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Depois da abertura e uma detida exploração do tema abor- mais participativa, mas é parte inerente da vida em socie-
dado, a escravidão no Brasil e a luta pela liberdade, que pode sen- dade. Qualquer forma de poder, portanto, é um ato político.
sibilizar o aluno para o estudo do capítulo, porque, afinal, trata-se Destacar que, mesmo quando pensamos que não estamos
da nossa história, que tem repercussões até hoje, o estudo pode envolvidos com a política, estamos abrindo mão do nosso
ser organizado nos seguintes momentos: direito de participação e entregando nosso poder de decisão
para outras pessoas.
• A relação indissociável entre liberdade, política e poder
(p. 236). A tirinha de Henfil permite uma primeira aproximação DE OLHO NO PRESENTE (P. 240)
dos alunos com o tema do capítulo, que se refere à relação Nessa seção, os alunos deverão empregar o conceito de bio-
intrínseca entre liberdade, poder e política. Após a leitura
prévia do texto, sugerimos discutir com os alunos em quais política no contexto da pandemia do coronavírus, a partir de um
situações um governo pode ser contrário aos direitos naturais trecho de artigo publicado na imprensa espanhola. No contexto
à vida, à liberdade e à propriedade, segundo John Locke. brasileiro, outros pontos importantes sobre biopolítica podem ser
levantados pelos alunos, como: o negacionismo; a defesa do uso
• O ser humano está condenado a ser livre (p. 236). Professor, de medicações sem eficácia comprovada por estudos científicos;
destaque para os alunos que, se para John Locke o ser hu- a precária situação de muitos hospitais públicos; o colapso do
mano nasce livre, para Jean-Paul Sartre não há nada que serviço funerário em algumas localidades, como Manaus.
seja inato no ser humano, nem mesmo, a liberdade. O exis-
tencialismo é retomado para orientar o aluno na reflexão de LABORATÓRIO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS (P. 245)
que o homem nasce potencialmente livre, pois tem o poder Um fragmento da obra de Foucault é o ponto de partida para
de se constituir constantemente, projetando sua consciência
em direção as coisas e atuando sobre o mundo. Além disso, aprofundar a análise sobre o poder (Doc. 1). Após interpretar esse
ele estabelece um contraponto ao essencialismo platônico. texto, os alunos fazem um exercício de aplicação de conceitos e
Para Platão, a essência precede a existência, ou seja, há em estabelecem relações com suas experiências cotidianas. A imagem
todas as coisas algo que as define, uma essência. Para os presente na seção (Doc. 2) oferece suporte para a reflexão sobre
existencialistas, a existência é anterior à essência. a sociedade de controle e o posicionamento dos alunos a respeito
do tema. Orientá-los para uma observação cuidadosa da imagem,
• Liberdade encarnada (p. 237). Para Merleau-Ponty, a liberda- notando que o rosto da figura humana é iluminado pela luz do
de não deve ser tratada como algo absoluto, mas ela acon- smartphone, enquanto a maior parte de seu corpo permanece na
tece, é possibilitada e limitada, por um corpo no mundo. Já penumbra. Um trecho da obra de Morozov (Doc. 3) discute as pos-
Hannah Arendt compreende a política como o campo de sibilidades e os impactos da inteligência artificial na vida individual
manifestação da liberdade (p. 237). A questão da liberdade e coletiva da humanidade.
individual na contemporaneidade também é problematizada
por esses filósofos. Professor, ao final da abordagem desse APRENDER A ARGUMENTAR (P. 244)
trecho do texto didático, convide os alunos a estabelecer A seção discute a falácia do equívoco, um tipo de falácia em
comparações entre as noções de liberdade sob a ótica de
Sartre, Merleau-Ponty e Arendt. que o argumento apresentado se serve de expressões ambíguas
ou mesmo imprecisas, gerando confusão e falsas conclusões. Nos
• O biopoder e a sociedade de controle (p. 240). Segundo exemplos apontados, os alunos poderão distinguir com facilidade
Foucault, o biopoder é o processo político no qual o Estado, o uso da mesma palavra, com sentidos diferentes, nas premissas
além de ter o poder para reprimir e destruir a vida, passa e na conclusão. Como complementação, propor que os alunos
também a desenvolver, otimizar e ordenar a vida dos cidadãos. reescrevam as frases A1, A2 e A3, de maneira a eliminar os equí-
Está presente em quase todas as áreas da vida contemporâ- vocos e as conclusões incorretas.
nea, desde a saúde pública, com medicações e práticas vol-
tadas para normalizar comportamentos, até a construção das LABORATÓRIO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS (P. 245)
cidades. O biopoder e a sociedade de controle possibilitam Um fragmento da obra de Foucault é o ponto de partida para
a administração dos corpos dos indivíduos com a finalidade
de adequá-los aos meios de produção e aos interesses do aprofundar a análise sobre o poder (Doc. 1). Após interpretar esse
Estado. texto, os alunos fazem um exercício de aplicação de conceitos e
estabelecem relações com suas experiências cotidianas. A imagem
• Necropolítica (p. 241) e Psicopolítica (p. 243). Sobre o tre- presente na seção (Doc. 2) oferece suporte para a reflexão sobre
cho em que são destacadas algumas ideias de Mbembe, é a sociedade de controle e o posicionamento dos alunos a respeito
importante esclarecer aos alunos que a lógica neoliberal foi do tema. Orientá-los para uma observação cuidadosa da imagem,
historicamente imposta como “lógica do sacrifício” da necro- notando que o rosto da figura humana é iluminado pela luz do
política, que opera com a ideia de que alguns indivíduos va- smartphone, enquanto a maior parte de seu corpo permanece na
lem mais do que outros. Mbembe entende que tais políticas penumbra. Um trecho da obra de Morozov (Doc. 3) discute as pos-
necroliberais possuem um aparato que torna uma vida mais sibilidades e os impactos da inteligência artificial na vida individual
valiosa do que outra, segundo critérios contrários a qualquer e coletiva da humanidade.
noção de direito individual, aos ideais existencialistas e à
política entendida por Arendt como um espaço livre para o LEITURA PARA O PROFESSOR
debate. As questões da solicitam a opinião do aluno sobre
o texto de Safatle e a identificação dos possíveis alvos do ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. São Paulo:
necropoder na sociedade brasileira. Já nos escritos do sul- Perspectiva, 2005.
-coreano Byung-Chul Han, vivemos em um mundo dominado Apresenta as principais ideias da filósofa e de suas contribuições para a com-
pela internet. Nesse cenário, os indivíduos acabaram presos preensão dos fenômenos políticos que marcaram o século XX.
em uma sociedade onde a propriedade privada do big data
(grande volume de dados) e seu uso não apenas se sobre- FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. São Paulo: WMF
põem aos ideais de liberdade e igualdade como conduzem Martins Fontes, 2010.
os indivíduos para determinados padrões comportamentais Originária do curso ministrado pelo autor em 1976, a obra é de suma rele-
(psicopolítica). Para Han, a era digital distancia os indivíduos vância para a compreensão das formas de poder. A partir da conceituação
de lutas coletivas, pois nela é mais importante ser consu- de poder disciplinar e biopoder, o filósofo analisa a estreita relação desses
midor do que ser cidadão. elementos com o Estado.
• A política está morrendo? (p. 243). O bielorrusso Evgeny MBEMBE, Achille. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de
Morozov afirma que a época dos algoritmos esvaziou a polí- exceção, política da morte. São Paulo: N-1 edições, 2018.
tica e estabeleceu novas relações de poder. Para Morozov, a Ensaio em que o autor reflete sobre as origens, consequências e desdobramen-
atual sociedade vive em um permanente paradoxo ao com- tos das formas de poder e submissão, bem como seus impactos sobre a deci-
binar um “sistema econômico capitalista (o governo implícito são de quem vive e quem morre nas sociedades contemporâneas.
de poucos) com um sistema político democrático (o governo
explícito de muitos)”. No entanto, ressaltar para os alunos SARTRE, Jean Paul; FERREIRA, Vergílio. O existencialismo é um
que a política nunca morre. Ela pode se tornar menos ou humanismo. Lisboa: Presença, s.d.
A obra é decorrente de uma conferência proferida pelo autor em que ele rebate
e reflete sobre as principais críticas e objeções direcionadas ao existencialismo.
MANUAL DO PROFESSOR 425