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“Arbitramos possuir a ciência absoluta de algo e não, ao modo dos sofistas, de um modo EGBERTO NOGUEIRA/ÍMÃFOTOGALERIA/
acidental, quando julgamos que conhecemos a causa pela qual esse algo é, quando sabemos
que essa causa é a causa desse algo, e quando, além disso, não é possível que esse algo seja
outro que não este.”
ARISTÓTELES. Organon IV: analíticos posteriores. Lisboa: Guimarães, 1987. p. 12.
Com base na filosofia de Aristóteles, podemos dizer que o conhecimento
científico se caracteriza pela busca das causas. Diferentemente do conheci-
mento adquirido pela percepção ou pela experiência, a ciência revela a causa, o
porquê de a coisa ou o fenômeno investigado ser da maneira que é. A ciência in-
vestiga uma causa que seja fundamental e necessária, isto é, que não possa ser
de outra maneira. Identificar a causa necessária de algo é saber o que esse algo
é, conhecer sua essência, aquilo que não muda. O conhecimento pelas causas
necessárias se distingue do conhecimento do sofista, cujo saber aparente está
alicerçado no contingente, naquilo que pode ser de uma maneira ou de outra.
Para avançarmos na compreensão da filosofia aristotélica, vamos entender
melhor a diferença entre necessidade e contingência.
↑ Por meio de criteriosos métodos, os cientistas buscam explicações e soluções para fenômenos que não
podem ser esclarecidos pela simples observação. Isso ocorre, por exemplo, nas pesquisas que envolvem a
descoberta da cura de doenças ou dos meios de preveni-las. Na imagem, cientistas desenvolvem pesquisa
relacionada à covid-19, em Manaus (AM). Foto de 2021.
↪ O necessário e o contingente
Podemos dizer muitas coisas a respeito de um ser humano. Podemos afir-
mar, por exemplo, que uma mulher é inteligente, negra, tem cabelos encaracola-
dos e olhos castanhos. Descrevemos um homem como barbudo, bem-humorado
e elegante. Podemos, ainda, dizer que um adolescente é dorminhoco, gentil,
magro, discreto e que tem um corte de cabelo no estilo “tigelinha”. Ao dizer
essas e muitas outras coisas a respeito de um ser humano, não conseguimos
responder à pergunta: O que é o ser humano?
Responder à pergunta sobre o que é uma coisa é dizer o que faz dela algo
singular e diferente de todas as demais, que a determina ou a identifica. É mos-
trar seu elemento primário ou necessário, sem o qual ela não poderia ser o que
é. É falar de sua essência. Se algum ser perde sua essência, deixa de ser o que é.
Há características, então, que são apenas casuais ou contingentes, como a
de um indivíduo ser alto, baixo ou forte. Há ainda características que podem ser
adquiridas ou perdidas no tempo, como a beleza de uma flor, que acaba quando
ela murcha. Em contrapartida, há atributos que definem de fato o ser, consti-
tuindo sua condição fundamental de existência e que, portanto, não podem ser
perdidos, pois, se isso acontecesse, o ser deixaria de ser o que é.
80 UNIDADE 2: O MUNDO EM MOVIMENTO