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FABIO COLOMBINI ↪ A filosofia primeira
↑ Borboleta-monarca e sua O que posteriormente ficou conhecido como metafísica era chamado por
crisálida, no Pantanal (MT). Aristóteles de filosofia primeira (ou teologia). A filosofia primeira era a mais
Foto de 2009. Para Aristóteles, importante ciência porque tratava da realidade que estava além da existência
a mudança ocorre para que os física, isto é, por meio dos estudos da filosofia primeira se investigavam as
seres atinjam sua realização causas e os princípios gerais de tudo o que existia ou do que era necessário
plena. Esse impulso é motivado para que cada coisa simplesmente “fosse”, como o conceito de substância, os
pela causa final. princípios do movimento (ato e potência) etc.
A filosofia primeira é uma espécie de ciência do ser, não deste ou daquele
ser, mas de todos os seres e naquilo que eles têm de essencial. As perguntas a
que se tenta responder com base nessa ciência são: O que é o ser? Qual é sua
essência ou sua causa? Quais são os conceitos que o caracterizam?
A pergunta a respeito das causas gerais dos seres leva inevitavelmente à
indagação sobre a causa primeira ou a primeira de todas as causas. Existe uma
causa última ou absoluta da qual tudo se origina? Houve um ser que gerou o
primeiro movimento?
Segundo a teoria aristotélica, os movimentos na natureza são gerados pelas
causas eficiente e final e pelos princípios ato e potência. Mas o que faz todos
esses movimentos existirem? O que impulsiona o movimento e a transformação
das coisas físicas e concretas no decorrer do tempo?
O movimento de um ser – sua transformação e seu desenvolvimento – está
inscrito em sua natureza. Sua mudança acontece, então, para que ele chegue à
realização plena. Assim, um filhote de tigre transforma-se até desenvolver as
características de sua espécie, tornando-se um tigre em ato com suas poten-
cialidades desenvolvidas. Da mesma maneira, um ser humano, cuja essência
é ser animal, racional e político, desenvolve-se até ser plenamente. Isso, para
Aristóteles, só acontece na vida em sociedade, pois é nela que o ser humano
pode exercitar a razão e a comunicação, transformando suas potencialidades
em atos.
Isso significa que os seres da natureza se movem para atingir sua plenitude,
caminham para a realização de sua essência, para sua atualização. Mas o que
faz as coisas terem essa dinâmica? O que faz as coisas se moverem e se trans-
formarem, buscando a perfeição ou a plenitude? Que substância é responsável
pela harmonia da natureza?
Como as substâncias sensíveis são corruptíveis e imperfeitas, precisam
de mudanças. Mas, além delas, para a teoria aristotélica, há substâncias não
sensíveis que não se corrompem e são eternas e perfeitas. Tais são as substân-
cias divinas que, por serem perfeitas, não precisam de mudanças: são imóveis.
Essas substâncias imóveis causariam um movimento de atração (causa final),
levando os seres a buscar a perfeição ou sua realização plena. Por esse moti-
vo, Aristóteles, às vezes, chamava a primeira filosofia de teologia: o estudo da
substância divina e das divindades.
↪ A prática humana: ética e política
Vários filósofos antes de Aristóteles refletiram sobre as ações humanas.
Mesmo os estudiosos da natureza pressupunham que suas investigações le-
variam a um melhor conhecimento do ser humano e de sua conduta. Assim,
pode-se dizer que as reflexões sobre o comportamento humano estão presentes
na origem da filosofia.
Sabe-se que Sócrates foi um marco nessas reflexões, pois promoveu, com
os sofistas, uma importante mudança na filosofia ao colocar a conduta humana
no centro da reflexão filosófica. Sócrates afirmava que o ser humano deveria
orientar-se racionalmente para a busca da verdade ou do conhecimento e para
o aprimoramento da alma. Platão deu continuidade às reflexões éticas iniciadas
por seu mestre e vinculou o procedimento ético à contemplação de um além-
-físico, o mundo inteligível.
CAPÍTULO 7: EXISTIRMOS, A QUE SERÁ QUE SE DESTINA: O PENSAMENTO ARISTOTÉLICO 85