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Veja respostas e orientações
no Manual do Professor.
QUESTÃO Após alguns meses de jogo duplo e uma diplomacia habilidosa do governo
português em se esquivar das pressões francesas e inglesas, o príncipe regen-
• Com base no texto, sinte- te D. João tomou a decisão há muito adiada. Em negociações secretas com o
tize o processo que levou governo de Londres, D. João acertou a transferência da corte para o Brasil, sob
à abertura dos portos bra- a proteção da esquadra inglesa.
sileiros em 1808, apontan- No dia 29 de novembro de 1807, uma verdadeira frota de guerra zarpou
do seus principais agen- do cais de Belém, em Lisboa, com destino à América. No mesmo dia, as tro-
tes (indivíduos, governos, pas francesas invadiram o território português. A bordo de onze naus e nove
países e grupos sociais) e fragatas (há variações sobre esses dados, dependendo da fonte), estavam
efeitos para o Brasil, Por- mais de 10 mil pessoas, entre a família real, funcionários do Estado, membros
tugal e Inglaterra. do alto clero e da nobreza e criados. No interior das embarcações estavam
ainda baús com obras de arte, objetos de museus, o tesouro português, joias
da Coroa e 60 mil livros da Biblioteca Real, além de vários tonéis de água e
animais de criação colocados nos porões dos navios.
Após 54 dias de viagem, no dia 22 de janeiro de 1808 D. João e parte da
corte portuguesa aportaram em Salvador, antiga capital da colônia. Foi nessa
cidade, no dia 28, que o príncipe regente assinou a primeira medida régia em solo
americano: a abertura dos portos às nações amigas. Com essa medida, estavam
liberadas as importações de todos os produtos transportados em embarcações
de países em relação de paz com o reino português, e não apenas em navios
metropolitanos. A abertura dos portos teve dois efeitos importantes: pôs fim ao
exclusivo comercial metropolitano, estabelecido desde o início da colonização,
e trouxe grandes vantagens à Inglaterra, nação “amiga” que, a partir de então,
teria grande participação no mercado brasileiro.
Depois de pouco mais de um mês em Salvador, no dia 28 de fevereiro o prín-
cipe regente partiu para a cidade do Rio de Janeiro, sede do Império Português
na América. No dia 7 de março, a nau que conduzia D. João e parte da corte que
o acompanhava chegaram à capital da colônia, juntando-se às outras embarca-
ções da esquadra portuguesa que tinham viajado direto para lá.
A cidade do Rio de Janeiro tinha o maior porto em volume de negócios e
se configurava como uma zona estratégica em relação à região das minas e
da Bacia do Prata, um local de intenso comércio. O Rio congregava as maiores
fortunas provenientes dos chamados “negociantes de grosso trato”, os quais
dominavam as rotas do tráfico de africanos escravizados. A corte de D. João
aliou-se a esses grupos ao se insta-
GIUSEPPE GIANNI/BIBLIOTECA DIGITAL LUSO-BRASILEIRA lar na cidade; foi quando se deu o
gesto “simbólico” do rico negocian-
te Elias Antônio Lopes, que doou a
quinta (fazenda) de São Cristóvão
para ser a residência da família real
fora da cidade, em troca de títulos
de nobreza.
Mas a instalação da corte não
favoreceu apenas esse rico grupo
de comerciantes; os antigos e novos
produtores e comerciantes vincu-
lados ao abastecimento da cidade
também foram beneficiados com
esse acontecimento e com a aber-
tura dos portos, possibilitando a
realização de melhorias urbanas, a
construção de estradas, a organi-
zação de tropas etc. As mudanças
também ocorreram no status político
da América portuguesa. No dia 16 de
↑ Embarque do príncipe regente D. João VI para o Brasil, aguada de nanquim de Giuseppe dezembro de 1815, D. João elevou o
Gianni, c. 1830. Note que o artista representou o embarque da corte portuguesa como um Brasil à condição de Reino Unido a
evento tranquilo e organizado, muito diferente do caos e do desespero que marcaram aquele Portugal e Algarves, passando a ser
episódio, tanto nos que partiam quanto na população que ficava abandonada ao ataque das a sede do Império Português.
tropas francesas.
258 UNIDADE 4: O MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO