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Falácia da pergunta complexa
Imagine que um professor fizesse a seguinte pergunta, pedindo que
a resposta fosse dada com “sim” ou “não”: “Você continua colando nas
provas?”. Você ficaria em uma situação difícil, porque, mesmo que disses-
se “não”, já teria se comprometido com a ideia de que antes você colava.
Trata-se de uma falácia comumente utilizada em um diálogo: a da pergunta
complexa. Apresenta-se uma questão como se fosse única ou simples, mas
que, no entanto, carrega mais de uma pergunta ou afirmação e cuja resposta,
qualquer que seja, compromete o interlocutor.
Por exemplo, uma pessoa que responda à pergunta “Você ainda é tão
mesquinho quanto antes?” se comprometerá, pois se disser “sim”, admite
que continua mesquinho; se disser “não”, admite que foi mesquinho e agora
não é mais.
Em casos como esses, o melhor a fazer é explicitar a complexidade da
pergunta, analisando-a. Na pergunta “Você continua colando nas provas?”,
está implícita a afirmação de que você colou no passado. Então, a respos-
ta não pode ser dada com um simples “sim” ou “não”. Para que não haja
dúvida e comprometimento, a resposta teria de ser, por exemplo: “Nunca
colei e não colo agora”. Da mesma maneira, a pergunta “Você ainda é tão
mesquinho quanto antes?” une duas coisas diferentes: a afirmação de que
você era mesquinho com a pergunta se você é mesquinho; e ambas têm de
ser negadas. Veja respostas e orientações
no Manual do Professor.
EXERCITAR A ARGUMENTAÇÃO
1. Analise as perguntas a seguir, indicando por que elas podem ser consideradas falaciosas.
a) Em vez de ser egoísta, você seguirá sua consciência e fará uma doação para os ne-
cessitados?
b) Você parou de bater em seu irmão?
2. Analise o diálogo, considerando a noção de falácia da pergunta complexa.
“P: Por quanto tempo você pretende condenar esta empresa a um prejuízo contínuo
recusando-se teimosamente a mudar suas políticas desastrosas?
R: Eu não aceito, nem por um momento, seu pressuposto de que minhas políticas
sejam desastrosas ou de que eu tenha sido teimoso.
P: Você não respondeu à pergunta! Isso é típico de suas táticas evasivas.”
WALTON, Douglas N. Lógica informal. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012. p. 53.
CAPÍTULO 16: O IDEALISMO ALEMÃO: A ATIVIDADE DO ESPÍRITO 197