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↻ A imigração no Brasil do século XIX
Desde a chegada da família real portuguesa ao Brasil, em 1808, ondas mi-
gratórias europeias vinham sendo incentivadas pela Coroa. O principal objetivo
dessa primeira onda era ocupar áreas do Sul do território, formando colônias
de pequenas e médias propriedades. Na visão das elites políticas e intelectuais
da época, havia no Sul do país grandes “vazios demográficos”, e era preciso
integrá-los efetivamente ao controle do Estado brasileiro. DOC. 3 Outro objetivo
era ampliar a presença de europeus no país, vistos como eficientes e capazes
de construir uma economia moderna.
Em contrapartida, as pressões pelo fim do tráfico negreiro, vindas espe-
cialmente da Inglaterra, levaram ao surgimento de novas experiências com a
mão de obra livre ainda na década de 1840, concentradas na região Sudeste,
sobretudo no interior paulista. O ano de 1850 foi decisivo nesse processo, pois,
nessa data, além da lei que extinguiu o tráfico de escravizados para o país, foi
aprovada a chamada Lei de Terras. Desde o período colonial, as terras podiam
ser obtidas por meio da doação da Coroa, da compra ou da ocupação. Com a
nova lei, as terras públicas só poderiam ser adquiridas por meio da compra.
Além disso, a lei determinou que os proprietários deviam registrar suas terras
em Registros Paroquiais. A medida beneficiava os médios e os grandes proprie-
tários, pois eram eles que tinham condições de comprar e registrar suas terras.
Assim, as elites escravistas do Brasil reagiam ao fim do tráfico de escra-
vizados restringindo o acesso à terra e preservando o seu controle por meio
de uma legislação que os beneficiava. A ideia era impedir que ex-escravizados,
posseiros pobres e imigrantes pudessem constituir pequenas e médias pro-
priedades e, como consequência, obrigá-los a trabalhar como assalariados nas
grandes propriedades monocultoras do país.
A primeira tentativa de instalação do trabalho livre nas zonas cafeeiras ocorreu
em fazendas do interior de São Paulo. Em 1847, um fazendeiro de Piracicaba, Nicolau
Pereira de Campos Vergueiro, criou uma companhia que, entre outras atividades,
atuava no recrutamento de imigrantes para o trabalho nos cafezais paulistas.
Nessa primeira tentativa, a forma de trabalho adotada foi o sistema de par-
ceria. Por meio desse sistema, o proprietário cedia determinada quantidade de
pés de café a um colono, que deveria cuidar deles e, ao final, repartir a produção
com o proprietário. Além disso, o colono devia pagar uma taxa de 6% de juros
sobre as despesas de viagem e com a manutenção de sua família, o que muitas
vezes, terminada a colheita, o deixava endivida-
ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO do. Resultado: o sistema de parceria fracassou.
Em 1871, mesmo ano em que foi aprova-
da a Lei do Ventre Livre, o governo paulista
instituiu a chamada imigração subvencionada,
que previa o uso de recursos públicos para
financiar a vinda de imigrantes para o Brasil.
Na nova modalidade de imigração, os eu-
ropeus trabalhavam em troca de um salário e
estavam livres das dívidas criadas no regime
anterior. Começava então no país a formação
de um mercado de trabalho livre, fundamenta-
do em uma ideologia de que o Brasil precisava
promover o branqueamento da sua população
para atingir os níveis de desenvolvimento da
↑ Família de Matteo Cortelletti, imigrante italiano que chegou ao Brasil em 1875, um Europa. Os sertanejos, os mestiços e os negros
ano depois que a expedição de 388 camponeses para o Espírito Santo inaugurou a foram excluídos do Brasil moderno e próspero
imigração em massa de italianos para o país. que se aspirava construir.
268 UNIDADE 4: O MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO