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Uma revolução no Nordeste do Brasil
A distribuição de privilégios aos súditos cariocas não tardaria em gerar
desequilíbrios e descontentamentos em outras partes da América portuguesa.
Em março de 1817, iniciou-se no Recife a Revolução Pernambucana, movimen-
to que defendia a ruptura política com a corte sediada no Rio de Janeiro. Os
rebeldes tomaram o Recife e instauraram um governo provisório na cidade. O
movimento, duramente reprimido por tropas enviadas da corte, durou apenas
três meses. Mesmo assim, historiadores supõem que tenha se cogitado, entre
os envolvidos, a construção de uma república nos moldes da que se discutia na
época no restante da América. Esse fato expressava, sem dúvida, que os ventos
da transformação política haviam chegado ao Império Português.
GIULIO FERRARIO - COLEÇÃO BRASILIANA/ACERVO DA PINACOTECA DO ESTADO DE SÃO PAULOProfessor, caso queira aprofundar a
ANTÔNIO PARREIRAS/MUSEU ANTÔNIO PARREIRAS, NITERÓIdiscussão sobre a ofensiva contra
os botocudos com os estudantes,
sugerimos a leitura da Carta
Régia de 13 de maio de 1808, na
qual D. João determina a guerra
aos botocudos. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/legin/
fed/carreg_sn/anterioresa1824/
cartaregia-40169-13-maio-1808-
572129-publicacaooriginal-95256-
pe.html. Acesso em: 8 ago. 2024.
→ Detalhe de Os mártires, pintura Só é possível entender o movimento pernambucano se refletirmos sobre a
de Antonio Parreiras, 1927. A ideia do que era o Brasil na época. É errôneo imaginar que as várias partes da então
Revolução Pernambucana reuniu chamada América portuguesa constituíssem realmente uma unidade. A colônia
vários setores sociais e chegou a portuguesa na América, pelo próprio desenvolvimento de suas regiões, criou áreas
adotar uma bandeira e a instituir desarticuladas entre si e com realidades distintas. O Centro-Sul, por exemplo, não
um governo provisório, que vigorou tinha sequer rotas marítimas, muito menos terrestres, que o interligassem com
por três meses. o Grão-Pará, e estava muito mais articulado à África; enquanto o Norte vincula-
va-se muito mais a Lisboa, mesmo após a instalação da corte no Rio de Janeiro.
↑ Fisionomia de alguns botocudos, Consequentemente, não havia um sentimento de unidade nacional entre os “bra-
1821, gravuras de Giulio Ferrario. sileiros”, designação que na época nem tinha o sentido que adquiriu mais tarde.
Essa forma de representação dos O que predominava eram as designações regionais: pernambucanos, baianenses,
indígenas era comum na época, paulistas etc., todos igualmente portugueses da América ou americanos. Foi por
especialmente dos chamados isso que, quando ocorreu a instalação da corte no Centro-Sul, reações contrárias
“botocudos”. foram sentidas em outras partes da América portuguesa e em Portugal, onde alguns
diziam que Portugal havia virado colônia da colônia.
Guerra aos “botocudos”
Em 13 de maio de 1808, D. João aprovava uma “guerra ofensiva” aos indí-
genas do Rio Doce, genericamente chamados de “botocudos”, que habitavam
as capitanias de Minas Gerais e do Espírito Santo. A medida previa a tomada
das terras dos botocudos, considerados feras humanas e canibais, e sua
distribuição entre os colonos. Dessa maneira, o príncipe regente restaurava
a política de “guerra justa” contra os indígenas, que havia sido extinta pelo
marquês de Pombal no século XVIII. A chamada “guerra justa” permitia o
extermínio dos nativos que, supostamente, poderiam causar algum perigo
aos habitantes da colônia. Essa guerra foi oficialmente suspensa apenas em
27 de outubro de 1831, já após a independência.
CAPÍTULO 21: A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL E O PERÍODO IMPERIAL 259