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Para Aristóteles, o ser humano é um animal (ser vivo) racional e social
(político). Se ele perde uma dessas condições essenciais – a animalidade, a
racionalidade ou a sociabilidade –, deixa de ser o que é, isto é, deixa de ser hu-
mano. Imagine, por um instante, que o ser humano não fosse um ser vivo: seria
um ser sem vida, um ser inorgânico. Se ele não fosse racional, seria incapaz de
raciocinar e argumentar, assemelhando-se, por exemplo, a uma estrela. Caso
ele não vivesse em comunidade, não necessitaria da comunicação, deixando de
desenvolver todas as qualidades inerentes à conquista da linguagem. Em qual-
quer um desses casos, seria outro ser, mas não um ser humano, cuja essência
é animal, racional e social DOC. 1

                                                                                                                                    ROMULO FIALDINI/TEMPO COMPOSTO/TARSILA DO AMARAL EMPREENDIMENTOS/ACER-
                                                                                                                                       VO ARTÍSTICO-CULTURAL DOS PALÁCIOS DO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

↑ Operários (1933), pintura de Tarsila do Amaral. A artista representou a diversidade como elemento
que constitui a classe operária brasileira: negros, pardos, brancos, orientais, homens e mulheres com
características físicas distintas. Segundo o pensamento aristotélico, esses aspectos seriam contingentes, e
não essenciais, do ser humano.

	↪	 A essência para Aristóteles

           “E na verdade, o que desde os tempos antigos, assim como agora e sempre, constitui o
    eterno objeto de pesquisa e o eterno problema: ‘que é o ser’, equivale a este: ‘que é substância’
    (e alguns dizem que a substância é única, outros, ao contrário, que são muitas e, dentre estes,
    alguns sustentam que são em número finito, outros em número infinito); por isso também nós
    devemos examinar principalmente, fundamentalmente e, por assim dizer, exclusivamente, o
    que é o ser entendido neste significado.”

                                                                         ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: Loyola, 2002. p. 289.

      Aristóteles declara nesse texto que o ser, em sua essência, é antes de
tudo substância. Substância é, então, aquilo que faz uma coisa ser o que é e
que permanece sendo enquanto suas propriedades ou qualidades mudam. As
propriedades são contingentes, mas a substância é necessária. Vejamos de
maneira mais detida esse conceito.

      Uma laranja, por exemplo, pode ter casca grossa e enrugada, ter cor mais ou
menos esverdeada, ter sementes ou ser mais ou menos doce. Com o tempo, é
possível que essas qualidades se alterem, e a fruta se torne amarelada, murcha
ou apresente um sabor diferente. No entanto, algo se manterá enquanto esse
ser (laranja) existir: sua substância. A característica principal de qualquer coisa
que existe é ser uma substância, apresentar uma unidade essencial à qual todas
as qualidades secundárias se referem.

CAPÍTULO 7: EXISTIRMOS, A QUE SERÁ QUE SE DESTINA: O PENSAMENTO ARISTOTÉLICO                                                        81
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