Page 32 - PNLD 2026 - SOCIOLOGIA
P. 32
muitos fazem uso desmedido dos esteroides. Tudo isso, sem o descanso necessário, faz com
que o corpo passe a dar sinais de esgotamento – comenta Andreia.
[...]”
MARIGLIANI, Ana. Vigorexia: o que é, causas, sintomas e riscos da obsessão por músculos. Eu atleta, 2 jun. 2023.
Disponível em: https://ge.globo.com/eu-atleta/saude-mental/reportagem/2023/06/02/c-vigorexia-o-que-e-causas-
sintomas-e-riscos-da-obsessao-por-musculos.ghtml. Acesso em: 13 jul. 2024.
1. Como você acha que as pressões da sociedade podem contribuir para o tipo de distúrbio
analisado na matéria?
2. Com base no que você já aprendeu sobre a sociologia de Durkheim, você conseguiria dizer
se esse culto ao corpo também seria um fato social? Justifique.
O antropólogo francês David Le Breton (1953-), no livro intitulado Adeus ao
corpo, defende que, paradoxalmente, a perseguição a um corpo ideal revela,
na verdade, um desapego do mundo ocidental contemporâneo ao corpo. Ele
é tido cada vez mais como elemento acessório, dispensável, superável e, por
isso, sujeito a manipulações que podem trazer riscos à integridade física das
pessoas, degradando, assim, o corpo que se queria belo. Por “degradar o corpo”,
o autor refere-se às cirurgias plásticas e ao uso de substâncias nocivas, para
emagrecer ou aumentar a massa muscular. Essa é uma reflexão fundamental,
pois o cuidado com o corpo é muito importante. Ele é um instrumento que nos
permite a apreensão das realidades culturais diversas, o corpo apreende e é
apreendido pela realidade.
“O corpo é o fundamento de nossa experiência no mundo, dimensão mesma do nosso ser.
No domínio da experiência, constitui o ponto de vista pelo qual nos inserimos no mundo. É a
partir da perspectiva que o corpo nos fornece que nos orientamos no espaço (ou melhor, que
somos no espaço) e apreendemos e manipulamos os objetos. Enquanto centro de instrumenta-
lidade, o corpo não tem o mesmo status que os demais objetos que percebemos e empregamos
na lida cotidiana; ele se confunde com o nosso próprio ser.”
RABELO, Miriam; ALVES, Paulo César. Corpo, experiência e cultura. In: LEIBING, A. (org.). Tecnologias do corpo: uma
antropologia das medicinas no Brasil. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2004.
Porém, o corpo não é só um instrumento. Ele é também o modo como
nos apresentamos no mundo em que vivemos. É um objeto privilegiado para
a Sociologia, pois nos permite compreender como o social afeta os seres hu-
manos em sua dimensão mais individual e mesmo biológica. Porque o corpo
é ao mesmo tempo cultural e natural. Nele estão todas nossas necessidades
naturais e herança genética, porém ele carrega também inscritas as marcas de
nossa sociedade, expressas no modo como falamos, andamos, gesticulamos, nos
vestimos, nos adornamos; enfim, no modo pelo qual utilizamos o corpo como
instrumento de nossas atividades cotidianas. Em outras palavras, por meio do
corpo e dos diferentes usos que fazemos dele, percebemos, ao mesmo tempo,
comportamentos comuns a todos os outros animais, como comer e dormir,
mas também marcas do social e da cultura, que nos transformam em seres
humanos, que demonstram nossa humanidade.
↪ Corpo, gênero e sexualidade
Homens e mulheres têm corpos diferentes e, muitas vezes, adotam ma-
neiras diferentes de lidar com seus corpos. Porém, isso não quer dizer que eles
tenham de se comportar de modo diferente o tempo todo nem que esse com-
portamento diferenciado tenha origens somente naturais. Assim, as posturas
de homens e mulheres não são fixas, imutáveis. Ou seja, não se pode dizer que
há um modo próprio de as pessoas naturalmente se portarem, conforme o
sexo delas. Em muitos casos, homens podem executar tarefas tradicionalmente
executadas por mulheres e vice-versa. Importante então compreender que, de
uma perspectiva sociológica, até mesmo o que se define como uma atividade
feminina ou masculina são regras construídas socialmente sobre como cada
sexo deve se portar. DOC. 1
30 UNIDADE 1: O MUNDO EM EXPANSÃO