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do júri resolveram condená-lo porque são todas ignorantes e                   sociedade pode ser responsável pelas mazelas do ser humano,
       não sabem o que fazem”. Busca-se, nesse caso, desautori-                      no entanto, seria também responsável, em grande parte, pelo
       zar a posição do júri atacando as pessoas, chamando-as de                     ser que é, ou seja, por suas qualidades. Nesse aspecto, não
       ignorantes. O argumento falacioso não trata do conteúdo do                    parece um caminho esclarecedor a contraposição entre ser
       julgamento, analisando os possíveis erros que levaram a uma                   humano natural bom e ser humano social mau. Por outro lado,
       conclusão equivocada, mas busca apoio para sua conclusão,                     o aluno pode concordar com Rousseau que o afastamento da
       ofendendo as pessoas do júri.                                                 simplicidade da natureza leva o homem à perda do que tem
                                                                                     de melhor, à perda de liberdade, ao seu aviltamento moral e
       A última falácia de relevância é do tipo de apelo à força. O juiz             à infelicidade. Qualquer que seja a posição defendida, o aluno
       teria de prescrever uma pena curta. Por quê? Porque senão ele                 deve fundamentá-la argumentativamente.
       não sairia ileso do tribunal. Trata-se de uma ameaça, isto é, o juiz      7)	 A liberdade absoluta consiste em fazer o que se quer, indepen-
       teria que concordar em estabelecer uma pena de poucos anos                    dente das leis; mas quando essa ação fere as leis estabelecidas,
       de prisão não porque seria o mais coerente com os fatos em jul-               ela inviabiliza a vida em sociedade, pois, se todos tivessem
       gamento, mas porque, se não o fizesse, sofreria consequências.                esse poder, ninguém poderia viver tranquilamente; a vida e a
                                                                                     liberdade de cada um estariam constantemente ameaçadas;
LABORATÓRIO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS (P. 189)                         sem garantia de nenhum direito. Já a liberdade política de um
  1)	 Para Locke, uma sociedade política só é constituída quando um                  cidadão implica a possibilidade de fazer tudo o que as leis fa-
       grupo de pessoas renuncia ao poder de executar a lei da natu-                 cultam ou em fazer tudo o que as leis não proíbem. A liberdade
       reza, e o transfere à sociedade recém-formada. Tal sociedade                  política é, ao mesmo tempo, produto e justificativa da sociedade.
       tem seu funcionamento baseado na elaboração de leis comuns                8)	 Resposta pessoal. A relação ou o conflito entre a sociedade e
       a todos seus participantes. A renúncia e a subordinação con-                  o indivíduo é um tema histórico bastante debatido em diversas
       sentida ao Poder Legislativo caracterizam a saída dos homens                  áreas de estudo. A partir de uma reflexão sobre esse assunto,
       do estado de natureza e a formação de uma sociedade política.                 os alunos podem tomar as mais diversas posições. O objetivo
  2)	 O “consentimento” tácito é um aspecto questionável da                          dessa atividade é estimular uma reflexão que leve em conta
       formulação contratualista da sociedade. Realmente temos                       a vivência do próprio aluno, seus sentimentos e experiências
       escolha? Quando um indivíduo nasce, a sociedade a qual                        existenciais, como um indivíduo que faz parte de uma sociedade.
       ele pertence já está formada; e podemos pensar que, se ele                9)	 O papel do Estado na sociedade moderna é central. A partir
       permanece nela, é porque teria consentido. Mas em boa parte                   de um conjunto de leis, a Constituição, o Estado organizam
       da vida, a dependência econômica e a falta de maturidade                      a sociedade, suas formas de relação e convivência, os direi-
       impedem uma vida independente de qualquer sociedade.                          tos e deveres dos cidadãos, e a relação tripartite entre os
       Além disso, o indivíduo forma seus valores e modo de ser no                   poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário. Nesse sentido,
       convívio social, antes mesmo de ter qualquer possibilidade                    o Estado democrático moderno deve muito às concepções
       de independência. Mesmo um adulto teria pouca chance de                       contratualistas e aos filósofos como Hobbes, Locke, Rousseau
       viver isolado da sociedade. Por tudo isso, pode-se, de maneira                e Montesquieu, entre outros, cujas ideias ainda influenciam
       legítima, indagar: viver em sociedade é uma escolha ou uma                    o entendimento, as formulações teóricas e as formas de
       falta dela? Nesse momento, o aluno tem a oportunidade de                      organização do Estado.
       refletir sobre alguns aspectos desse problema.
                                                                             CAPÍTULO 16. O idealismo alemão: a atividade do espírito
  3)	 A sociedade brasileira e todas as democracias modernas têm
       no contratualismo e, mais especificamente, no contratualis-                   Sentimento de infinito (p. 190). A abertura utiliza a pintura
       mo de Locke, um modelo teórico fundamental. Uma tese que              O peregrino sobre o mar de brumas, de Caspar David, que busca
       orienta as sociedades é a de que todos são iguais perante as          exprimir o sentimento de infinitude (grandeza) do homem ao con-
       leis, embora muitas vezes isso não seja cumprido. Assim, a            templar o céu e as montanhas. O texto trata exatamente desse
       vida em sociedade é pautada pela elaboração de leis; todos,           sentimento que é difícil definir e que vem acompanhado da ideia ou
       independente de posição social ou função, têm de se subor-            da sensação de que há uma força, energia ou inteligência, presente
       dinar a elas. O Poder Legislativo, tão exaltado por Locke, é o        no Universo, na natureza e no homem.
       poder fundamental das sociedades contemporâneas. Estas
       têm nas respectivas Constituições um conjunto de normas e                     A ideia de que existe um poder infinito, sublime, que do-
       leis que define o funcionamento do governo, de seus poderes           mina as coisas finitas, como o próprio ser humano, é central no
       e instituições e da sociedade em geral.                               romantismo e está presente no idealismo alemão. Para alguns
                                                                             pensadores, essa força se manifesta no sentimento, nas artes e
  4)	 A sociedade, para o filósofo suíço, degenera o ser huma-               nas religiões. Outros destacam o infinito como uma razão orga-
       no porque o indivíduo, por natureza, nasceria bom; mas a              nizadora do mundo. O sentimento ou a sensação de infinito do
       sociedade, suas instituições e modo de vida o afastaria de            próprio aluno pode estabelecer o elo com o assunto do capítulo.
       sua própria natureza, introduzindo nele vícios, frivolidades,
       preconceitos. O avanço econômico, cultural e científico, ao            OBJETIVOS DO CAPÍTULO
       contrário de ter trazido felicidade e contribuído para o de-
       senvolvimento da virtude humana natural, só a abafou ou a              Identificar e analisar as noções de finito, infinito e suas relações no romantismo
       deformou, promovendo o egoísmo, a vaidade, a infelicidade              e no idealismo alemão (EM13CHS101, EM13CHS102 e EM13CHS103)
       e a sede pelo domínio do outro.
                                                                              Identificar as filosofias do idealismo alemão em relação (como resposta) ao
  5)	 Espera-se que o aluno perceba e reflita sobre o fato de que,            problema kantiano da coisa em si. (EM13CHS101, EM13CHS102 e M13CHS103)
       atualmente, o afastamento do ser humano da natureza é
       ainda maior do que o constatado por Rousseau no século                 Identificar e analisar a filosofia de Fichte e o idealismo subjetivo (EM13CHS101,
       XVIII. Ampliou-se o domínio e a exploração do homem sobre              EM13CHS102 e M13CHS103)
       a natureza externa e interna a ele. O aluno pode utilizar di-
       versos exemplos contemporâneos, como: as consequências                 Identificar e analisar a filosofia de Schelling e o conceito de absoluto
       ambientais decorrentes da exploração da natureza (a poluição           (EM13CHS101, EM13CHS102 e M13CHS103)
       do ar e da água, a degradação da terra); o aquecimento glo-
       bal; a extinção de diversas espécies; a criação de produtos            Identificar e analisar a filosofia de Hegel e o seu sistema baseado na atividade
       transgênicos; a alteração do organismo e do corpo humano               do Espírito Absoluto (EM13CHS101, EM13CHS102 e M13CHS103)
       pela engenharia genética etc.
                                                                              Comparar as filosofias de Fichte, Schelling e Hegel (EM13CHS101 e M13CHS103)
  6)	 Resposta pessoal. Oportunidade para o aluno refletir sobre as
       relações entre ser humano, sociedade e cultura. Pode-se, por          Aspectos a serem destacados
       exemplo, questionar a ideia de que o homem viva plenamente                    O idealismo e a marcha do espírito (p. 191). Fichte, Schelling
       na natureza; ou que exista uma natureza humana pura, pois o
       ser humano é produto da relação indissociável entre cultura           e Hegel, os três grandes nomes do idealismo alemão, partiram
       e natureza, herança biológica e herança cultural. Um ser sem          da problemática kantiana para elaborar seus sistemas. Se, como
       cultura não seria humano. Desse ponto de vista, a cultura ou a        dizia Kant, as coisas em si mesmas não podem ser conhecidas,
                                                                             pois o ser humano só conhece os fenômenos, quem garante que

                                                                             MANUAL DO PROFESSOR 417
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