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↪	 O governo João Goulart: as reformas de base                                                                                   C. BOSCO/ACERVO UH/FOLHAPRESS

                                                     A solução, no entanto, apenas adiou o golpe contra o governo de Jango e
                                               seu projeto político. A oposição conservadora e liberal temia que uma liderança
                                               varguista no governo servisse de incentivo à mobilização popular pela ampliação
                                               da justiça social no Brasil. Sabendo disso, João Goulart procurou fortalecer o
                                               apoio dos trabalhadores e dos movimentos sociais a seu governo e, em maio
                                               de 1962, anunciou as reformas de base. A popularidade do presidente aumen-
                                               tou e, em janeiro do ano seguinte, se refletiu nas urnas, com um plebiscito que
                                               restabeleceu o presidencialismo no Brasil.

                                                     Com a vitória da frente trabalhista no plebiscito e nas eleições legislativas,
                                               o governo ganhou força para acelerar no Congresso as negociações para aprovar
                                               as reformas de base: agrária, bancária, eleitoral e tributária, além do controle
                                               da remessa de lucros das empresas multinacionais para o exterior. A reforma
                                               agrária, tida como a mais importante da agenda reformista do governo, dominou
                                               a pauta do Congresso durante todo o ano de 1963. Mesmo sem questionar a
                                               propriedade privada e o lucro, bases do sistema capitalista, a pauta reformista
                                               do governo polarizou o Congresso e a sociedade brasileira.

                                                     Dois agentes centrais do movimento antigovernista foram o Instituto
                                               Brasileiro de Ação Democrática (Ibad) e, principalmente, o Instituto de Pesquisa
                                               e Estudos Sociais (Ipes). No comando dessas organizações, estavam represen-
                                               tantes do capital multinacional, proprietários e diretores de grandes corporações
                                               empresariais e oficiais formados pela Escola Superior de Guerra, com destaque
                                               para o general Golbery do Couto e Silva. Financiada pela Agência Central de
                                               Inteligência dos Estados Unidos (CIA), essa elite militante da classe empresarial
                                               mobilizou-se para articular uma frente conservadora de ataques ao governo e
                                               ao fantasma do comunismo. A adesão da classe média à campanha ideológica
                                               difundida pelos dois institutos foi decisiva para a deposição de Jango.

                                  	↪	 A polarização política toma as ruas do Brasil

                                                     A partir do início de 1964, a batalha entre os apoiadores e os adversários
                                               das reformas de base deixou o terreno das instituições e ocupou as ruas, trans-
                                               formadas no principal palco da polarização política no país. A esquerda, com o
                                               apoio da máquina governamental, adotou a estratégia de realizar grandes comí-
                                               cios e conclamar o povo a pressionar o Congresso pela aprovação das reformas.
                                               O marco dessa campanha de massas foi o Comício da Central do Brasil, no Rio
                                               de Janeiro, em que João Goulart defendeu a importância das reformas de base
                                               para o desenvolvimento econômico e social do Brasil.

                                                        ↑ Em 13 de março de 1964, inúmeros sindicatos e trabalhadores compareceram ao terminal ferroviário da
                                                        Central do Brasil, no Rio de Janeiro, para participar do comício de João Goulart. Na imagem, manifestantes
                                                        empunham cartazes e faixas em defesa das reformas de base anunciadas por Jango.

348 UNIDADE 5: O MUNDO EM CONFLITOS
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