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Intempérie: irregularidade ou pertur-  		↪ Schelling e o Absoluto
bação do clima como, por exemplo,
uma tempestade.                              “O mundo infinito não é mais do que o nosso espírito criador, nas suas in-
                                       finitas produções e reproduções”, afirmou o filósofo alemão Friedrich Schelling
                                       (1775-1854), que partiu da filosofia de Fichte para criar um idealismo próprio.
                                       Assim como Fichte, Schelling tinha como centro de sua filosofia o princípio do
                                       infinito ou da atividade infinita. No entanto, ele formulou um idealismo que
                                       superava o idealismo subjetivo de Fichte.

                                             Schelling entendia que a posição de Fichte, ao acentuar o papel absoluto
                                       da atividade da razão ou do sujeito (Eu Absoluto), conferia à natureza um lugar
                                       secundário ou de mera ilusão, destituída de autonomia e de realidade. Schelling
                                       acreditava que, além de justificar a atividade infinita da razão ou do eu, era
                                       preciso justificar a atividade infinita da natureza, e estabelecer a relação entre
                                       os dois.

                                                  “Assim como o sol se ergue livremente no firmamento, enlaçado e unindo tudo com a
                                           força de sua clara luz, assim também o ânimo da eterna natureza [...] se ergue livre e desatado,
                                           como a fonte concentrada de toda a existência sensível [...]”.

                                                  SCHELLING, Friedrich W. J. Aforismo sobre filosofia da natureza. Aforismo XXIV. In: Aforismo para introdução à
                                                       filosofia da natureza e aforismo sobre a filosofia da natureza. Rio de Janeiro: PUC-Rio: Loyola, 2010. p. 115.

                                             Isto é, para o filósofo, existia um princípio infinito mais profundo do que o
                                       Eu Absoluto de Fichte. Um princípio que abarcava tanto a atividade da razão
                                       ou da consciência quanto a atividade da natureza. Que abarcava tanto o sujeito
                                       quanto o objeto, tanto o espírito quanto a natureza.

                                             O absoluto de Schelling era, por um lado, o princípio da atividade consciente
                                       do espírito, ou seja, do conhecimento, e, por outro, da atividade inconsciente,
                                       que produz a natureza.

                                             Por meio desse entendimento, Schelling procurou investigar a natureza
                                       instituindo uma filosofia da natureza, e o espírito, desenvolvendo uma filosofia
                                       transcendental. Ambas as investigações tratavam de aspectos de uma mes-
                                       ma unidade, o absoluto, e de manifestações do princípio explicativo de toda a
                                       realidade.

                                                                                                                                                                        LARISSA CHILANTI/SHUTTERSTOCK

                                                       ↑ Vista do Morro Pai Inácio, na Chapada Diamantina, Bahia, 2011. Para Schelling, a natureza é espírito visível,
                                                       momento do absoluto.

                                  	↪	 Hegel e a marcha do espírito

                                                     Você já ouviu falar na obra Odisseia, de Homero? Trata-se de um poema
                                               épico sobre as peripécias e adversidades vividas pelo protagonista Odisseu
                                               (Ulisses), rei de Ítaca, em sua viagem de volta para casa depois de lutar na
                                               Guerra de Troia. Durante dez anos, Odisseu enfrentou todo tipo de obstáculos
                                               – monstros, fúria de deuses, intempéries –, mas não desistiu de seu propósito:
                                               retomar seu reino e seu lugar ao lado de sua esposa, Penélope. Todas as difi-
                                               culdades só valorizaram a conquista de seu objetivo.

192 UNIDADE 3:O MUNDO QUE CONHECEMOS
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