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Separando os elementos sagrados dos profanos, Durkheim percebeu que
as sociedades tendem a escolher objetos, práticas e concepções de mundo que
se tornam o centro de adoração e reverência dos grupos. Com base neles, se
estabelecem regras de comportamento, normas, valores, identidades e víncu-
los que condicionam as formas de ser e viver dos indivíduos em comunidade.
Para o sociólogo francês, portanto, as divindades constituem uma importante
construção humana e de grande valor social.
→Durkheim estudou o CHAMELEONSEYE/SHUTTERSTOCK
totemismo nas sociedades
aborígenes australianas para
embasar a sua discussão sobre
a Sociologia da religião. Na
imagem, aborígenes australianos
durante uma dança cerimonial
em Queensland, Austrália. Foto
de 2023.
Karl Marx: a religião legitima a dominação
Apesar de não ter se dedicado diretamente ao estudo das religiões em suas
obras, Marx não deixou de enfatizar que elas atuavam como forças importantes
no processo de alienação dos seres humanos. Assim como o direito, a política
e a moral, a religião para ele é uma das múltiplas formas de ideologia, gerando
representações e formas de ler o mundo e de consciência diretamente vincula-
das às relações de produção e às relações sociais decorrentes desse processo.
Ao atuar como ideologia, a religião legitima as desigualdades decorrentes do
sistema e impede que os seres humanos percebam as formas de dominação a
que estão submetidos pela lógica de produção capitalista. Dessa concepção deri-
va uma das mais célebres frases de Marx, presente na obra Crítica da filosofia do
direito de Hegel: “A religião é o ópio do povo”. Assim como uma droga, a religião
entorpeceria os sentidos e a consciência dos seres humanos, afastando-os dos
problemas gerados pelo capitalismo. Daí a necessidade de superar o discurso e
a dominação ideológica da religião para ser capaz de perceber as desigualdades
e atuar para combatê-las.
Max Weber: religião e mudança social
Max Weber foi um dos sociólogos que mais contribuíram para o estudo das
religiões, ao elaborar um arrojado projeto de investigação histórica e sociológica
sobre as grandes religiões do mundo. A seu ver, a religião é uma importante
esfera de produção de significados e representações culturais para a vida social,
e, por meio da mediação desses elementos, os indivíduos criam suas formas de
interpretar o mundo e agir nele.
Em um dos seus estudos mais famosos, A ética protestante e o espírito do
capitalismo, o autor apontou que a concepção de mundo do protestantismo
provocou mudanças nos valores, condutas e significados relativos ao trabalho
e ao lucro, que incidiram diretamente na forma como os indivíduos passaram a
atribuir significados às transformações capitalistas e a se relacionar com elas.
Dessa maneira, Weber propõe uma discussão contrária à de Marx, na medida
em que defende que a religião pode afetar e alterar as relações econômicas,
em vez de apenas legitimar essas relações.
Apesar de suas divergências sobre o papel da religião na vida social, Marx,
Durkheim e Weber acreditaram que a modernização decorrente do capitalismo le-
varia a um processo de secularização, em que a esfera religiosa seria gradativamente
substituída por outras formas de explicação e representação da realidade, como a
ciência. Weber chamou esse processo de desencantamento do mundo, que, entre ou-
tras coisas, acarretaria o progressivo afastamento dos indivíduos do mundo religioso.
CAPÍTULO 3: AS INSTITUIÇÕES SOCIAIS 41