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Como ressaltam os historiadores Flávio dos Santos Gomes e Lilia Schwarcz, esses africanos introduzidos no
país não eram escravos. Eram, antes, escravizados, uma vez que sua imigração não foi produto de uma opção ou
escolha pessoal, mas de ações e interesses de outros personagens. O caráter compulsório do regime escravista
alimentou, então, uma série de mecanismos de resistência da população cativa: fugas individuais, no campo e na
cidade; fugas coletivas e a posterior formação de quilombos; e rebeliões coletivas, mais comuns no século XIX,
época em que mais se traficaram africanos para o Brasil, cerca de 2 milhões entre 1801 e 1850.
↪ A resistência de Palmares
QUILOMBOS NO BRASIL (SÉCULOS XVII-XIX) ALLMAPS Os quilombos foram a forma mais organizada
de resistência à escravidão e existiram enquanto
50° O perdurou o escravismo no Brasil. O mais conhe-
cido deles foi o Quilombo de Palmares. Essa co-
Calçoene OCEANO munidade de negros fugitivos formou-se na Serra
ATLÂNTICO da Barriga, na capitania de Pernambuco, na última
década do século XVI. Os vários mocambos que
Equador 0° formavam a confederação de Palmares cresceram
enormemente no decorrer do século XVII e, em
Trombetas Turiaçu meados do século, já contavam com milhares de
São Luís escravizados fugidos.
Belém
No quilombo, eles praticavam a caça, a coleta
Gurupi Preto Cosme e a pesca, confeccionavam, segundo alguns auto-
res, artefatos de ferro e cultivavam milho, feijão,
Alcobaça mandioca, entre outros produtos, os quais co-
merciavam com as populações vizinhas em troca
Recife de armas e munições. Palmares resistiu a várias
investidas de tropas oficiais. O quilombo só foi
Xique-Xique Palmares destruído em 1694 por uma expedição comanda-
da pelo paulista Domingos Jorge Velho. Zumbi, o
Carlota Andaraí Salvador último líder de Palmares, foi capturado e morto
(ou Piolho) Calunga Jaguaribe no ano seguinte.
Paraopeba Oitizeiro
OCEANO Campo Caetê
PACÍFICO Grande
Trópico de Capricórnio Bambui Ambrósio
N Baependi Rio de Janeiro
São Paulo Jabaquara
OL Quilombos dos Palmares
Outros quilombos
S Limites atuais
0 585 km
Fonte: BRASIL 500 anos: atlas histórico. São Paulo: Três, 1998. p. 21.
Mocambo: núcleo de povoamento em REPRODUÇÃO/MAPOTECA, BIBLIOTECA DE STANFORD, CALIFÓRNIA, EUA
que se dividia cada quilombo.
← Detalhe do
mapa Praefecturae
Paranambucae pars
Meridionalis, de
Joan Blaeu e Georg
Marcgraf. Não há
imagens da época
representando a
confederação de
Palmares. O detalhe
desse mapa ilustra o
trabalho coletivo, que
era comum nessas
comunidades.
A existência de uma estrutura produtiva e comercial significativa refuta
uma ideia popularmente difundida de que as comunidades quilombolas viviam
isoladas das atividades socioeconômicas da colônia. Pelo contrário, como ar-
gumenta Flávio dos Santos Gomes, essas comunidades só cresceram e tiveram
vida longa no Brasil porque conseguiram estabelecer relações com as regiões
que as circundavam, realizando trocas econômicas.
CAPÍTULO 10: OS PORTUGUESES NO BRASIL 131