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↻ A origem e a expansão do islã Os árabes do norte falavam o árabe, língua que
mais tarde se impôs em toda a Arábia. Eles viviam
Com cerca de 2 bilhões de fiéis em 2023, o islã, da criação de rebanhos e do comércio de caravanas.
ou islamismo, é a religião que mais cresce no mundo. Em camelos, os mercadores atravessavam toda a
Os adeptos dessa religião são maioria nos países do península transportando mercadorias, parando nos
Oriente Médio, à exceção de Israel, no norte, nordeste oásis ou nas proximidades dos poços de água para
e noroeste da África, em vários países da Ásia central descanso e abastecimento. Eles também estabe-
e na Indonésia, além de reunir, na Europa, mais de 50 leciam contatos comerciais com o Egito, a Síria,
milhões de seguidores. A América Latina é a única re- a Palestina, a Mesopotâmia, a Pérsia e o Império
gião do mundo onde o islã apresenta uma taxa de cres- Bizantino. Os habitantes do norte e do sul eram
cimento muito baixa comparada à de outras regiões. politeístas, ainda que houvesse diferenças entre as
divindades e os ritos que praticavam. Havia também
O principal fator que explica o crescimento do islã no território comunidades cristãs e judaicas, que
no mundo é o perfil demográfico dos fiéis. Eles são habitavam sobretudo o sul da península.
mais jovens, e as mulheres tendem a ter mais filhos
que as de outras crenças ou das que não professam EZGI EROL/SHUTTERSTOCK.
nenhuma religião. Na Europa, o aumento da população
muçulmana tem relação direta com a chegada de imi- DIEGO GRANDI/SHUTTERSTOCK.
grantes e refugiados, que aumentou consideravelmen-
te nos últimos anos em decorrência da guerra civil na ↑ Detalhes, respectivamente, das colunas e do teto do interior da
Síria e das dificuldades econômicas enfrentadas pelo Mesquita-Catedral de Córdoba, na Espanha, construída no século VIII,
Afeganistão, Iraque e países africanos. durante o domínio árabe na Península Ibérica. Fotos de 2022.
À medida que o islã cresce no Ocidente, au- Beduíno: palavra de origem árabe que significa “nômade do deserto”, referindo-se
mentam também os casos de islamofobia, ou seja, aos desertos da Arábia e do norte da África.
de hostilidade contra os adeptos dessa crença. Por
preconceito ou desinformação, muitos ocidentais Camelo: gênero da família camelidae que inclui duas espécies ainda vivas: o ca-
associam o islã ao terrorismo e ao atraso e defen- melo-asiático, com duas corcovas, e o camelo-árabe ou dromedário, com uma só
dem a restrição da entrada de imigrantes oriundos corcova. O animal utilizado nas caravanas de mercadores do norte da África e do
dos países muçulmanos. Porém, contrariando a visão Oriente Próximo (que inclui a Península Arábica) é o camelo-árabe ou dromedário.
negativa que domina o imaginário ocidental, a histó-
ria do islã nos impressiona com suas realizações nas
ciências, na arquitetura, na disseminação de plantas
e no comércio internacional.
Os monumentos árabes nas cidades andaluzes
da Espanha são a prova da capacidade criativa dessa
brilhante civilização.
↪ A Arábia pré-islâmica
O islã nasceu na Península Arábica, um terri-
tório desértico localizado entre o Golfo Pérsico, a
leste, o Mar Vermelho, a oeste, o Oceano Índico, ao
sul, e a Ásia Menor e a região do Levante, ao norte. O
deserto é entrecortado por vários oásis, que ofere-
ciam condições para a sobrevivência dos moradores
e para a realização do comércio de caravanas.
O território se dividia em duas regiões muito dis-
tintas. No sul, o clima mais ameno e a facilidade de
comunicação com o Egito e as sociedades do entor-
no do Golfo Pérsico permitiram o desenvolvimento
da agricultura, de uma dinâmica atividade comercial
e a formação de importantes reinos. Os habitantes
da parte sul, chamada de Arábia Feliz, falavam uma
língua aparentada do árabe. A parte norte e central
da península, marcada por desertos, era habitada por
beduínos nômades ou semissedentários. Eles tinham
uma organização do tipo tribal, em que as famílias,
unidas por laços de parentesco, acreditavam descen-
der de um ancestral em comum.
CAPÍTULO 7: A EUROPA, A ÁFRICA E O ISLÃ ENTRE OS SÉCULOS VII E XV 91