Page 267 - PNLD 2026 - HISTORIA
P. 267
Veja respostas e orientações havia 650 milhões de pés de café no Estado. Pode-se estimar MARC FERREZ
que, por volta dessa época, 10 mil km2 da floresta estadual
QUESTÕES no Manual do Professor. já haviam sido derrubados para acomodar o plantio desse
primeiro século.”
1. Atividade em dupla. O mapa da página anterior representa a DEAN, Warren. A ferro e fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica
expansão da lavoura cafeeira na região Sudeste do Brasil do
início do séc. XIX ao final do séc. XX. Com base nas informa- brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 232.
ções do texto e do mapa, respondam às questões a seguir.
a) Que impactos para o ambiente e para os povos indígenas ↑ Trabalhadores escravizados em colheita de café no Vale do Paraíba
a expansão do café certamente gerou naquela região? fluminense. Fotografia de Marc Ferrez, s/d.
b) Quais condições eram necessárias para a produção do
café e para o escoamento do produto em direção aos Até a década de 1860, o transporte do café dos
mercados consumidores? centros produtores aos portos era feito em lombos de
c) Como essas condições foram garantidas pelos proprietários mulas. O perigoso trajeto para os animais levava, po-
e pelo Estado brasileiro? rém, a muitas perdas da produção. Diante do interesse
em expandir os cafezais para áreas mais distantes, os
2. A economia cafeeira ajudou a impulsionar o desenvol- custos do transporte ficaram muito elevados. A solu-
vimento econômico e a urbanização da região Sudeste ção foi investir na instalação de estradas de ferro no
do Brasil, mas a um custo ambiental e humano muito Brasil. Até o final do período imperial, mais de 9 mil
alto. Atualmente, muitas atividades econômicas, como a quilômetros de ferrovias foram construídos no país,
mineração, também causam grandes impactos no Brasil. mais de 60% na região Sudeste, onde se concentrava
Com base nessas considerações, elaborem uma lista de praticamente toda a produção brasileira de café.
medidas que o Estado brasileiro, a iniciativa privada e a
sociedade civil deveriam tomar para promover o desen- Além das ferrovias, a economia cafeeira im-
volvimento econômico com a mitigação dos impactos pulsionou o desenvolvimento de outras atividades
causados por ele. econômicas que se articulavam em torno do café:
no campo, uma agricultura mercantil de alimentos
A grande lavoura cafeeira foi a principal res- e matérias-primas; nas cidades, um sistema bancá-
ponsável pela destruição de milhares de quilô- rio e comercial, além de um embrionário processo
metros de Mata Atlântica no Sudeste do Brasil. de industrialização. Essa diversificação econômica
As florestas eram derrubadas por trabalhadores se concentrou na região do Oeste Paulista; na re-
escravizados, com o uso de foices e de machados, gião do Vale do Paraíba, as formas de produção e a
um trabalho penoso e perigoso. As copas das ár- estrutura social se assemelhavam às da economia
vores eram arrancadas e, no período mais seco, açucareira do Nordeste.
entre o fim do inverno e o início da primavera, o
terreno era queimado. Em seguida, o local era lim- Com esse dinamismo econômico, os cafeicul-
po e se iniciava a plantação. Os pés de café eram tores do Oeste Paulista se transformaram, gradual-
colocados enfileirados. Em algumas fazendas, en- mente, em empresários, com negócios diversificados
tre as fileiras do café, os cativos podiam cultivar que iam além da produção agrícola. Na visão de
gêneros de subsistência, como milho, mandioca e muitos historiadores e economistas, em torno do
feijão. Essa prática beneficiava também os pro- café surgiu um complexo econômico cada vez mais
prietários, que assim reduziam os custos de ma- moderno, inserido no capitalismo internacional.
nutenção dos escravizados.
Entretanto, o uso intensivo da mão de obra es-
Sobre a devastação da Mata Atlântica durante cravizada era um elemento que mantinha a cafeicul-
a expansão cafeeira, o historiador estadunidense tura social e economicamente vinculada ao passado
Warren Dean escreve o seguinte: colonial. Esse aspecto começou a mudar a partir da
segunda metade do século XIX.
“As expectativas de investimentos duplicados, triplica-
dos, quadruplicados em valor em quatro anos alimentaram
uma impressionante expansão da derrubada da floresta pri-
mária. São Paulo foi a sede desse desenvolvimento frené-
tico. [...] O crescimento do café se irradiou para noroeste,
acompanhando a extensão da floresta primária rumo ao Rio
Paraná. As vias férreas, que logo passaram a ser financiadas
pelos próprios cafeicultores, acompanhavam essa derrubada.
[...] O plantio dobrou na década após a abolição, e em 1900
CAPÍTULO 21: A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL E O PERÍODO IMPERIAL 265