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Guerra do Peloponeso: conflito pro-         Os sofistas tiveram, então, um papel fundamental nesse giro de atenção da
longado (431-404 a. C) entre as duas  filosofia, da natureza para o ser humano. Eles foram figuras muito importantes no
maiores potências da Grécia Antiga,   chamado “período clássico” da Grécia. No entanto, quando pensamos em “Atenas
Atenas e Esparta.                     do século V”, a “Idade de Ouro” ou o “Século de Péricles”, temos como referência a
                                      democracia direta, as obras artísticas criadas sob o investimento da cidade-Estado,
Guerras Médicas: série de conflitos   as tragédias de Sófocles e Eurípedes e as comédias de Aristófanes; lembramos do
entre Grécia e Império Persa (entre   historiador Heródoto, que viveu um período na cidade e escreveu principalmente
499 e 449 a. C).                      sobre as Guerras Médicas (499-449 a. C.), e de Tucídides, o historiador da Guerra do
                                      Peloponeso (431-404 a. C.), que marcou o declínio dessa época tão elogiada pelos
                                      estudiosos; e, claro, lembramos, talvez em primeiro lugar, dos filósofos Sócrates e
                                      Platão (428/427-348/347 a. C.), que marcam até hoje o pensamento ocidental, com
                                      Aristóteles (384-322 a. C.), discípulo de Platão.

                                            Deixamos os sofistas de lado dessa rememoração gloriosa. No entanto,
                                      em qualquer estudo sério, não é possível dissociar a influência dos sofistas na
                                      democracia ateniense.

                                                 “Para dizer a verdade, não se compreende nada sobre eles [os sofistas], sobre o século de Péricles
                                          ou o ‘milagre grego’, sem se ter uma ideia clara da natureza e do alcance da influência dos sofistas.”

                                                                   ROMILLY, Jacqueline. Os grandes sofistas de Atenas de Péricles. São Paulo: Octavio, 2017. p. 36.

                                                 “Do ponto de vista histórico, a sofística é um fenômeno tão importante como Sócrates ou
                                          Platão. Além disso, não é possível concebê-los sem ela.”

                                                                                                      JAEGER, Werner. Paideia. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 341.

                                            O sofista Protágoras, por exemplo, discutia horas com o estadista e estra-
                                      tegista Péricles e por esse foi encarregado em tarefas do Estado, como redigir
                                      as leis de uma colônia grega. Os ensinamentos desse mesmo sofista com outro,
                                      Pródico, influenciaram ao dramaturgo Eurípedes, cujas peças teatrais estão re-
                                      pletas de ideias desses dois pensadores. O historiador Tucídides foi discípulo,
                                      além de Pródico, de Górgias e Antifonte, outros dois sofistas. Da mesma maneira,
                                      Sócrates não negava que mantinha relações constantes com os sofistas. Mesmo
                                      as críticas irônicas ou ferozes de Sócrates e Platão aos sofistas, como Górgias,
                                      Protágoras ou Pródico, faziam ressaltar, além das ideias e conceitos tratados, a
                                      importância desses sofistas para a sociedade ateniense. Tão importantes eles
                                      eram que suas ideias deviam ser abertamente combatidas.

                                            Isso tudo indica que o tamanho que os sofistas têm hoje não corresponde
                                      ao tamanho que tiveram. A pequenina sombra projetada em nosso tempo obs-
                                      curece a dimensão que tinham.

                                                                                                                                                                         TAKA1022/SHUTTERSTOCK

→ Os sofistas ressaltavam
que a natureza tem leis
necessárias, mas que as
leis humanas, de vida em
sociedade, eram criadas por
convenção e poderiam ser
mudadas.

                                            Mas, então, quem eram os sofistas?

                                            Oriundos de várias cidades gregas, os sofistas, como Protágoras, Górgias,
                                      Antifonte, Trasímaco, Pródico e Hípias convergiram para Atenas no século V a.C.,
                                      acompanhando o desenvolvimento econômico, social, cultural e político da mais

46 UNIDADE 1: O MUNDO EM EXPANSÃO
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