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Veja respostas e orientações ↪ Brasil, o país das misturas MUSEU NACIONAL DE BELAS ARTES, RIO DE JANEIRO, RJ/
no Manual do Professor. DIREITO REPRODUÇÃO GENTILMENTE CEDIDO POR JOÃO CANDIDO PORTINARI
As cisões observadas nos meios intelectuais e artísticos do Brasil no de-
QUESTÃO correr dos anos 1920 revelavam as dificuldades para a configuração e o esta-
belecimento de uma identidade nacional. No campo político, as teorias raciais
• Observe as obras dos dominavam os debates, interpretando o contato e a miscigenação como símbolo
pintores brasileiros Vic- do atraso e da degeneração da sociedade brasileira. DOC. 1
tor Meirelles e Candido
Portinari reproduzidas No entanto, ao longo da década de 1930, com o declínio dessas teorias e
neste capítulo. A primeira o desenvolvimento de obras como Casa-grande e senzala (1933), de Gilberto
se insere no contexto do Freyre, emergia no discurso nacional a imagem do mestiço como símbolo das
romantismo, do século nossas particularidades e da nossa capacidade de conviver harmonicamente
XIX, e a segunda, no do com as diferenças. Se, anteriormente, o mestiço figurava como a imagem do
movimento modernista, atraso e como um entrave à modernização do Brasil, a partir dos anos 1930,
do século XX. Com base ele será alçado a símbolo nacional, celebrado como a representação de nossa
nos elementos presentes riqueza cultural, de nossa maneira de viver e de nossa tolerância.
nas pinturas, indique uma
proposta do romantismo Assim, a identidade nacional, agora ressignificada e vinculada à mistura, ao
e outra do modernismo sincretismo e à assimilação de diversas culturas, fez do Brasil um referencial
que explicitem a forma positivo de democracia e do brasileiro um povo admirável. Aos poucos, a con-
de cada um representar cepção de que somos um país das misturas vai sendo difundida e naturalizada
a composição étnica do no discurso dos mais distintos grupos sociais.
povo brasileiro.
↑ Café, pintura de Candido Portinari, 1935.
O governo de Getúlio Vargas teve um papel muito importante no processo
de difusão da mistura étnica e do mestiço como símbolos da identidade brasilei-
ra. Principalmente durante o Estado Novo (1937-1945), houve uma preocupação
constante em criar uma aproximação entre os discursos oficiais e a cultura po-
pular. Políticos, intelectuais e artistas se engajaram nesse processo, e os meios
de comunicação de massa, como o rádio e o cinema, muito populares nesse
período, exerceram papel de destaque na divulgação desses ideais. Os progra-
mas de rádio, as estrelas do cinema, a literatura, a música e as artes plásticas
passaram a contar com o patrocínio do Estado Novo e a valorizar elementos
nacionais, como o samba, por exemplo.
O fim do Estado Novo não representou uma mudança na forma como a
identidade era pensada e significada no país. O entendimento de que a misci-
genação do povo brasileiro era a prova de que uma democracia racial era pos-
sível ganhava cada vez mais destaque e se consolidava como parte da narrativa
nacional.
CAPÍTULO 5: O QUE É SER BRASILEIRO? 63