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↻ Berkeley: ser é ser percebido JOÃO PRUDENTE/PULSAR IMAGENS
O filósofo e bispo irlandês George Berkeley foi leitor de Descartes e de
Locke e deles recebeu forte influência, mas desenvolveu uma concepção de
conhecimento original, distanciando‑se dos dois pensadores. Suas preocupa‑
ções eram mais religiosas que filosóficas. Ele buscava, sobretudo, combater o
ceticismo, o materialismo e o ateísmo.
Assim como Locke, Berkeley acreditava que o objeto do conhecimento ime‑
diato era a ideia, ou seja, por meio da sensação as ideias apareciam na mente.
A percepção sensível era, dessa maneira, a fonte imediata do conhecimento.
No entanto, diferente de Locke, Berkeley não era adepto da tese de que a causa
das percepções eram os objetos sensíveis externos ao ser humano, os quais o
afetavam e provocavam sensações.
“Entre os homens prevalece a opinião singular de que casas, montanhas, rios, todos os
objetos sensíveis têm uma existência natural ou real, distinta da sua perceptibilidade pelo es‑
pírito. Mas [...] quem tiver coragem de discuti‑lo compreenderá, se não me engano, que envolve
manifesta contradição. Pois que são os objetos mencionados senão coisas percebidas pelos
sentidos? E que percebemos nós além das nossas próprias ideias ou sensações?”
BERKELEY, George. Tratado sobre os princípios do conhecimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 19‑20.
(Coleção Os Pensadores).
Retomemos a tese de Locke para verificar a diferença entre o pensamento
dele e o de Berkeley. Pense, por exemplo, que você está em frente a uma mesa.
Pela visão, você pode perceber a forma da mesa; pelo tato, sente sua aspereza
ou lisura. Há características da mesa que afetam seus órgãos dos sentidos, e
essa percepção é acompanhada de imagens ou ideias. O que acontece com a
mesa é válido para todos os objetos. Pode‑se dizer que as coisas sensíveis que
existem externamente ao ser humano são a causa das percepções ou das ideias
imediatas formadas sobre essas coisas.
↑ Vista do centro histórico de Ouro Preto (MG). Foto de 2016. De acordo com George Berkeley, admitir, por
exemplo, a existência de casas em uma realidade material que ultrapassa os sentidos é apenas uma suposição,
pois os objetos sensíveis só podem ser concebidos como percebidos pela mente, e não como existentes fora dela.
No pensamento de Berkeley, por sua vez, a existência de substâncias materiais
fora da mente é apenas uma suposição, uma invenção. A existência de casas, mon‑
tanhas, rios e mesas fora da mente é uma suposição que realizamos no momento
152 UNIDADE 3:O MUNDO QUE CONHECEMOS