Page 276 - PNLD 2026 - FILOSOFIA
P. 276
↻ Fenomenologia: a ciência das essências DOMINIQUE FAGET/AFP
↑ Concerto em sala da Filarmônica de Paris, França, 2015. Imagine que você esteja nesse
concerto, ouvindo as músicas. Para além da captação dos sons dos instrumentos pela sua
percepção auditiva, haveria algo de essencial nessa experiência sonora?
Vimos que Gottlob Frege e boa parte dos filósofos analíticos acreditavam
que o sentido de uma proposição seria o que se poderia compreender. Ele se
distinguiria tanto da referência quanto da representação e, apesar de não ser
algo físico – de o sentido não ocupar lugar no espaço –, seria objetivo, pois
poderia ser apreendido por um conjunto de pessoas.
O filósofo alemão Edmund Husserl (1859-1938) também procurava precisão
e clareza no que as pessoas pensavam. Ele investigou o sentido que os indiví-
duos davam às coisas e desenvolveu uma teoria da significação. Sua abordagem,
entretanto, não se reduziu à linguagem. Vejamos alguns aspectos de sua filosofia,
a fenomenologia, que influenciou diversos filósofos – como Martin Heidegger,
Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-Ponty – e correntes filosóficas, entre as
quais a hermenêutica e a existencialista.
↪ Intuição de fatos e essências
Em suas investigações, Husserl estabeleceu uma distinção entre fatos e
essências. Por meio da percepção, apreendemos o mundo ou as coisas que
existem nele. Percebemos a árvore de um jardim, a cadeira da sala de aula, o
cachorro do vizinho, o canto de um pássaro ou os olhos de uma pessoa. Temos,
portanto, experiências perceptivas com as coisas físicas do mundo. A percepção
ou a intuição perceptiva nos oferece continuamente dados de fatos.
Um fato acontece em determinado tempo (momento) e espaço (lugar), e é
contingente, ou seja, pode ou não acontecer. Por exemplo, o canto do bem-te-vi
que ouço agora e vem daquele jardim poderia não existir.
Quando o canto do bem-te-vi se apresenta à nossa consciência, captamos
algo além do fato contingente do som do pássaro; captamos algo universal. A
essência do canto do bem-te-vi é ser som. Podemos dizer o mesmo do latido de
um cachorro ou do miado de um gato. Embora essas manifestações sejam dife-
rentes, há algo comum a elas, uma essência: a de ser um som. Outro exemplo:
podemos desenhar um triângulo de várias maneiras – no caderno, com caneta;
no quadro, com giz. Cada triângulo desenhado tem sua particularidade e sua
contingência. No entanto, todos têm em comum a essência de ser um triângulo.
274 UNIDADE 5: O MUNDO EM CONFLITO