Page 199 - PNLD 2026 - FILOSOFIA
P. 199

Falácia da pergunta complexa

      Imagine que um professor fizesse a seguinte pergunta, pedindo que
a resposta fosse dada com “sim” ou “não”: “Você continua colando nas
provas?”. Você ficaria em uma situação difícil, porque, mesmo que disses-
se “não”, já teria se comprometido com a ideia de que antes você colava.
Trata-se de uma falácia comumente utilizada em um diálogo: a da pergunta
complexa. Apresenta-se uma questão como se fosse única ou simples, mas
que, no entanto, carrega mais de uma pergunta ou afirmação e cuja resposta,
qualquer que seja, compromete o interlocutor.

      Por exemplo, uma pessoa que responda à pergunta “Você ainda é tão
mesquinho quanto antes?” se comprometerá, pois se disser “sim”, admite
que continua mesquinho; se disser “não”, admite que foi mesquinho e agora
não é mais.

Em casos como esses, o melhor a fazer é explicitar a complexidade da

pergunta, analisando-a. Na pergunta “Você continua colando nas provas?”,

está implícita a afirmação de que você colou no passado. Então, a respos-

ta não pode ser dada com um simples “sim” ou “não”. Para que não haja

dúvida e comprometimento, a resposta teria de ser, por exemplo: “Nunca

colei e não colo agora”. Da mesma maneira, a pergunta “Você ainda é tão

mesquinho quanto antes?” une duas coisas diferentes: a afirmação de que

você era mesquinho com a pergunta se você é mesquinho; e ambas têm de

ser negadas.               Veja respostas e orientações

                           no Manual do Professor.

EXERCITAR A ARGUMENTAÇÃO	

1.	 Analise as perguntas a seguir, indicando por que elas podem ser consideradas falaciosas.
    a)	Em vez de ser egoísta, você seguirá sua consciência e fará uma doação para os ne-
        cessitados?
    b)	Você parou de bater em seu irmão?

2.	 Analise o diálogo, considerando a noção de falácia da pergunta complexa.

       “P: Por quanto tempo você pretende condenar esta empresa a um prejuízo contínuo
recusando-se teimosamente a mudar suas políticas desastrosas?

       R: Eu não aceito, nem por um momento, seu pressuposto de que minhas políticas
sejam desastrosas ou de que eu tenha sido teimoso.

       P: Você não respondeu à pergunta! Isso é típico de suas táticas evasivas.”

                                 WALTON, Douglas N. Lógica informal. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012. p. 53.

                           CAPÍTULO 16:  O IDEALISMO ALEMÃO: A ATIVIDADE DO ESPÍRITO 197
   194   195   196   197   198   199   200   201   202   203   204