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trata-se de uma falácia do falso dilema. O Brasil pode ou não               sociedade de consumo. Espera-se que o aluno reflita e consiga
       mudar com o presidencialismo ou com o parlamentarismo;                      relacionar alguns desses aspectos com o que foi estudado.
       pode não mudar seu sistema representativo em determinado                6)	 a) A produção capitalista não se caracteriza apenas pela
       momento e, anos depois, fazê-lo. Há alternativas que, como é                produção de mercadorias, mas, sobretudo, pela produção de
       comum desse tipo de falácia, não foram consideradas pelo da                 mais-valia para o capital ou o capitalista. Isto é, a produção
       falsa dicotomia.                                                            da mais-valia (absoluta) se realiza quando a jornada de tra-
  2)	 Resposta livre. Oportunidade de o aluno criar uma falácia                    balho se prolonga para além do valor da força de trabalho.
       da falsa dicotomia, mostrando entendimento e domínio                        Em outras palavras, o valor das mercadorias produzidas pelo
       conceitual sobre ela.                                                       trabalhador é superior ao que ele recebe. Quer dizer, há tra-
                                                                                   balho excedente não pago pelo capitalista. A esse trabalho
LABORATÓRIO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS (P. 234)                       excedente Marx chamou de mais-valia.
  1)	 Há uma contraposição entre o idealismo alemão (mais especifica-              b) No processo de produção capitalista, houve mudanças na
       mente a filosofia de Hegel) e o materialismo histórico. O primeiro          relação entre trabalhador e produto do trabalho. Antes, um
       sustenta que a realidade ou sua natureza é fundamentalmente                 trabalhador, como um sapateiro, era responsável por todo o
       mental (atividade do espírito, que, para Marx, é uma represen-              processo de produção da mercadoria e era dono do que havia
       tação mental); nesse sentido, é a consciência que determina a               produzido. Com a propriedade dos meios de produção e a
       vida. O segundo defende que a consciência e seus produtos são               transformação da força de trabalho em mercadoria, o trabalho
       decorrentes da vida, isto é, da forma como os indivíduos vivem ou           e o produto do trabalho se tornaram alheios ao trabalhador.
       se organizam materialmente. Nesse caso, é a vida que determina              Por um lado, ele não planeja, não determina, não guia o pro-
       as projeções ou representações da consciência.                              cesso de produção. Tudo isso e até o ritmo da produção são
  2)	 Resposta pessoal. Espera-se que o aluno perceba a relação                    determinados pelas metas e pelos objetivos do capitalista.
       entre os modos de vida – a forma de organização social – e as               Por outro, o produto de sua atividade não pertence mais a ele,
       ideias e criações da consciência, com base no que apreendeu                 mas é propriedade de outros. Por último, a intensa divisão de
       sobre o materialismo histórico. Caso ele opte por uma expli-                trabalho na produção capitalista fez com que o trabalhador
       cação idealista da realidade, deve fazê-lo fundamentando                    perdesse o conhecimento de todo o processo de produção.
       sua posição por meio de argumentos consistentes.                            Assim, ele acabou por se transformar em uma peça da en-
                                                                                   grenagem da produção capitalista. Desse modo, na produção
  3)	 A imagem pode suscitar inúmeras relações com a preca-                        capitalista, há um processo de alienação do trabalhador; o
       rização do trabalho. A primeira delas está na representa-                   trabalhador não se realiza nem se identifica no trabalho.
       ção do suposto chicote que o executivo, um funcionário do                   c) As principais características do mundo do trabalho con-
       alto escalão ou o próprio dono da empresa utiliza contra as                 temporâneo é a precarização e a alienação da vida. Pela ex-
       pessoas. Trata-se de uma seta, muito utilizada em gráficos                  pressão “precarização do trabalho”, entende-se a diminuição
       para indicar a oscilação na produtividade; é preciso que ela                de direitos e garantias conquistadas pelos trabalhadores,
       seja crescente – uma exigência cada vez mais premente                       possibilitando a superexploração. São manifestações dessa
       do capitalismo atual para o aumento da extração da mais-                    precarização: trabalho temporário, trabalho intermitente,
       -valia. A precariedade, nesse caso, decorre exatamente da                   trabalho autônomo sem regularização social, trabalho a dis-
       superexploração dos trabalhadores, que tentam escapar da                    tância sem jornada delimitada etc. Pela expressão “alienação
       fúria do empresário. Todos os personagens estão curvados                    da vida” quer se dizer que o mundo do trabalho invadiu o
       e caminham em fila, como se obedecessem a uma ordem;                        mundo da vida; isto é, não há delimitação clara entre trabalho
       com exceção do capitalista e de um garoto, que aparece com                  e vida. A nossa existência está pautada pela exigência de
       o punho em riste, num possível ato simbólico de resistência.                ritmo, desempenho e produtividade do trabalho. Os avanços
       Outro aspecto significativo desse grafite é a denúncia que o                tecnológicos possibilitam que o trabalhador esteja à dispo-
       artista faz sobre como o sistema capitalista e suas metas,                  sição da empresa 24 horas por dia. As jornadas de trabalho
       cada vez mais inalcançáveis, incide sobre os trabalhadores                  estão cada vez mais longas, ocupando a totalidade do tempo.
       e a população em geral, em especial sobre a parcela mais
       frágil econômica e socialmente. Observando detalhadamente           CAPÍTULO 19. As novas formas de poder e de controle
       a obra, vemos a silhueta de crianças, de uma mãe com um
       bebê de colo, de um homem – provavelmente um retirante                      O capítulo apresenta reflexões sobre a liberdade e suas re-
       – que leva consigo as suas coisas e de um idoso. O grafite de       lações com o poder e a política. Os alunos vão se defrontar com
       Banksy pode ser compreendido como um protesto contra a              algumas das grandes questões de nosso tempo: até que ponto
       lógica capitalista de trabalho, que saiu das fábricas e está        somos livres? A natureza do Estado e suas formas de exercer
       influenciando todo o modo de vida do conjunto da sociedade.         o poder interferem em nossa liberdade? Qual é a relevância da
                                                                           política nos dias de hoje?
  4)	 Os produtos tecnológicos, como o computador, celulares, ta-
       blets e a existência da internet possibilitaram que a maior parte    OBJETIVOS DO CAPÍTULO
       dos trabalhos se desenvolva em qualquer lugar. Tal fato cria
       regimes de trabalho, bem como novas possibilidades de controle       Comparar a concepção de Jean-Paul Sartre e de Maurice Merleau-Ponty sobre a
       e exploração dos trabalhadores. O tempo de existência é trans-       liberdade. (EM13CHS101 e EM13CHS501)
       formado, pois o tempo de trabalho invade o tempo da vida, seja
       pela exigência das empresas na realização de atividades fora do      Analisar as relações entre liberdade e política, de acordo com Hannah Arendt.
       horário oficial da jornada; seja porque o indivíduo se impõe mais    (EM13CHS101)
       horas de trabalho, na tentativa de cumprir metas cada vez mais
       rigorosas, ou por assimilar a lógica capitalista de desempenho       Compreender os conceitos de biopoder e sociedade de controle, identifican-
       e produtividade como caminho para ser bem-sucedido.                  do suas marcas na sociedade contemporânea. (EM13CHS101, EM13CHS102,
                                                                            EM13CHS103 e EM13CHS501)
  5)	 Resposta pessoal. Oportunidade de o aluno refletir sobre a sua
       vida sob a lógica de uma sociedade cada vez mais dominada            Relacionar o conceito de necropolítica a práticas desenvolvidas pelos Estados
       pelo trabalho. Não é apenas o tempo de trabalho que se so-           contemporâneos. (EM13CHS101, EM13CHS102, EM13CHS601 e EM13CHS602)
       brepõe ao tempo de vida, mas toda a existência e a educação
       são voltadas para essa atividade. Os alunos podem não ter            Reconhecer o biopoder e a necropolítica como estratégias de poder relaciona-
       refletido ainda sobre isso, mas sentem a pressão social para         das ao racismo. (EM13CHS101, EM13CHS103, EM13CHS501 e EM13CHS503)
       que seu projeto de vida se subordine a essa lógica. Desde cedo,
       os jovens do Ensino Médio têm de escolher uma profissão,             Avaliar os impactos dos avanços tecnológicos contemporâneos quanto ao
       seja de nível técnico, seja universitário, e boa parte de sua        exercício da liberdade. (EM13CHS101, EM13CHS102, EM13CHS104, EM13CHS106,
       formação é voltada para essa escolha. Além disso, todo um            EM13CHS202 e EM13CHS504)
       conjunto ideológico de valores relacionados ao desempenho,
       à produtividade e ao sucesso vai sendo internalizado em uma          Valorizar a participação na vida política, como instrumento para o fortalecimen-
                                                                            to da liberdade e da democracia. (EM13CHS504)

                                                                           SUGESTÕES DE ENCAMINHAMENTO DIDÁTICO

424 MANUAL DO PROFESSOR
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