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ALBUM / RAMON MANENT A guerra para o nobre, mais que um dever na de-
fesa da Igreja, do rei ou de sua linhagem, era a razão
de viver. A virtude de um nobre estava na coragem,
na audácia e na indiferença diante da morte. A guerra,
como origem da honra e fonte de alegria, era o que dis-
tinguia o nobre das pessoas comuns. Segundo a virtude
guerreira da nobreza medieval, mais valia um cavaleiro
morto em combate que um vivo e vencido.
Ao longo do século XII, no contexto das guerras
contra os muçulmanos pela reconquista de Jerusalém,
adotou-se a regra de que o postulante à missão de
cavaleiro no combate aos “infiéis” deveria ser filho de
cavaleiros. O direito a vestir o manto branco em defesa
da Igreja transformou-se em privilégio hereditário. No
século seguinte, consolidou-se, dessa forma, a cama-
da social dos nobres cujos privilégios e direitos tinham
origem no nascimento, sendo portanto transmitidos aos
descendentes.
Com isso, cresceram as hostilidades dos campo-
neses e dos setores urbanos contra os nobres, des-
contentes com os privilégios exclusivos da classe da
espada. O resultado central dessas mudanças foi a
formação de uma sociedade rigidamente estratificada
e hierarquizada, predominante na Europa feudal nos
séculos XIII e XIV.
Não havia, na sociedade feudal, uma fronteira
claramente definida entre o grupo dos eclesiásticos
e a população leiga. Entre os monges, que compu-
nham o clero regular, havia desde administradores
de grandes fortunas até homens humildes, que nos
mosteiros viviam em condições de pobreza. O mesmo
↑ Nobre prestando homenagem ao rei em cerimônia de vassalagem, ocorria no clero secular. Os cúrias de paróquias e
ilustração do Grande livro dos feudos, séculos XII-XIII. Nessa cerimônia, aldeias, com pouca instrução e parcos rendimentos,
o nobre, ao receber o feudo, transformava-se em vassalo daquele que o levavam uma vida modesta, longe das famílias aris-
concedeu. O suserano, que concedia o feudo, podia ser outro nobre ou o tocráticas de maior prestígio.
próprio rei.
A distinção social do clero era exclusiva dos car-
gos elevados da Igreja. Oriundos em geral das famílias
aristocráticas, eles compartilhavam com a grande nobreza o topo da hierarquia
da sociedade feudal. Ocupados com as tarefas religiosas, os diferentes escalões
do clero garantiam seu sustento com as doações feitas pelos fiéis, a cobrança
do dízimo e os rendimentos dos senhorios. A prática do homem medieval de
confiar ao clero a guarda de pequenas e grandes fortunas transformou a Igreja
em detentora de um elevado patrimônio material.
Para ler As camadas urbanas
A Idade Média contada aos Por volta do século XI, iniciava-se na Europa um período de profundas mu-
meus sobrinhos danças, em que se destacavam a expansão do comércio e do uso da moeda, o
Autora: Régine Pernoud crescimento urbano e o aumento populacional. Com nomes que variavam de
Niterói: Trilha Literária, 2001. região para região, esses centros urbanos que se formavam ou eram revigorados
ficaram conhecidos como burgos. Nesses novos espaços, surgiu uma camada
Obra destinada aos jovens ampla e diferenciada de profissionais ligados às atividades urbanas. Por habi-
leitores que traz narrativas tarem os burgos, eles se tornaram conhecidos como burgueses.
medievais de origem celta
e cristã, com xilogravuras Os habitantes dos burgos viviam basicamente das trocas comerciais, das
inspiradas na arte medieval. Uma atividades bancárias e do artesanato. Ávidos por ampliar seus lucros, eles logo
leitura para despertar o prazer colidiram com os obstáculos criados pelo regime feudal: cobrança de direitos
pelo estudo da Idade Média. de passagem ao percorrer as estradas, lentidão da justiça tradicional, barreiras
que se somavam aos privilégios fiscais desfrutados pela Igreja e pela nobreza.
O sentimento comum de oposição à hierarquia da sociedade feudal anunciava
a destruição daquele sistema.
CAPÍTULO 7: A EUROPA, A ÁFRICA E O ISLÃ ENTRE OS SÉCULOS VII E XV 89