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DIÁLOGO COM ARTE DOC. 2
DOC. 1 A experiência artística na
concepção trágica da vida
A arte como libertação
momentânea da escravidão da “A oposição entre arte e conhecimento racional
vontade percorre toda a obra de Nietzsche, que valoriza a arte
trágica ao combater a pretensão, que caracteriza a
“Considere-se que espécie de mudança acon- ciência, de instituir uma dicotomia total de valores
tece no sujeito quando a contemplação estética entre a verdade e o erro. Essa antinomia é funda-
(não importa seu tipo) entra em cena. Ou se trata mental: o “espírito científico” − que nasce na Grécia
de um objeto que, pelo poder de sua beleza, isto é, clássica com Sócrates e Platão e dá início a uma
de sua figura significativa, finalmente subtrai por idade da razão que se estende até o mundo moder-
inteiro nosso conhecimento da própria vontade e no, que Nietzsche chega a chamar de “civilização
seus fins, ou se trata, por uma disposição interna, socrática” − tem como condição a repressão da arte
de o conhecimento libertar-se do serviço da von- trágica da Grécia arcaica. Aí se encontra o modelo
tade. Então, de modo autossuficiente, uma con- que lhe permite pôr em questão, ao assinalar o seu
templação puramente objetiva entra em cena, e de nascimento, o valor da racionalidade, ressaltando a
repente somos sobrelevados da torrente sem fim positividade da arte como experiência trágica da vida.
da cobiça e aquisição; o conhecimento liberta-se da Colocar-se na escola dos gregos é aprender a lição
escravidão da vontade e existe para si de maneira de uma civilização trágica para quem a experiência
livre, não mais apreendendo as coisas conforme artística é superior ao conhecimento racional, para
elas digam respeito à vontade, conforme sejam quem a arte tem mais valor do que a verdade. Se
seus motivos, mas o conhecer é agora livre de toda Sócrates e Platão significam o início de um grande
relação com o querer. Dessa forma, ele é sem in- processo de decadência que chega até nossos dias
teresse, sem subjetividade, considera as coisas de é porque os instintos estéticos foram desclassifica-
modo puramente objetivo, por inteiro entregue a dos pela razão, a sabedoria instintiva reprimida pelo
elas, as quais estão na consciência só à medida que saber racional.”
são meras representações, não motivos.”
MACHADO, Roberto. Nietzsche e a verdade. São Paulo:
SCHOPENHAUER, Arthur. Metafísica do belo. São Paulo: Paz e Terra, 1999. p. 8.
Ed. da Unesp, 2003. p. 91-92.
Veja respostas e orientações ATIVIDADES
no Manual do Professor.
COMPREENDER RETOMAR
DOC. 1 3. Responda às questões-chave do início do capítulo.
a) O que existe para além da imagem racional do
1. Para Schopenhauer, como seria uma contem- mundo?
plação objetiva no campo da arte? b) O que é a vontade?
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2. Tendo como referência o pensamento de Nietzsche,
qual é o papel que a arte ocupa na vida trágica?
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