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Monção: vento típico do Sudeste O darwinismo social, formulado pelo sociólogo britânico Herbert Spencer,
Asiático e do Oceano Índico, derivado significou a aplicação da teoria da evolução às sociedades humanas. Porém,
das diferenças de temperatura e de essa interpretação foi um grande equívoco, uma apropriação indevida da teoria
pressão atmosférica, que tende a gerar de Darwin e Wallace. Os dois pesquisadores, ao elaborar a teoria da seleção
chuvas intensas em algumas partes do natural, jamais aplicaram um julgamento de valor ao conceito de evolução, de
ano e, em outras, secas prolongadas. que haveria espécies superiores e espécies inferiores. Evolução significava sim-
plesmente mudança, não importando se para melhor ou para pior.
Pseudociência: refere-se à ideia ou
teoria que se diz baseada em fatos As ideias do darwinismo social foram amplamente difundidas nos meios
científicos, mas cujos métodos de políticos e intelectuais europeus. O entendimento de que existiriam socieda-
investigação não podem ser validados. des mais ou menos aptas ao desenvolvimento social, político, econômico e
cultural era um importante argumento para legitimar as ações imperialistas
Raça: conceito construído para legiti- nos territórios conquistados. Um exemplo da forma como esse entendi-
mar e naturalizar a dominação colonial, mento foi absorvido pelos governos imperiais pôde ser visto na atitude que
pautado na noção da superioridade adotaram durante a Grande Fome que assolou a Índia nos períodos de 1876
dos colonizadores perante os povos a 1878 e 1896 a 1902.
colonizados. Muito questionado ao
longo do século XX, o conceito perdeu A economia indiana tradicionalmente dependia do regime de monções para
sua dimensão biológica e passou a ser garantir o plantio e o sustento das populações. Apesar de a seca não ser uma
usado como representação de práti- novidade no território, a população conseguia se organizar e estocar alimentos
cas e atos de preconceito e segregação para garantir a sobrevivência durante o período de estiagem. No entanto, com a
contra grupos específicos. implementação da política colonial, a maior parte do alimento produzido nesses
territórios passou a ser armazenada e enviada para a metrópole britânica. A
combinação da política agrícola do colonizador com as dificuldades climáticas
causou a morte de aproximadamente 5,5 milhões de pessoas.
↪ O racismo científico
Nesse mesmo período, teorias raciais pretensamente científicas começaram
a ser desenvolvidas na Europa. Essas teorias partiam do entendimento de que
as habilidades, a pobreza, os talentos intelectuais e os comportamentos eram
elementos transmitidos hereditariamente de uma geração a outra. As diferenças
físicas e culturais entre os povos eram explicadas com base na biologia com
o objetivo de justificar cientificamente as políticas de extermínio e dominação
europeia sobre os povos conquistados.
Adotando como parâmetro características físicas dos indivíduos, como a
cor da pele e o tamanho do crânio, popularizou-se a ideia de que existiriam três
raças distintas: os brancos, os negros e os amarelos. Todos os demais grupos
existentes seriam derivações dessas três categorias. Nessa lógica, os brancos
figuravam como os mais evoluídos, o que justificava a imposição de seu domínio
sobre os demais.
A crença na superioridade branca foi usada pelos europeus para escravizar
e dominar os povos conquistados, vistos como inferiores e inaptos para a evo-
lução. Essa crença influenciou a criação de políticas eugênicas, que geraram
consequências profundas em muitos países, como Índia, Austrália e Brasil. A
eugenia, uma das pseudociências mais populares do período, foi desenvolvida
pelo cientista britânico Francis Galton, em 1883, e se baseava na possibilidade
de melhoramento genético da população. Partindo da ideia de que as capacida-
des humanas eram hereditárias, Galton propunha selecionar os indivíduos mais
aptos com a finalidade de purificar a espécie humana.
No Brasil, as doutrinas raciais fizeram muito sucesso entre médicos, inte-
lectuais, juristas e sanitaristas da segunda metade do século XIX e início do XX.
A ideologia do branqueamento da população chegou aos parlamentares, que
introduziram, na Constituição de 1934, o Art. 138, que estabelecia a educação
eugênica como necessária para o desenvolvimento do país.
CAPÍTULO 18: A EXPANSÃO IMPERIALISTA NO SÉCULO XIX: ETNOCENTRISMO, RACISMO E DARWINISMO SOCIAL 223