Page 137 - PNLD 2026 - HISTORIA
P. 137

Uma Babel cultural                                                                                                                        LUIS WAR/SHUTTERSTOCK

             “Uma Babel cultural. Assim o historiador Ronaldo Vainfas [...] define o cenário do Recife
       na época da dominação holandesa no Nordeste açucareiro (1630-1654) [...].  ‘A capital per-
       nambucana era uma verdadeira Jerusalém colonial, onde reinava a utopia da reconstrução
       do mundo judaico na diáspora – quando o judaísmo era perseguido pelos ibéricos, que
       obrigaram muitos judeus a se converter em cristãos-novos’, conta Vainfas.

             Dividido entre judeus – especialmente as sefarditas –, católicos e calvinistas, Recife
       ocupou papel peculiar nos tempos da Inquisição por ser a única cidade do mundo que reunia
       as três crenças em um ambiente de tolerância religiosa. Especialmente na administração
       do conde [...] Mauricio de Nassau, que governou a colônia holandesa no Nordeste de 1637
       a 1644. [...]

             Suas duas sinagogas [do Recife] eram protegidas por Nassau, que percebeu a impor-
       tância dos judeus para os negócios da Holanda em vários assuntos políticos e comerciais.
       ‘Além de falarem português e holandês, eram muito letrados e até decifravam cartas crip-
       tografadas dos inimigos, como fez Moisés Aguilar’, explica Vainfas. [...]

             Instalada no Recife a partir da união de suas sinagogas, a congregação Kahal Kadosh
       Zur Israel foi a primeira a ser fundada em todas as Américas e tinha como rabino o portu-
       guês Isaac Aboab da Fonseca. ‘Foi um fato antes inimaginável em uma colônia portuguesa
       católica’, [destaca Vainfas]. Nassau contornava a pressão dos pastores calvinistas, mas a
       liberdade judaica era vista como um exagero por alguns católicos e protestantes, reunidos
       no Sínodo Calvinista do Recife, a organização das igrejas protestantes presentes na cidade,
       que tinha representantes de várias regiões ou províncias holandesas. ‘Era uma espécie
       de controle religioso e de orientação da obra missionária’, pondera Vainfas. ‘Os católicos,
       maioria da população, protestavam menos porque também eram protegidos por Nassau.”
         MOTTA, Débora. Babel cultural no Brasil holandês. Rio de Janeiro: Faperj, 2008. Disponível em: https://siteantigo.

                                                                                        faperj.br/?id=1267.2.9. Acesso em: 2 jul. 2024.

   ↑ Fachada do Centro Cultural Judaico de Pernambuco, instalado no edifício da antiga Sinagoga Kahal
   Zur Israel, considerada a primeira sinagoga das Américas. Recife (PE), 2024.

                           Veja respostas e orientações

  	QUESTÃO	no Man	ual do Professor.

•	 Como você explica o uso da expressão “Babel cultural” para se referir ao Recife do pe-
    ríodo holandês?

                                                                                                      CAPÍTULO 10: OS PORTUGUESES NO BRASIL 135
   132   133   134   135   136   137   138   139   140   141   142