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Sugerimos esclarecer aos estudantes    importante cidade-Estado do mundo grego na época. Eles eram professores
a diferença entre democracia direta    profissionais – os primeiros na história do Ocidente – que ensinavam jovens
(praticada em Atenas, na Antiguidade)  interessados em especializar-se em alguma técnica ou ofício e em participar dos
e democracia indireta (ou represen-    negócios da pólis. Transmitiam conhecimentos úteis a todos os que estivessem
tativa). No modo direto, os cidadãos   dispostos a pagar pelos seus ensinamentos.
discutem e votam diretamente sobre
os assuntos de governo. No modo              Muitos sofistas ressaltaram o contraste entre a destinação natural e a desti-
indireto, os cidadãos elegem seus      nação social do ser humano. Alguns, seguindo a tradição aristocrática, defendiam
representantes, como acontece no       o caráter necessário e imperativo das leis, costumes e valores da sociedade, pois
Brasil hoje. Vale destacar o fato de   afirmavam que eram naturais (physis) e não dependiam da vontade humana.
que, na democracia indireta, cabe      Outros diziam que as leis humanas não eram universalmente obrigatórias, pois
aos cidadãos acompanhar a atuação      eram criadas por convenção (nomos), não sendo, por esse motivo, absolutas,
dos representantes eleitos.            mas relativas, variando sua conveniência de cidade para cidade.

                                             A contraposição entre nomos e physis – o que é por natureza e o que é
                                       por convenção, o que não pode mudar e o que é contingente – estendeu-se a
                                       diversos assuntos na Atenas daquele período (séculos V e IV a.C.). Por exemplo,
                                       discutia-se se os deuses existiam de fato – isto é, por physis – ou se eram cria-
                                       ções humanas por nomos; se as cidades se constituíram por ordenação natural
                                       ou por nomos; se, entre os seres humanos, as distinções sociais eram naturais
                                       ou decorrentes de convenção social; se a escravidão era natural ou convencional,
                                       ou seja, se o indivíduo era escravo por natureza ou não. As polêmicas também
                                       alcançaram os valores ou os conceitos morais, como justiça e injustiça, verdade
                                       e mentira ou bem e mal.

                                                                           A democracia ateniense

                                               As pólis, cidades-Estado gregas da Antiguidade, apesar da língua e de
                                         muitos elementos culturais em comum, eram independentes umas das ou-
                                         tras. Tinham instituições políticas, jurídicas e militares próprias e buscavam
                                         ser economicamente autossuficientes.

                                               A pólis representava uma comunidade cívica, ou seja, de cidadãos. Vale
                                         lembrar, porém, que a cidadania na Grécia antiga não era estendida às mulhe-
                                         res, às crianças, aos estrangeiros e às pessoas em situação de escravidão. Era
                                         um direito concedido apenas aos homens adultos livres nascidos na cidade.

                                               A maior pólis foi Atenas, onde, no século V a.C., a democracia atingiu
                                         sua plenitude. Nas assembleias, os cidadãos atenienses tinham os direitos
                                         de opinar e de votar sobre as decisões que se referiam ao destino da pólis.
                                         Nesse contexto, os sofistas se ocupavam em ensinar, sobretudo, os jovens
                                         a serem virtuosos políticos ou cidadãos aptos a ocupar cargos de destaque
                                         nos negócios da cidade.

                                       REPRODUÇÃO/ARQUIVO DA EDITORA

                                       ← Pintura
                                       de Philipp
                                       Foltz, do
                                       século XIX,
                                       representando
                                       um discurso
                                       do estadista
                                       grego
                                       Péricles.

                                       CAPÍTULO 4: A DESCOBERTA DO SER HUMANO E A VIDA EM SOCIEDADE: OS SOFISTAS            47
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