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Podemos fazer uma analogia dessa narrativa de Homero com o argumento                                                             FOTOKON/SHUTTERSTOCK/MUSEU NACIONAL DO BARDO, TUNISIA
central do pensamento do filósofo alemão Georg Friedrich Hegel (1770-1831),
exposto em sua obra Fenomenologia do espírito. Nesse livro, considerado o
ponto culminante do idealismo alemão, Hegel trata do percurso do Espírito
Absoluto em direção à sua própria realização. Isto é, o Espírito Absoluto ou
Razão Absoluta, para Hegel, não era algo acabado, fixo e imutável; antes de tudo,
era um processo, uma atividade que passava por altos e baixos, por afirmações
e negações, por contradições, que seguia em frente em marcha irregular, porém
progressiva. A Fenomenologia do espírito era a odisseia do espírito rumo à sua
afirmação.

      Mas o que significava dizer que o espírito marchava para sua realização?
Analisemos com mais detalhes o sistema idealista de Hegel, que buscava abarcar
a totalidade do real mantendo coerência entre todas as suas partes.

                                  Homero e a Guerra de Troia
        Ilíada e Odisseia são dois poemas épicos gregos atribuídos a Homero.
  O primeiro trata da Guerra de Troia, e o segundo, do retorno para casa do
  herói grego Odisseu, rei de Ítaca, após a derrota dos troianos.
        As duas obras são fontes históricas que elucidam um conjunto de tradi-
  ções e de costumes da Grécia antiga. Homero teria vivido no século IX a.C.,
  cerca de três séculos após o fim da guerra. Mas essas datas são controver-
  sas entre os historiadores.

   ↑ Odisseu (Ulisses) amarrado ao mastro do navio para não sucumbir ao canto das sereias, passagem da
   Odisseia representada em mosaico romano do século III.

O progresso da consciência

      Assim como seus antecessores românticos, Hegel tomava como preocu-
pação de sua filosofia a relação entre o infinito e o finito, ou a relação entre
o absoluto (espírito) e a realidade (natureza). Como Schelling, Hegel também
postulava a ideia de que existe uma unidade entre as manifestações do conhe-
cimento e da natureza.

      Mas Hegel, ao contrário de Schelling, partia do conhecimento parcial da
consciência comum para demonstrar como a consciência chega a um conheci-
mento total ou absoluto, que é o conhecimento de si mesma. Quer dizer, para
Hegel, as experiências que o sujeito comum desenvolvia eram manifestações
inconscientes de um ordenamento racional do Universo.

      Segundo o filósofo, para a consciência do ser humano comum, o saber fe-
nomênico, isto é, o saber das representações, é provocado por objetos externos
ao ser humano. Assim, o sujeito do conhecimento e o objeto do conhecimento
seriam duas coisas distintas. O sujeito e o objeto se contraporiam.

                                                                           CAPÍTULO 16: O IDEALISMO ALEMÃO: A ATIVIDADE DO ESPÍRITO 193
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