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↻ A abdicação de D. Pedro I e o período regencial
As críticas ao governo de D. Pedro I cresceram CESAR DINIZ/PULSAR IMAGENS - MEMORIAL DA BALAIADA, CAXIAS
no fim da década de 1820. Os jornais de oposição
tiveram papel expressivo no desgaste da imagem ↑ Balaiada em Caxias, gravura da artista Tita do Rêgo Silva, de 2014,
do imperador, tornando sua permanência no trono representando a revolta regencial ocorrida no Maranhão.
insustentável. Pressionado pelas críticas, D. Pedro
abdicou em abril de 1831. Como Pedro, o príncipe “A Bahia atravessou a primeira metade do século
herdeiro, tinha apenas 5 anos de idade, o governo foi XIX em plena turbulência política. Entre 1820 e 1840, os
exercido por regentes, que dirigiriam o país durante baianos viram ocorrer revoltas militares, motins antipor-
a menoridade do futuro imperador. tugueses, rebeliões de natureza federalista e republicana,
quebra-quebras e saques populares — todos eles contando
A saída de D. Pedro abriu novas possibilida- com a participação da população pobre livre e de escravos,
des para questionar o regime. Na verdade, naque- tanto em Salvador quanto nas vilas do Recôncavo [Baiano].
le momento ficou claro como o Império Brasileiro Além disso, entre 1807 e 1835 os cativos da Bahia viraram
era ainda débil e que a independência não havia protagonistas de uma série impressionante de revoltas de
se concretizado de fato. Uma profunda instabilida- larga escala que eclodiram tanto nos engenhos, fazendas e
de marcaria a década seguinte, sob o regime das armações de pesca quanto na capital e nos centros urbanos
Regências (1831-1840). O período destacou-se pelos do Recôncavo. [...]”
debates acalorados sobre a vida política brasileira,
que se expressaram principalmente na imprensa, SCHWARCZ, Lilia M.; STARLING, Heloisa M. Brasil: uma biografia. 2. ed.
em ataques à centralização do império e em defesa São Paulo: Companhia das Letras, 2018. p. 255.
de um regime monárquico com ampla autonomia
às províncias. ↪ A Revolta dos Malês
Os governos regenciais de fato inauguraram Os malês, também conhecidos como nagôs,
uma fase de grande efervescência política no Brasil. eram escravizados vindos do oeste africano, a
Setores mais letrados clamavam pelo aumento da maioria adepta da religião islâmica. A revolta con-
participação política da população, pela extinção do tou com cerca de seiscentos participantes, a
Poder Moderador e até mesmo em nome de uma es- maioria malê, apesar da existência de outros gru-
pécie de reforma agrária. Ao mesmo tempo, alguns pos de cativos, além dos libertos. A rebelião co-
propunham a volta do imperador e a restituição do meçou no dia da festa de Nossa Senhora da Guia,
regime nos moldes do Primeiro Reinado. O momento em 25 de janeiro de 1835, que coincidia com o fim
propiciou ainda críticas ao tráfico de escravizados do mês sagrado do Ramadã, quando os islâmicos
– o que deu origem à Lei de 1831, que considerava jejuam e oram juntos. Os revoltosos tomaram ruas,
livres todos os africanos que desembarcassem no quartéis, fortes e a prisão de Salvador, muitos de-
território brasileiro, lei que obviamente não saiu do les armados com porretes e instrumentos de tra-
papel. O período também deu voz àqueles que viam balho e carregando amuletos com mensagens do
a escravidão como um “mal necessário”. Em síntese, Corão. Após 24 horas de batalhas em diversos
a Regência ficou marcada por um choque de opi- pontos da cidade, as forças policiais dominaram
niões que revelava a ambiguidade e a instabilidade a situação, e os líderes e envolvidos na rebelião
vivida no período. foram duramente punidos.
A cena política regencial também presenciou Lei de 1831: também conhecida como Lei Feijó, ou lei para “inglês ver”, uma vez
uma série de revoltas, motins e insurreições em que foi ignorada pelos traficantes de escravizados e por seus representantes no
várias províncias. Algumas contaram com imensa Estado brasileiro.
participação popular, inclusive de indígenas, como a
Revolta dos Cabanos, em Pernambuco (1832-1835),
a Cabanagem, no Pará (1835-1840), e a Balaiada,
no Maranhão e no Piauí (1838-1841). Outras tiveram
lideranças vindas das classes médias e altas, como
a Sabinada, na Bahia (1837-1838), e o movimento se-
paratista republicano da Farroupilha, no Rio Grande
do Sul, que durou de 1835 a 1845. De todas elas, é
importante destacar o ciclo de revoltas escravistas
que abalaram a província da Bahia entre 1807 e 1835
e culminaram na Revolta dos Malês, em 1835.
CAPÍTULO 21: A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL E O PERÍODO IMPERIAL 261