínio holandês no Brasil. Sob o comando
de Nassau, as fronteiras do Brasil holandês ainda
Após a conquista do Recife e de Olinda, a seriam alargadas na direção sul, com a expulsão
WIC empreendeu diversas campanhas ao norte dos portugueses para o sul do Rio São Francisco e
de Pernambuco, obtendo expressivas vitórias. A a incorporação de Sergipe, e na direção norte, com
Holanda anexou aos seus domínios as capitanias a incorporação do Ceará e do Maranhão.
do Rio Grande do Norte, Itamaracá e Paraíba.
Dessa maneira, a conquista do Nordeste pelos O sucesso da administração de Nassau ficou
holandeses só se consolidou por volta de 1635; evidente na produção de açúcar. Entre 1639 e 1644,
e mesmo assim ficou restrita ao litoral, enquan- o volume exportado do produto atingiu o pico, com
to vários pontos do interior permaneceram como cerca de 14.500 caixas sendo remetidas ao mercado
focos de resistência. europeu em 1641. Também se verificou um aumento
do número de cativos trazidos dos mercados afri-
O DOMÍNIO HOLANDÊS NO NORDESTE DO canos, que dobrou depois da conquista holandesa
de São Jorge da Mina e Angola.
BRASIL (SÉCULO XVII)
Não foi somente a prosperidade econômica,
50° O porém, que contribuiu para que os oito anos de go-
Rio São Fra verno de Maurício de Nassau sejam considerados
Equador 0° pelos historiadores como a Idade de Ouro do domí-
ALLMAPS nio holandês. A administração de Nassau também
São Luís (1641) promoveu melhorias urbanas e sanitárias que trans-
formaram Recife, elevada a capital de Pernambuco
Fortaleza (1637) durante a ocupação holandesa.
ncisco Natal (1634) Ruas e praças foram calçadas com tijolos e
Frederica (1634) proibiu-se nessas vias a circulação dos pesados
N Olinda (1630) carros de bois carregados de açúcar. Na Cidade
OL Recife (1630) Maurícia, erguida por ordens de Nassau em um
bairro do Recife, construíram-se ruas com traçado
S Penedo (1637) geométrico, canais por onde navegavam barcos e
0 300 km São Cristóvão (1637) canoas, praças e armazéns de mercadorias.
Salvador (1624-1625) Nassau também promoveu a vinda de cientis-
tas e artistas para o Nordeste. Entre os artistas,
OCEANO merecem especial destaque os pintores Frans Post
ATLÂNTICO e Albert Eckhout, que registraram em suas telas
a fauna e a flora de ambientes variados e os tipos
Domínio holandês humanos com os quais entraram em contato. Post
Fonte: ATLAS histórico escolar. Rio de Janeiro: FAE, 1980. p. 26. notabilizou-se pela série de paisagens que pintou
e que representam, segundo o historiador Ronaldo
Vainfas, “o contraste entre a natureza tropical e as
construções humanas”.
CAPÍTULO 10: OS PORTUGUESES NO BRASIL 133