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↻ As vanguardas artísticas e a produção de utopias
Entre o fim do século XIX e a década de 1970, eclodiram as vanguardas artísticas
europeias, que caracterizaram a arte moderna, influenciando a pintura, literatura,
teatro, escultura, música, cinema, arquitetura, entre outras manifestações artísti-
cas. A compreensão dessas vanguardas é um pressuposto para entendermos a arte
contemporânea.
O início do ciclo moderno na arte está assentado na Revolução Industrial,
no consequente aparecimento da tecnologia industrial e no desenvolvimento
de determinada forma de capitalismo que trouxeram consigo um conjunto de
mudanças na estrutura do fazer artístico e na finalidade da arte.
O iluminismo, que ofereceu o suporte teórico para as grandes revoluções
políticas dos séculos XVIII e XIX, como a Revolução Americana (1776), a Revolução
Francesa (1789) e os movimentos de independência das colônias na América (sé-
culo XIX), também esteve na base das transformações operadas nas artes, que
inauguraram a arte moderna. Em oposição ao barroco-rococó, estilo associado à
nobreza e caracterizado pelos excessos ornamentais e pela afetação, o neoclas-
sicismo exaltou a racionalidade e a objetividade no campo artístico. Resgatando
os padrões greco-romanos, a arte neoclássica afirmou a supremacia da técnica
sobre o gênio criativo e o planejamento sobre a inspiração.
Contemporâneo ao neoclassicismo, o romantismo se desenvolveu como
uma libertação das amarras do rigor técnico imposto pelo classicismo e da ra-
cionalização da obra de arte. Valorizando a emoção e o sentimento, os artistas
românticos produziram obras com forte apelo dramático, nas quais a subjeti-
vidade foi colocada em primeiro plano.
Pode-se considerar, no entanto, que as vanguardas artísticas modernas
propriamente ditas tiveram início com o impressionismo, no fim do século XIX,
seguido de inúmeros outros “ismos”, como o futurismo, o expressionismo, o
cubismo, o dadaísmo e o surrealismo, entre outros.
O que caracterizava os artistas vanguardistas? Eles acreditavam, sobretudo, na
autonomia e no poder transformador da arte. A arte não precisava seguir os valores
metafísicos, ideais ou morais do passado. Ao contrário, a arte de vanguarda estava
voltada ao novo e ao futuro, voltada a desenhar uma utopia de emancipação humana.
A defesa da autonomia da arte, então, não significava o afastamento da vida. Ao
contrário, o artista vanguardista buscava misturar ou conjugar a arte com a vida. Seu
desejo e sua utopia eram estetizar a vida, transformando o mundo por meio da arte.
→ Um bar no Folies-Bergère ÉDOUARD MANET - THE COURTAULD INSTITUTE OF ART, LONDRES
(1882), obra impressionista de
Édouard Manet, representa uma
cena do café-concerto Folies
Bergère, de Paris. O estado
de desânimo ou tristeza da
garçonete contrasta com o
ambiente despojado e festivo
retratado. Trata-se
de uma cena urbana. Os
impressionistas, assim como os
outros vanguardistas, buscavam
misturar a arte e a vida.
CAPÍTULO 28: A ARTE E A UTOPIA DA EMANCIPAÇÃO HUMANA 345