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↪ A Europa feudal: o predomínio No século XIII, essas inovações agrícolas tinham
da agricultura se difundido pela maior parte do Ocidente europeu.
O resultado foi o aumento da produtividade da agri-
As incursões dos séculos IX e X acentuaram a cultura medieval, ou seja, da capacidade de produzir
preponderância da agricultura na economia medie- mais com menos custos e menos terras. À elevação
val. A unidade agrícola produtiva recebia o nome de do nível técnico da agricultura somou-se a expansão
senhorio. Formado desde os primeiros séculos da das terras cultiváveis por terrenos baldios e áreas
Idade Média, o senhorio mudou algumas de suas antes ocupadas por florestas.
características ao longo do tempo. Ele se dividia
basicamente em duas partes: R.-G. OJÉDA/MUSEU CONDÉ, CHANTILLY, FRANÇA
• Reserva senhorial: De uso exclusivo do senhor, ↑ Iluminura do mês de março do livro Riquíssimas horas do Duque de
englobava a residência, o celeiro, o moinho, o Berry, feita pelos irmãos Limbourg, início do século XV. Museu Condé,
estábulo, a oficina artesanal e as terras cul- Chantilly, França.
tiváveis. As fontes indicam que a reserva do
senhor representava de 20% a 40% das terras QUESTÕES Veja respostas e orientações
do senhorio. no Manual do Professor.
• Reserva camponesa: Formada pelo conjunto 1. A imagem traz alguns elementos característicos da Europa
das instalações exploradas por servos e cam- feudal. Identifique esses elementos e os descreva.
poneses livres. O manso servil, como passou a
ser chamado mais tarde, garantia a subsistên- 2. O livro de horas, modelo de livro privado de orações,
cia dos camponeses, em troca da prestação de desenvolveu-se ao longo do século XIV. Ele continha um
serviços ao senhor. calendário ilustrado com cenas do cotidiano. O que essa
As áreas de pastagens e as florestas eram, por iluminura do mês de março de um livro de horas nos diz
sobre a visão de tempo para a sociedade medieval?
costume, exploradas por todos os moradores. A eco-
nomia no senhorio tendia a ser autossuficiente, ou PARA LER
seja, a produzir tudo o que fosse necessário à sobre-
vivência das pessoas que nele viviam. Mesmo assim, A Idade Média explicada aos meus filhos
há evidências de trocas feitas entre camponeses de Autor: Jacques Le Goff
diferentes senhorios e da aquisição de produtos de Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.
fora por parte dos senhores.
Escrita na forma de diálogo, essa obra mostra a face opressora da Idade
Os grandes domínios senhoriais pertenciam geral- Média, mas também seu lado criativo e inspirador.
mente à Coroa, aos nobres mais poderosos e à Igreja.
O sistema de cultivo da terra mantinha-se basicamen- Alfanje: lâmina de metal plana e longa, com um cabo de madeira curto, uma
te o mesmo desde a Antiguidade. Adotava-se na maior aresta afiada e outra cega, usada para o corte de cereais e a limpeza de arbustos.
parte das regiões o sistema bienal de culturas. A terra
era dividida em duas partes: em um ano, uma parte
era cultivada e a outra permanecia em repouso, inver-
tendo-se no ano seguinte, e assim sucessivamente.
O sistema trienal, utilizado em áreas da Alemanha
e dos Países Baixos desde o século VIII, disseminou-se
por outras regiões da Europa entre os séculos XI e XII.
Nesse sistema, no primeiro ano, enquanto uma parte
da terra ficava em repouso, as outras duas produziam,
cada uma, um tipo diferente de cereal. O rodízio se
completava no terceiro ano. O sistema trienal foi uma
das grandes inovações agrícolas da Europa medieval,
pois permitiu obter duas colheitas anuais: uma de in-
verno e outra de primavera.
Outras inovações na agricultura medieval foram
a introdução do alfanje, o desenvolvimento de uma
nova forma de atrelamento dos animais, em que
eles passaram a ser presos pelo dorso e não mais
pelo pescoço, e a difusão dos moinhos de vento e de
água. Ao lado do sistema trienal, a grande inovação
técnica foi a introdução do arado charrua. O equi-
pamento, puxado por bois ou cavalos e composto
de várias peças de ferro, abria buracos na terra,
revirava o solo e enterrava o esterco ao longo de
uma extensa área cultivável.
CAPÍTULO 7: A EUROPA, A ÁFRICA E O ISLÃ ENTRE OS SÉCULOS VII E XV 87