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Assim, existem diversas vivências da mente, cada uma delas com essências         NEW AFRICA/SHUTTERSTOCK
                                               (sentidos ou estruturas essenciais) diferentes. A fenomenologia busca tratar das
                                               experiências da consciência e de suas essências.

                                  	↪	 O retorno às coisas mesmas

                                                     Para a fenomenologia de Husserl, as essências são intuídas (captadas) com
                                               base no próprio fenômeno, ou seja, naquilo que se forma na consciência. Elas
                                               são os modos de apresentação dos fenômenos.

                                                     Então, para se chegar às essências, deve-se abandonar tudo o que houver de
                                               factual e contingente nas intuições e investigar as condições necessárias para a
                                               realização das experiências da consciência. Seguindo esse caminho, Husserl aponta
                                               ser indispensável investigar como as coisas aparecem na consciência, ou seja, como
                                               os fenômenos são dados imediatamente a ela. A fenomenologia é um método in-
                                               vestigativo que procura descrever as essências, as coisas mesmas.

                                  		↪ A consciência é intencionalidade

                                                     A fenomenologia é, então, o estudo e a descrição das essências ou dos sentidos
                                               dos fenômenos que aparecem à consciência. Mas o que é consciência para Husserl?

                                                     A principal característica da consciência é a intencionalidade, conceito que
                                               Husserl assimilou do padre e filósofo alemão Franz Brentano (1838-1917). Isso signi-
                                               fica que a consciência sempre se refere ou se dirige a um objeto. Perceber, imaginar,
                                               pensar e lembrar-se é sempre perceber, imaginar, pensar e lembrar-se de alguma
                                               coisa. Não é possível separar o perceber do percebido, o imaginar do imaginado, o
                                               pensar do pensado, o lembrar-se do lembrado, e assim por diante. Todos os nossos
                                               atos da consciência são, desse modo, sempre dirigidos a um objeto.

                                                     Suponha que você esteja ouvindo sua canção favorita. Nesse momento, sua
                                               consciência está voltada para a música. Agora, procure vivenciar mentalmen-
                                               te outra experiência: lembre-se de algum momento importante de sua vida.
                                               Para recordar, sua consciência tem de visar a esse momento específico – por
                                               exemplo, um jantar especial com a família. Quando você imagina como será seu
                                               futuro, novamente sua consciência tem de dirigir a atenção para algo imaginado.
                                               Todas essas vivências, embora diferentes, indicam a intencionalidade como a
                                               característica central da consciência. Quer dizer, os atos de nossa mente sempre
                                               se referem ou se dirigem a algo: eles se voltam para uma lembrança do passado,
                                               se detêm em uma sensação do presente ou se projetam para o futuro.

       → Na fenomenologia do
       francês Merleau-Ponty
       (1908-1961), o sujeito dá
       sentido ao mundo, em
       primeiro lugar, por meio
       da experiência sensorial.
       Desse modo, sentimentos
       podem ser associados à
       memória olfativa. O sujeito
       é considerado um corpo no
       mundo, e é pelo corpo que
       começa a ter consciência de
       si e de tudo o que o rodeia.

276 UNIDADE 5: O MUNDO EM CONFLITO
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