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As diferenças entre países e culturas engendram problemas éticos. Essas                      MATYAS REHAK/SHUTTERSTOCK
                                              diferenças devem ser respeitadas de maneira absoluta? Por exemplo, organi-
                                              zações internacionais como a ONU devem ou não interferir em um país em que
                                              a escravidão é disseminada? Onde a mutilação do órgão sexual feminino faz
                                              parte de procedimentos culturais? Onde a prática de apedrejamento por adul-
                                              tério é frequente, ou uma minoria religiosa é massacrada? Será que isso não é
                                              impor um padrão relativo como se fosse universal? Em contrapartida, permitir
                                              a manutenção de situações que ferem a dignidade humana não é controverso?

                                                     E os países que dirigem a ONU não têm objetivos particulares? Não ma-
                                              nipulam essa organização para que ela atue de acordo com seus interesses?
                                              Por trás da neutralidade e da defesa de valores e de direitos universais não se
                                              escondem interesses particulares? A declaração não reflete uma visão muito
                                              ocidental ou capitalista do mundo?

                                                     Todas essas reflexões são importantes e evidenciam o caráter atual das
                                              discussões entre os sofistas e Sócrates/Platão. A reflexão ética é cada vez mais
                                              complexa, porque cada vez mais complexo é o mundo em que vivemos. Não
                                              há respostas simples. Isso não deve nos inibir de defender a dignidade huma-
                                              na, entendida como o princípio de que cada pessoa é um fim em si mesma.
                                              Também devemos lutar para que toda pessoa possa viver de maneira digna, de
                                              defender ideais humanos, de reivindicar o direito de todos a condições sociais,
                                              econômicas e políticas para se desenvolver e usufruir plenamente da vida. DOC.1

                                                     Dessa maneira, os direitos e os valores humanos universais são entendidos
                                              como um projeto em contínua construção. Essa construção diária deve envol-
                                              ver toda a sociedade e os integrantes dos setores que ainda não conquistaram
                                              esses direitos ou não tiveram esses valores realmente incorporados à sua vida.
                                              Direitos e valores como liberdade, justiça e educação ainda estão longe de ser
                                              conquistados em muitas partes do mundo. Denúncias de trabalho em condições
                                              análogas à escravidão, analfabetismo, falta de liberdade de expressão, prisões
                                              por motivos políticos e torturas são recorrentes.

                                                       ↑ Cada cultura tem sua forma de existência, sua organização social, suas tradições e seus
                                                       valores. O desafio da Declaração Universal dos Direitos Humanos é instituir valores que
                                                       possam conviver com a multiplicidade das sociedades humanas.

52 UNIDADE 1: O MUNDO EM EXPANSÃO
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