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↻	O Brasil do Segundo Reinado                                                                                                    COLEÇÃO BRASILIANA/ACERVO DA PINACOTECA DO ESTADO DE SÃO PAULO

      A instabilidade política que abalou o Brasil du-  ↑ Vila rural e serra, autor não identificado, primeira metade do século
rante as Regências por pouco não destruiu o projeto     XIX. O Brasil do século XIX era um país essencialmente rural. Pode-se
de unidade política e territorial que nasceu com a      afirmar que algumas propriedades constituíam verdadeiras unidades de
proclamação da independência, o que levaria o país      subsistência e de vida social.
a seguir o mesmo caminho das ex-colônias espa-
nholas na América.                                            Ao observar as cidades brasileiras da metade
                                                        do século XIX, era impossível separar com clareza o
      O cenário de turbulência que tomou conta de       universo rural do urbano. Elas eram, em sua maio-
províncias do Norte e do Sul foi uma das razões         ria, pouco mais que vilarejos; no litoral e nas zonas
que levaram um setor da elite política e econômica      mineradoras é que estavam localizadas as maiores
brasileira, reunida no Partido Liberal, a defender a    aglomerações. O meio urbano era sempre pequeno,
antecipação da maioridade do jovem príncipe. Mas        restrito a um ou dois bairros centrais, e com pouca
essa não foi a única razão. Desde 1838, os liberais     população circulante, uma vez que a maior parte
tinham perdido para os conservadores o comando          dos habitantes morava em propriedades rurais, com
do governo regencial; dessa forma, a antecipação da     roças próprias para garantir a subsistência.
maioridade do príncipe era um meio de afastar os
conservadores do poder e de recuperar os cargos               As cidades tinham um espaço público central,
políticos que haviam perdido.                           com algumas construções básicas (igreja matriz,
                                                        casa de câmara e cadeia, pelourinho e prédios pú-
      Com esse projeto, os liberais fundaram o Clube    blicos). DOC. 2 As ruas estreitas de traçado irregular
da Maioridade e iniciaram uma campanha popular          revelavam o pouco cuidado por parte dos mora-
pelo início antecipado do reinado de D. Pedro. Em       dores, que construíam suas casas em locais antes
julho de 1840, sob pressão popular, o Senado apro-      delimitados para serem vias de tráfego, e do poder
vou a maioridade do príncipe. Ele próprio, ao ser       público, que se omitia da tarefa de planejar e orga-
indagado se preferia a proclamação imediata ou o        nizar a ocupação urbana. A água potável necessária
prazo de seis meses, como havia sido sugerido, res-     para consumo e para outras atividades era buscada
pondeu, sem deixar dúvidas: “Quero já!”.                nos chafarizes ou poços, e tanques d’água ou ria-
                                                        chos serviam às lavadeiras de roupas e aos animais
      O longo reinado de D. Pedro II (1840-1889)        sedentos. O lixo produzido nas casas era enterrado
destacou-se pela consolidação da unidade polí-          nos quintais ou jogado, displicentemente, no meio
tica e territorial do Estado brasileiro e pela ex-      das ruas, à espera de que as chuvas o carregassem
pansão da economia cafeeira no Sudeste do país.         para longe: lá ficavam, pisoteados pelas pessoas e
Os lucros gerados com as exportações de café,           pelos animais que andavam à solta.
somados aos capitais liberados pela proibição
do tráfico de escravizados, em 1850, impulsio-                Esses espaços urbanos fervilhavam nos dias de
naram os investimentos em bancos, companhias            festa, com predomínio das festividades religiosas.
de transporte, iluminação pública e melhoria das        As festas populares eram muitas, como o entrudo
vias urbanas.                                           (Carnaval) e os festejos relacionados aos aconteci-
                                                        mentos da família real. Além dos dias de festa, os
	↪	 O mundo rural e o mundo urbano                      chafarizes e os largos eram pontos de encontro para
                                                        conversas; mesmo as missas constituíam importan-
      Boa parte dos territórios do Brasil nos prin-     tes ocasiões de sociabilidade.
cípios do século XIX ainda era conhecida como
“sertões”, ou seja, não tinha população assentada
em vilas formalmente reconhecidas pela Coroa e
era em grande parte habitada por indígenas. Outra
parte era rural, distribuída em vastas propriedades
com baixa densidade demográfica. O primeiro cen-
so geral da população, realizado em 1872, mostrou
que 80% da população ocupada dedicava-se ao
setor agrícola, 13% ao setor de serviços e apenas
7% à indústria.

262 UNIDADE 4: O MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO
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