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linguagens ou formas diferentes de ordenamento da reali- com cuidado o texto porque há ideias equivocadas, e mesmo pre-
dade. Seria oportuno chamar a atenção para a inter-relação conceituosas, a respeito da filosofia, que são disseminadas pela
entre as diversas linguagens. Embora diferentes, com lógicas sociedade e muitas vezes reforçadas por ensinos que cultuam a
próprias para ordenar o mundo, elas estão presentes simul- dicotomia entre filosofia e sociedade ou a concepção de que filo-
taneamente na sociedade e no indivíduo, o qual pode, por sofia é só para especialistas. Por isso, o que se pretende destacar
exemplo, ser cientista, religioso e artista ao mesmo tempo. com o texto é que as reflexões filosóficas podem ser iniciadas
3) No estudo deste capítulo, firmou-se a ideia de que a capaci- pelos problemas humanos mais corriqueiros e que é próprio do ser
dade plena de criar e coordenar signos, formando linguagens, humano refletir ou questionar. A razão está presente em todos os
é algo propriamente humano. Isso significa que, mais do indivíduos; a diferença do modo filosófico de pensar está no fato
que um animal racional e social, o Homo sapiens é um ser de que ele é razão concentrada, ou seja, radical, tem os próprios
simbólico. Essa característica propriamente humana está métodos de investigação e as próprias características.
presente na maneira como conhecemos as coisas – repre-
sentando-as, criando signos cada vez mais abstratos. Está No entanto, essa reflexão radical está voltada para os pro-
presente também na forma como organizamos a realidade blemas humanos, e não para algo alheio ao homem, como alguns
e nos relacionamos – por meio da coordenação de signos, preconceitos fazem supor. Sugere-se que o professor inicie os
formamos linguagens que possibilitam o ordenamento do estudos exatamente pelo entendimento que os alunos têm sobre a
mundo e a comunicação entre os seres humanos. filosofia. O texto é uma oportunidade de iniciar o diálogo filosófico
que vai durar todo o ensino.
CAPÍTULO 2. O que é filosofia?
As próximas subseções, Racionalidade: um bem comum e A
OBJETIVOS DO CAPÍTULO centelha da filosofia é comum a todos, tratam, por ângulos dife-
rentes, de reforçar a ideia de que a racionalidade e filosofia ou o
Reconhecer a filosofia como um modo do pensamento racional. (EM13CHS101) filosofar são próprios do ser humano. Nesse aspecto, é importante
explorar as citações de Aristóteles e a de Heidegger e as imagens
Compreender os elementos básicos do refletir filosófico e estabelecer suas que as acompanham. A citação de Aristóteles trata do uso da ra-
relações com o cotidiano. (EM13CHS101) zão, entendido como característica definidora do ser humano – a
imagem e a legenda exploram as regras de arbitragem do futebol
Assimilar e compor argumentos relacionados ao conhecimento filosófico. como um exemplo de racionalidade, que está presente em tudo
(EM13CHS103) o que é propriamente humano; a citação de Heidegger aborda a
filosofia como algo imanente ao homem: “Ser homem já significa
Ler textos filosóficos de forma crítica e reflexiva visando a difusão de conhe- filosofar” – acompanhada da tirinha de André Dahmer, na qual há
cimento e a resolução de problemas de ordem existencial, escolar e social. uma crítica à utilização atual das novas tecnologias da comunica-
(EM13CHS106) ção, que pode ser utilizada como exemplo de que a reflexão, em
seus vários graus, é empreendida em todas as coisas humanas.
As estranhas coisas familiares (p. 21). Reproduzimos na aber-
tura do capítulo a imagem da obra hiper-realista do artista austra- SUGESTÃO DE ATIVIDADE
liano Ron Mueck com o objetivo de, por meio da exacerbação dos
detalhes, provocar a curiosidade e o estranhamento sobre aquilo Sugerimos apresentar o trecho a seguir de Fernando Savater e
que podemos considerar bem conhecido, no caso, a aparência hu- propor a questão como tema de dissertação ou como incentivo
mana. Sugerimos explorar as imagens com os alunos provocan- para um debate.
do questionamentos, valorizando as reações de admiração e/ou
estranhamento para depois provocá-los com a pergunta: por que “Filosofar não deveria ser sair de dúvidas, mas entrar nelas. É
tamanha reação diante de algo tão comum? O exercício indica que a claro que muitos filósofos – e até dos maiores! – cometem às vezes
certeza pode ser enganadora e que pode haver coisas para além da formulações peremptórias que dão a impressão de já ter encontrado
aparência óbvia. A admiração ou o maravilhamento com as coisas, respostas definitivas às perguntas que nunca podem nem devem ‘fe-
as pessoas, os fenômenos e a busca pelo conhecimento são aspec- char-se’ por inteiro intelectualmente [...]. Vamos agradecer-lhes suas
tos do pensamento filosófico. Após o exercício da imagem, o texto contribuições, mas não seguir seus dogmatismos.”
de abertura pode ser lido como um convite ao estudo do capítulo.
SAVATER, Fernando. As perguntas da vida. São Paulo: Martins Fontes,
A surpresa diante da realidade (p. 22). Essa seção dá continui- 2001. p. 209.
dade as ideias exploradas na abertura. Agora a partir das citações
de Aristóteles e Schopenhauer e do grafite “Rio de lava”, de Edgar Se filosofar “não deveria ser sair de dúvidas, mas entrar
Müller. Aristóteles ressalta que a admiração pelos fenômenos e os nelas”, questione os alunos de que maneira a filosofia pode se
problemas em conhecê-los impulsionam a investigação e o refletir relacionar com o nosso cotidiano e contribuir com nossas vidas.
filosóficos. Schopenhauer destaca que a capacidade do espanto com
o cotidiano é característica do espírito filosófico. E a obra de Müller O objetivo é que o aluno retome a reflexão a respeito da re-
também trata de um estranhamento, uma cratera do meio da rua. lação entre filosofia e cotidiano de forma mais aprofundada, uma
vez que já tem alguns conhecimentos a respeito das especifici-
É importante explorar de maneira profunda as imagens de dades do pensamento filosófico. Espera-se que com argumentos
Ron Mueck e Edgar Mulher em relação aos textos de Aristóteles e coerentes eles concluam que a contradição do enunciado é apenas
Schopenhauer, reforçando a relação estreita entre a filosofia e o aparente. Levantar questões, colocar o que conhecemos em dúvida
cotidiano ou as coisas em nossa volta. Tudo o que é significativo é essencial para compreender a si mesmo e o mundo.
em nossa existência, mesmo um acontecimento habitual, é motivo
ou pode ensejar uma reflexão filosófica. Tal compreensão ajuda Amor pelo saber (p. 24-25). A ideia dessa seção e das seguin-
a diluir o preconceito de que a filosofia não teria relação com a tes é auxiliar o aluno na compreensão do que é a filosofia, tratando
vida e o filosofar seria algo restrito a pensadores profissionais – de algumas de suas características centrais. Em primeiro lugar, a
assunto que é desenvolvido na próxima seção, “Nós e a filosofia”. distinção entre a filosofia e a sabedoria. Nesse aspecto, pode-se
apoiar na etimologia da palavra filosofia, que indica amor, amizade
Seria importante também esclarecer e reforçar o vínculo do à sabedoria ou desejo de saber. O filósofo não é aquele que tem
espírito filosófico entre o maravilhamento e a investigação ou a sabedoria, mas que a procura. Ter consciência de que não se tem
busca de conhecimento a respeito daquilo que causou o espanto. sabedoria é um primeiro momento do modo filosófico de pensar.
Isto é, a admiração e a busca de conhecimento fazem parte de um Isto é, não ter por sabido algo que ainda não se sabe.
mesmo processo filosófico. Isso quer dizer, que não se trata apenas
de um encantamento estético, uma contemplação pura e simples, Essa consciência, o reconhecimento da ignorância, pode ser
mas que a esse encantamento acompanha um desejo de saber. melhor compreendida pelo aluno por meio da leitura da citação
de Platão, trecho da obra Defesa de Sócrates. Sócrates se dife-
Nós e a filosofia (p. 22-24). Esse trecho parte de entendi- rencia dos que se dizem sábios, mas que, quando investigados,
mentos e preconceitos sobre a filosofia presentes na sociedade demonstram não saber. Eles estariam a um passo atrás da atitude
e em especial entre os jovens. Entre esses entendimentos, está filosófica, o reconhecimento do não saber, para, então, proceder
a ideia de que a filosofia é algo sem sentido para as pessoas co- a investigação, a busca pelo saber.
muns, praticada por intelectuais cuja reflexão não tem nenhum
vínculo com a realidade e a sociedade. O professor deve explorar
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