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aos europeus, agentes desse movimento, levar o progresso e a QUESTÃO (P. 228)
civilização aos povos atrasados da África e da Ásia. A atividade pretende provocar nos estudantes uma reflexão
• A precarização do trabalho (p. 230). Para dar início ao tema, inicial sobre as diferenças entre as ciências naturais e as ciências
sugerimos discutir com os alunos o significado do substantivo humanas em relação aos fenômenos ou objetos de estudo. Em
precário e do verbo precarizar, fazendo consulta ao dicioná- algumas ciências, como a física, as leis são invariáveis e relati-
rio, caso seja necessário. Destacar que a flexibilização das leis vamente precisas. Relativamente porque a física contemporânea
trabalhistas e o emprego de trabalhadores temporários, in- revelou também a imprecisão dos fenômenos quânticos.
termitentes, autônomos ou terceirizados é um fenômeno que
vem se acentuando nas últimas décadas no mundo inteiro. De qualquer maneira, nesse momento do estudo pode-se
Ele está associado à Terceira Revolução Industrial e não se chamar a atenção para a contingência dos fenômenos humanos.
limita ao setor fabril, estendendo-se também para o comércio Em outras palavras, a contingência, ou seja, a possibilidade de um
e diferentes serviços. fenômeno humano se revelar de uma maneira ou de outra, dificulta
a aplicação nas ciências sociais da mesma metodologia utilizada
• A existência para o trabalho (p. 231). Para a discussão do nas ciências naturais. Isso pode ser evidenciado pela comparação,
conceito de alienação da vida, sugerimos a leitura compar- por exemplo, entre a incidência repetitiva e precisa da lei da gra-
tilhada do texto citado nessa página, de Cassio A. B. Aquino vidade sobre os corpos em queda e a variabilidade de respostas
e José C. O. Martins, e da tirinha do cartunista Quino, se- humanas em determinada situação. Quer dizer, duas pessoas po-
guida de debate em classe. Ambos apontam um paradoxo: dem agir diferentemente diante de uma mesma situação.
a sociedade desenvolveu tecnologias que poupam o tempo,
encurtam as distâncias e substituem o esforço humano em IMAGINE... (P. 231)
muitas atividades. No entanto, muitas pessoas empregam Atividade aberta. Espera-se que o aluno perceba que ser moto-
um tempo cada vez maior no trabalho, ao passo que as ati-
vidades não produtivas (ou não lucrativas) são vistas como rista de aplicativo implica trabalho precarizado, sem vínculo empre-
“desperdício”. gatício, sem garantias e direitos trabalhistas, além de ser responsável
pelos custos de manutenção do veículo. O retorno mínimo necessário
DE OLHO NO PRESENTE (P. 232) à sobrevivência de uma família nesse trabalho só é possível por meio
As novas tecnologias e o home office resultam em maior li- de uma extensa jornada, para além das oito horas diárias. Assim, em
condições tão adversas e precárias, o indivíduo assume esse trabalho
berdade para os trabalhadores? A seção propõe uma reflexão sobre por não ter outra opção, por necessidade de buscar renda. A vanta-
o trabalho na contemporaneidade a partir de um fragmento do gem alardeada do trabalho de motorista de aplicativo, liberdade para
sociólogo estadunidense Richard Sennett. Para responder às ques- fazer seu horário de trabalho, é desmentida pela necessidade de uma
tões, orientar os alunos para considerar o aprendizado adquirido ao extensa jornada para conseguir o mínimo necessário de renda. Assim,
longo da sua escolaridade, suas observações sobre o mundo que os a melhoria dessa categoria profissional passaria por sua legalização,
cerca e sua experiência de vida. É importante garantir que os alunos registro em carteira e plenos direitos trabalhistas.
apresentem argumentos consistentes para justificar suas respos-
tas, de acordo com o aprendizado adquirido ao longo dos estudos. DE OLHO NO PRESENTE (P. 232)
1) Os mecanismos de controle na sociedade contemporânea são
APRENDER A ARGUMENTAR (P. 233) cada vez mais baseados em dados numéricos, quantitativos,
A seção discute a falácia da falsa dicotomia, em que a ar- como o cálculo e a informação. Assim, o controle da produção
ou da produtividade de um trabalhador (do resultado de seu
gumentação ignora o universo de possibilidades para explicar um trabalho) é também cada vez maior, não importa se ele está
acontecimento ou ideia, restringindo-o a duas alternativas que ou não em uma área controlada pela empresa. Além disso,
podem não ser verdadeiras. Os exercícios propostos incluem a aná- no sistema de trabalho fora da empresa (home office), sua
lise de argumentos e a criação de uma falácia de falsa dicotomia. jornada pode ser estendida sem o pagamento de horas extras.
Isso significa mais horas excedentes não pagas ao trabalhador
LABORATÓRIO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS (P. 234) (mais-valia), o que aumenta o lucro do capitalista.
A seção apresenta novos materiais para reflexão do aluno, com o 2) Resposta livre. Trata-se de uma oportunidade para o aluno
refletir, a partir de sua vivência, sobre as relações de estudo
objetivo de aplicar os conceitos desenvolvidos no capítulo, ampliando e e de trabalho que estão sendo implementadas com as novas
aprofundando o aprendizado. Um trecho d’A ideologia alemã, de K. Marx tecnologias e que, por força da grave crise sanitária decorrente
e F. Engels, discute a relação entre as condições materiais da existência da pandemia da covid-19, se evidenciaram nesse período.
e a formação da consciência (DOC. 1). O grafite de Banksy apresenta uma
crítica ao mundo do trabalho na contemporaneidade (DOC. 2). O trecho 3) Resposta pessoal. Espera-se que o aluno reflita sobre o pro-
selecionado do filósofo Byung-Chul Han discorre sobre a invasão do cesso contraditório das relações de trabalho na fase atual do
trabalho em todas as dimensões da vida dos seres humanos (DOC. 3). As capitalismo. Havia uma narrativa, sobretudo de cunho neo-
questões visam favorecer a interpretação dos documentos apresentados liberal, de que a inserção tecnológica traria menos horas de
(questões 1, 3 e 4) e o posicionamento pessoal dos alunos diante dos te- trabalho, mais tempo livre e liberdade. No entanto, isso não
mas em foco (questões 2 e 5). Neste último caso, incentivar os alunos a tem acontecido. Os indivíduos estão cada vez mais presos às
apresentar argumentos consistentes para fundamentar suas respostas. demandas do trabalho, ao controle sobre sua produtividade e
seu comportamento; restam menos horas para o descanso,
RESPOSTAS E COMENTÁRIOS DAS ATIVIDADES DO LIVRO DO ESTUDANTE o lazer e o convívio social com amigos e familiares, o que
evidencia a diminuição da liberdade.
QUESTÕES (P. 224)
1) A concepção de Feuerbach não foi tão radical quanto as teses APRENDER A ARGUMENTAR (P. 233)
ateístas de Onfray. Feuerbach acreditava que as religiões eram 1) a) Trata-se de uma típica falácia da falsa dicotomia, porque,
projeções dos desejos humanos mais íntimos e, nesse sentido, entre ser a favor ou ser contra alguém, há inúmeras possi-
eram importantes. Mas esse filósofo foi fundamental para a bilidades. Por exemplo, você pode não ser nem contra nem
passagem do idealismo ao materialismo, defendendo a tese de a favor de uma pessoa. Pode ser contra um determinado
que o ser humano não é criação de Deus; ao contrário, Deus é posicionamento e ao mesmo tempo gostar da pessoa, estar
uma criação humana, uma projeção dos desejos humanos. E a seu favor; ou o contrário, você pode concordar com uma
por que o ser humano criaria Deus? Para realizar o desejo de proposta feita por alguém de quem você não gosta. O pró-
ultrapassar sua realidade de dores e angústias. Nesse aspecto, prio termo “ser contra uma pessoa” teria de ser mais bem
podemos dizer que as ideias de Onfray se aproximam das de definido. Afinal, do que se está falando? Que se é contra a
Feuerbach. Segundo aquele, o homem preferiria ficções, mitos totalidade da pessoa? Que se é contra ela politicamente? Que
e fábulas à crueldade do real, isto é, Deus e as histórias da se quer o mal dela? A mesma coisa vale para a expressão
Bíblia teriam sido criados para que o ser humano não enxer- “ser a favor de uma pessoa”.
gasse a realidade nua e crua da sua existência. b) Essa dicotomia é falsa. O slogan “Ou o Brasil muda agora
2) Atividade livre, cujo desenvolvimento depende das convic- ou não muda nunca mais” foi apresentado no plebiscito sobre
ções de cada um. O importante é os estudantes mostrarem o parlamentarismo em 1993, pela Frente Parlamentarista, e
entendimento sobre as afirmações de Onfray e opinarem
sobre elas com argumentos bem elaborados.
MANUAL DO PROFESSOR 423