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↪ A sociedade feudal: Os foreiros em condição servil descendiam em REPRODUÇÃO/COLEÇÃO UB HEIDELBERG, DRESDEN, ALEMANHA
hierarquização e dependência sua maioria de antigos escravos do mundo romano. A
pessoal crescente cristianização da Europa inibiu a manuten-
ção de escravos cristãos. Aconselhados pela Igreja, os
Do topo às camadas subalternas, a sociedade senhores, cada vez mais, passaram a conceder a liber-
feudal pode ser descrita como uma grande rede de dade a seus escravos. Ao serem libertados e reduzidos
laços de dependência pessoal, em que a posição de à servidão, os ex-cativos recebiam a terra e a prote-
cada grupo de indivíduos dependia de seu papel nas ção do senhor, mas também arcavam com a talha, a
relações de trabalho, do poder que desfrutava e de corveia e outras obrigações exigidas dos camponeses.
seu prestígio. Os laços de sujeição individual come-
çaram a ser estabelecidos entre donos de senhorio Os nobres e os clérigos
e foreiros, ainda no Império Romano.
Foi no decorrer do século XI, e principalmen-
Em troca de proteção e do direito de explorar te no século XII, que a nobreza, mesmo não sendo
uma parte do senhorio, os foreiros pagavam uma ainda definida juridicamente, passou a designar um
taxa aos senhores, inicialmente em dinheiro e mais grupo social que se caracterizava pela fortuna, pelo
tarde na forma de trabalho executado nas reservas poder que exercia sobre um grupo de indivíduos de-
senhoriais. O senhor oferecia a terra, e o foreiro, a pendentes e por adotar um estilo específico de vida.
mão de obra que garantia a exploração dos campos Classe fundiária, sua fortuna vinha da terra e da
e o sustento da família senhorial. Por volta do sé- exploração dos camponeses.
culo IX, essas relações de dependência que uniam
duas ou mais pessoas se estenderam para outros O estilo de vida da nobreza se caracterizava pela
grupos sociais. prática da caça e dos torneios, que eram simulações
de combate, e principalmente pela vocação guerreira.
A camada social dos camponeses Enquanto os soldados da infantaria combatiam no
solo, os nobres, do alto de seus cavalos, exibiam com
Na base da sociedade feudal estavam os cam- orgulho seu equipamento de guerra. Por essa razão,
poneses. Foreiros dos primeiros tempos da Idade com o tempo, o termo “cavaleiro” tornou-se sinônimo
Média, eles tinham direito a explorar suas terras de “nobre”, e o termo “infante”, de classe inferior.
agrícolas, localizadas no senhorio, em troca de al-
guns encargos. Eles construíam muros e faziam re- ↑ Cena de torneio representada no Codex Manesse, produzido entre 1305 e
paros no castelo senhorial, serviam como criados ou 1340, provavelmente por Johannes Hadlaub, o mais importante manuscrito
soldados de infantaria no exército da aldeia, cediam alemão da Idade Média, que representa, nas cenas que ilustram a obra, o
suas casas aos hóspedes do senhor, transportavam valor da guerra para a aristocracia medieval.
vinho ou sacos de trigo de uma residência a outra,
entre outras tarefas.
Além dessas obrigações, os camponeses ar-
cavam com o pagamento do dízimo, destinado à
Igreja, e da corveia, que correspondia ao trabalho
gratuito nas terras do senhor. O tributo mais odiado
pelos camponeses era a talha. Com variações en-
tre cada região da Europa medieval, a talha era um
tributo anual de ajuda ao senhor. Pago inicialmente
em dinheiro, no valor estipulado pelo senhor, com o
tempo, à medida que as moedas escassearam, esse
tributo passou a ser pago em produtos.
Os camponeses podiam ser livres ou reduzidos
à servidão. Os foreiros livres, também chamados
de vilões, descendiam em geral dos antigos colonos
das terras romanas. Embora fossem juridicamente
livres, sua condição real não se diferenciava muito
da dos demais camponeses dependentes. Eles es-
tavam impedidos de ingressar nas ordens religiosas,
casar-se fora do senhorio e contrair matrimônio com
pessoas completamente livres.
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