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“A democracia que eles desejam impingir-nos é a de- outra reação. Cinco dias depois, cerca de 2 mil ma-
mocracia antipovo, do antissindicato, da antirreforma, ou rinheiros se rebelaram no Rio de Janeiro em apoio
seja, aquela que melhor atende aos interesses dos grupos às reformas de base e por melhores condições de
a que eles servem ou representam. A democracia que eles trabalho. A posição hesitante de Jango em punir
querem é a democracia para liquidar com a Petrobras; a os rebeldes incomodou as Forças Armadas e au-
democracia dos monopólios privados, nacionais e interna- mentou os rumores de que o presidente agia para
cionais, é a democracia que luta contra os governos populares dividir a instituição.
[...]. Estaríamos, sim, ameaçando o regime se nos mostrás-
semos surdos aos reclamos da Nação, que de norte a sul, de O golpe vinha sendo anunciado ou desejado
leste a oeste levanta o seu grande clamor pelas reformas de desde pelo menos a volta do sistema presiden-
estrutura, sobretudo pela reforma agrária, que será como cialista. A intenção passou à execução no início
complemento da abolição do cativeiro para dezenas de mi- de 1964. O plano, liderado por Castelo Branco, foi
lhões de brasileiros que vegetam no interior, em revoltantes articulado com o conhecimento e a colaboração
condições de miséria.” do governo dos Estados Unidos, representado por
Lincoln Gordon, chefe da embaixada estadunidense
GOULART, João. Discurso proferido no comício da Central do Brasil, em no Brasil. O apoio dos Estados Unidos ao movimento
13 de março de 1964. Disponível em: http://www.historia.seed.pr.gov.br/ golpista também foi feito com a concessão de em-
préstimos financeiros os governadores de São Paulo,
modules/noticias/print.php?storyid=166. Acesso em: 31 ago. 2024. Guanabara e Minas Gerais, principais representantes
da oposição a Jango.
↪ O golpe civil-militar
FOLHAPRESS
O Comício da Central do Brasil alarmou as AFP
elites empresariais, a Igreja Católica e os setores
conservadores, preocupados com a eclosão de
um processo revolucionário seguido da instala-
ção de uma república sindicalista-comunista no
país. Assim, no dia 19 de março, uma multidão
tomou as ruas do centro da cidade de São Paulo
com cartazes antirreformistas, anticomunistas e
antigovernistas. Liderado por entidades religiosas
e civis conservadoras, o evento na capital paulis-
ta inaugurou a Marcha da Família com Deus pela
Liberdade, uma série de manifestações realizadas
no Brasil em defesa dos valores cristãos e contra
a ameaça comunista.
↑ A marcha da família, realizada em diversas cidades brasileiras, atuou ↑ No dia 1º de abril de 1964, tropas do exército tomaram as ruas de
como uma das principais forças de oposição às reformas e ao governo vários pontos estratégicos da cidade do Rio de Janeiro. Na imagem, um
de Jango. Na imagem, mulheres carregam faixas no ato ocorrido no tanque faz a guarda do Palácio da Guanabara, sede oficial do governo
centro de São Paulo em 19 de março de 1964. do estado do Rio de Janeiro.
A turbulência que marcou o mês de março No dia 30 de março, a presença de Jango em
atingiu os quartéis. Na circular de 20 de março uma reunião de sargentos e suboficiais da Polícia
de 1964, o general Humberto de Alencar Castelo Militar, que reivindicavam direitos para a categoria,
Branco alertou sobre o perigo do comunismo, em foi considerada uma violação da hierarquia militar.
marcha no Brasil, e deu os primeiros sinais para No dia 31, o general Olímpio Mourão Filho iniciou a
o golpe. Os militares subalternos, porém, tiveram mobilização das tropas sediadas em Juiz de Fora,
Minas Gerais, para derrubar o governo. No dia 1º de
abril, a rebelião militar se ampliou no país, enquanto
João Goulart se refugiava no Rio Grande do Sul. No
dia seguinte, o golpe civil-militar foi consumado no
Congresso Nacional, que declarou vago o cargo de
presidente da república. Algumas horas depois, os
Estados Unidos reconheceram como legítimo o gol-
pe, que inaugurou um dos períodos mais sombrios
da história do Brasil.
CAPÍTULO 29: DITADURA E REVOLUÇÃO NA AMÉRICA LATINA 349