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↻	A crise do sistema escravista                           do negócio. Na década de 1840, segundo o historiador
                                                          inglês Leslie Bethell, o Brasil traficou mais de 33 mil
      O Brasil foi o último país da América a abolir      africanos por ano, número que entre 1846 e 1849 su-
a escravidão, atraso que revela a resistência dos         perou os 55 mil anuais.
proprietários em pôr fim às relações de trabalho
escravistas no país. A abolição resultou de vários              Com o tempo, as pressões inglesas passaram da via
anos de embates envolvendo a prática da escravidão        diplomática para ações mais agressivas. O marco dessa
no Brasil e no mundo. O primeiro embate esteve re-        nova estratégia foi a aprovação pelo Parlamento britânico
lacionado à manutenção do tráfico negreiro, prática       do Bill Aberdeen, em 1845, lei que autorizava a marinha
essencial para repor a mão de obra cativa no Brasil       do país a capturar navios negreiros em qualquer parte
e em outras colônias americanas.                          do Atlântico. A manutenção do tráfico de africanos, além
                                                          de imoral, estava se tornando dispendiosa e arriscada.
      Desde o início do século XIX, o comércio atlântico  Diante disso, em 1850, o Império Brasileiro decretou a Lei
de escravizados vinha sofrendo pressões por parte da      Eusébio de Queiroz, que proibia o tráfico negreiro para
Inglaterra. Em 1807, após uma disputa longa e acirrada,   o Brasil. Por sua vez, o tráfico interno, entre diferentes
o Parlamento britânico proibiu o tráfico negreiro para    províncias, não só se manteve como foi revigorado.
os súditos do reino. Em 1833, a Inglaterra aboliu a es-
cravidão em todas as suas colônias. As razões que le-     	↪	 A campanha abolicionista
varam o segundo país em número de embarcações no
comércio internacional de africanos a encabeçar a luta          A campanha abolicionista se intensificou a partir
pelo fim do tráfico é muito discutida na historiografia.  da década de 1870, envolvendo cativos e ex-cativos,
                                                          membros do Parlamento, grupos urbanos, profissio-
      Nos tratados de comércio e navegação assina-        nais liberais e uma parcela da imprensa, entre outros
dos entre D. João com a Inglaterra em 1810 já havia       setores da sociedade, que aos poucos ia se tornando
restrições à área em que as embarcações negreiras         mais urbanizada.
luso-brasileiras podiam atuar. Em 1826, por ocasião
das negociações pelo reconhecimento da indepen-                 Nesse contexto, duas propostas para o fim da
dência do Brasil, D. Pedro I assinou um acordo com a      escravidão no Brasil se consolidaram: uma, moderada,
Inglaterra comprometendo-se a acabar com o tráfico        defendia o fim da escravidão por meio de leis que pre-
de escravizados em três anos. Em 1831, após a ab-         servassem os direitos de propriedade, o que significava
dicação do imperador, o governo regencial aprovou a       indenizar os senhores pela perda de sua mão de obra.
primeira lei proibindo a entrada de escravizados em       A outra, mais radical, defendia que o fim da escravidão
todo o Brasil. A lei, no entanto, nunca foi cumprida.     deveria ser produto de um movimento popular lidera-
                                                          do pelos próprios escravizados e vir acompanhado de
      A ofensiva externa pelo fim do tráfico negreiro     uma reforma agrária, de indenização aos escravizados
despertou nos proprietários o temor da falta de mão       e da garantia de acesso a direitos sociais.
de obra. Assim, a segunda escravidão ficou também
marcada pelo aumento da demanda por escravizados,
que ficaram mais caros, e pela grande lucratividade

                                                                                                                      AUGUSTUS EARLE/MUSEU BRITÂNICO, LONDRES

      ↑ Mercado de escravos em Pernambuco, gravura de Augustus Earle produzida em 1824.

266 UNIDADE 4: O MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO
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