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DIÁLOGO COM ARTE, HISTÓRIA E SOCIOLOGIA DOC. 2
DOC. 1 Da existência única para a existência
em massa
O fracasso histórico das vanguardas
“Por mais perfeita que seja a reprodução, uma coisa
“A utopia moderna das vanguardas artísticas mor- lhe falta: o aqui e agora da obra de arte – a sua existência
reu porque seus valores não cumprem, nas metrópoles única no lugar onde se encontra. Sobre essa existência
industriais ou no terceiro mundo, mais que uma função única, e sobre ela apenas, se fez a história a que a obra
legitimadora, regressiva e conservadora. Sua tarefa já não esteve sujeita no decurso de sua existência.
é mais a criação, nem a crítica, nem a renovação, mas a
reprodução indefinida de um princípio de ordem. De- [...] A autenticidade de uma coisa é a essência de tudo
sapareceram das vanguardas históricas seus momentos o que ela comporta de transmissível desde sua origem, da
escatológicos, revolucionários e subversivos; só conhece- duração material à sua qualidade de testemunho histórico.
mos agora a positividade objetivada de um mundo admi-
nistrado segundo suas leis, submetido a um princípio de [...] Tudo o que aqui se disse se pode resumir no
racionalização constritiva cuja legitimidade estética elas conceito de aura, e pode dizer-se então que o que é en-
garantem. Não há motivos de escândalo na aceitação do fraquecido na época da possibilidade de reprodução téc-
fracasso histórico do projeto das vanguardas [...]. Nem se- nica da obra de arte é a sua aura. O caso é sintomático:
quer se justifica, à luz de uma análise mais precisa, aquele o seu significado aponta para além do próprio domínio
álibi que assinala a absorção dos objetivos da vanguarda da arte. Pode dizer-se, de um modo geral, que a técnica
ou de seus pioneiros pelos imperativos de uma economia da reprodução liberta o objeto reproduzido do domínio
de mercado, de uma organização social tecnocrática ou de da tradição. Na medida em que multiplica a reprodução,
formas de poder burocrático. É verdade que as burocracias substitui a sua existência única pela sua existência em
e as bolsas de valores puseram fim às ilusões utópicas massa. E, na medida em que permite à reprodução vir
que os artistas da ruptura abrigaram, mas isso não quer em qualquer situação ao encontro do receptor, atuali-
dizer que suas concepções programáticas transcendes- za o objeto reproduzido. Estes dois processos vão abalar
sem realmente a ordem cultural em que se dissolveram violentamente os conteúdos da tradição – e esse abalo da
seus elementos críticos. Certamente, a utopia artística tradição é o reverso da atual crise e renovação da huma-
da modernidade foi integrada às exigências da produção nidade. Relacionam-se intimamente com os movimentos
industrial ou à economia capitalista. Mas semelhante in- de massa dos nossos dias.”
tegração foi precisamente o objetivo prático de todas as
tendências construtivistas das vanguardas históricas.” BENJAMIN, Walter. A obra de arte na época da possibilidade de sua
reprodução técnica. In: Estética e sociologia da arte.
SUBIRATS, Eduardo. Da vanguarda ao pós-moderno. Belo Horizonte: Autêntica, 2017. p. 13-15.
4. ed. São Paulo: Nobel, 1991. p. 11-12.
Veja respostas e orientações ATIVIDADES
no Manual do Professor.
COMPREENDER 7. O que a perda de aura tem a ver com a arte moderna?
DOC. 1 ANALISAR
3. Segundo o texto, o que caracteriza o fim ou a morte DOC. 1 E DOC. 2
da utopia moderna?
8. Como você analisa a arte contemporânea?
4. O que teria causado a morte das utopias modernas?
RETOMAR
DOC. 2 9. Responda às questões-chave do início do capítulo.
5. Para Walter Benjamin, qual é a diferença entre uma a) O que é arte?
obra de arte e sua reprodução? Explique sua resposta. b) Por que ela é importante?
c) Qual é sua relação com a utopia e a transformação do
6. O que a perda da aura tem a ver com a tradição e a
massificação da obra de arte? ser humano e da sociedade?
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