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Veja respostas e orientações O ecletismo espiritualista era marcado por fragilidades teóricas e por falta
no Manual do Professor. de rigor, mas essa corrente ocupou o lugar de filosofia oficial durante o Segundo
Reinado. Foi somente no fim do século XIX que o ecletismo, junto da filosofia
QUESTÃO de cunho católico, sofreu forte oposição.
• A relação entre razão e ↪ A tendência cientificista e pseudocientificista
fé, filosofia e religião, é
controversa. A filosofia Na segunda metade do século XIX, mudanças anunciavam o fim da relativa
caracteriza-se pela pro- hegemonia do ecletismo espiritualista no campo da filosofia. Nesse período,
cura racional da verdade, os intelectuais brasileiros se abriram a toda sorte de teorias que podiam ser
enquanto a religião parte utilizadas contra a monarquia e que estariam presentes entre muitos republi-
da fé de que a verdade canos. A citação do filósofo e escritor brasileiro Silvio Romero (1851-1914) pode
já foi revelada por Deus. nos ajudar a compreender aquelas mudanças.
Considerando esse dilema,
elabore dois parágrafos “O distinto franciscano distava imensamente dessa altura [do gênio]; prova-o o seu desditoso
sobre o assunto: um, Compêndio, onde manifesta-se escravo submisso das vulgaridades e ridicularias da filosofia de
distinguindo a filosofia seu tempo entre nós. [...] Já Kant, Hegel, Schopenhauer, para não falar de outros, na Alemanha
da religião; o outro, es- [...] e o próprio Comte, na França [...] haviam revirado o terreno das velhas ideias em todos os
tabelecendo aproximações sentidos [...]. Alverne não entreviu, não cismou, ao menos, em tais sucessos [...].”
entre as duas.
ROMERO, Silvio. A filosofia no Brasil. Porto Alegre: Tipografia da Deutsche Zeitung, 1878. p. 4-5.
Foi assim que Silvio Romero se posicionou em relação à obra de Monte Alverne.
Suas palavras expressavam o que muitos intelectuais sentiam naquele período: a
veemente oposição ao ecletismo espiritualista e a saudação a novas ideias que
vinham, principalmente, da França, da Alemanha e da Inglaterra.
As leis de desenvolvimento da humanidade
Entre os intelectuais brasileiros que questionaram a monarquia, dissemi-
nou-se a ideia de que o conhecimento científico seria o único capaz de trazer
progresso e evolução para o país e para a sociedade brasileira. Nesse âmbito,
correntes como o positivismo, o materialismo, o darwinismo e o evolucionismo
passaram a ser alvo de atenção dos pensadores nacionais.
Fazia parte desse cientificismo a ideia de que o mesmo determinismo que
existe na natureza – e que pode ser verificado com a descoberta das leis na-
turais – estaria presente no desenvolvimento da humanidade. A humanidade
passaria por etapas determinadas: os países, embora em ritmos diferentes,
percorreriam os mesmos estágios. Caberia então, como nas ciências naturais,
descobrir as leis que, invariavelmente, regiam o desenvolvimento da sociedade.
O estudo, a ciência e a razão poderiam abrir novas perspectivas para a nação. O
positivismo social, mais do que as outras correntes, ia ao encontro dos anseios
de boa parte da intelectualidade, o que talvez explique sua influência na época.
O positivismo
O filósofo francês Auguste Comte (1798-1857), considerado o “pai” da so-
ciologia, chamou inicialmente essa nova ciência de Física Social, manifestando
sua tentativa de transpor o método e o determinismo das ciências naturais para
as ciências sociais. Os estudos dos fenômenos sociais deveriam ser considera-
dos da mesma maneira que aqueles realizados no campo da física, química ou
astronomia, baseando-se na observação e na experimentação. Os dados reais
obtidos por meio dessas investigações seriam ordenados e classificados de
acordo com a linguagem matemática.
O tratamento metodológico entre as ciências da natureza e a sociologia
era semelhante, mas haveria algo peculiar à ciência que estuda a sociedade: o
tratamento histórico. Os fatos sociais não podiam ser considerados de manei-
ra isolada, seja porque eles só faziam sentido a partir de sua vinculação com
outros, permitindo compor uma teoria explicativa, seja porque eles não eram
vistos como episódios soltos, uma vez que formavam, conjuntamente, uma
linha evolutiva da humanidade. Conhecendo-se essa linha evolutiva, por meio
da observação e do método histórico, poder-se-ia prever o futuro e ajustar o
presente, estabelecendo uma ordem diante do progresso.
CAPÍTULO 11: FILOSOFIA BRASILEIRA: SABERES E PENSAMENTOS 125