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4) a) Os primeiros filósofos foram chamados de naturalistas Investigar a prática humana é investigar o que o próprio ser
porque buscavam investigar a natureza, os princípios mais humano é. Nesse aspecto, é importante destacar o giro filosófico
gerais de tudo o que existe. realizado pelos sofistas e por Sócrates. O centro de atenção da fi-
b) O problema era compreender em uma explicação a unidade losofia deixou de ser a natureza e passou a ser o homem. Esse giro
e a variabilidade da natureza, como as coisas podem ser tão foi completado de maneira consciente por Sócrates [que é tratado
diversas e, ao mesmo tempo, haver uma harmonia entre elas. no próximo capítulo], a quem coube o papel de indagar frequente-
A explicação desses primeiros filósofos sobre a unidade e mente a respeito dos valores humanos, mas o início dessa virada
a multiplicidade da natureza foi a da matéria primordial, de teve origem entre os sofistas, os quais distinguiram as leis da natu-
onde tudo se originaria e para a qual tudo retornaria. A unida- reza, que são necessárias, das leis humanas, que são contingentes.
de estaria nessa matéria e a diversidade em sua quantidade
diferente em cada ser existente. SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS PARA O PROFESSOR
c) A admiração dos primeiros filósofos em relação à natureza era GUTHRIE, William K. C. Os sofistas. São Paulo: Paulus, 1997.
um maravilhamento por conhecimento. Os pensadores de então Obra dedicada a esclarecer a importância dos sofistas para a filosofia e a
tinham desejo de conhecer a natureza. Na atualidade, há ainda política gregas, concebendo-os como aqueles que trouxeram à tona o discurso
admiração pela natureza no sentido estético, mas o que predo- e o domínio da palavra na resolução dos assuntos da polis.
mina é a busca pelo domínio da natureza para que ela sirva cada
vez mais ao ser humano. E são os interesses humanos e as ações KERFERD, George Briscoe. O movimento sofista. São Paulo: Loyola, 2003.
de exploração da natureza que estão causando sua degradação. O filósofo inglês Kerferd apresenta os sofistas como um movimento intelectual
Na época dos primeiros filósofos ocidentais (aproximadamente VI de importância fundamental para a filosofia. Os sofistas trataram de diversos
a.C.), não havia problemas ambientais decorrentes da intervenção aspectos ou áreas da filosofia, como epistemologia, ética, política, retórica,
humana. Hoje as reflexões sobre a natureza assumem caráter arte, linguagem e religião.
eminentemente ético, porque são fundamentais para a vida na
Terra e para o futuro da nossa espécie. PLATÃO. A república. 7. ed. Lisboa: Fundação Calouse Gulbenkian, 1993.
Uma das principais obras de Platão, aborda diferentes temas sociais e políticos
CAPÍTULO 4. A descoberta do ser humano e a vida em entrelaçados, versando, entre outras coisas, sobre uma cidade ou estado ideal,
sociedade: os sofistas educação e o movimento de busca pelo conhecimento das coisas.
Com o texto e a imagem da abertura, pretende-se estimular PLATÃO. Górgias. In: Protágoras, Górgias, Fedão. 2. ed. Belém:
os estudantes a refletir sobre a atitude dos humanos em relação EDUFPA, 2002. (Coleção Platão Diálogos).
a suas criações – no caso, os robôs. Problematizar o emprego Górgias está entre os diálogos mais conhecidos de Platão. Essa obra trata da
da inteligência artificial significa também refletir sobre as ações retórica, sua natureza e seu poder.
humanas, isto é, questionar as criações humanas, bem como os
limites de sua utilização. Trata-se, então, de uma reflexão ética Sobre os sofistas:
introdutória ao capítulo, a fim de sensibilizar os estudantes para o • Destacar o contraste estabelecido por eles entre a destina-
conteúdo que será tratado: alguns aspectos do pensamento ético
antigo, moderno e contemporâneo. ção natural e a destinação social do ser humano: a neces-
sidade das leis da physis e o relativismo das leis humanas,
OBJETIVOS DO CAPÍTULO estabelecidos por convenção (nomos).
• No subtópico sobre retórica e verdade, procurar auxiliar
Identificar, analisar as ideias filosóficas do movimento sofista. (EM13CHS101) os alunos na interpretação das duas citações do diálogo
Górgias. Em primeiro lugar, destacar o fato de que o pen-
Compreender a ética como reflexão da prática humana, portanto, pertencente samento de Górgias está sendo descrito por um opositor,
a todos os indivíduos e necessária para conduzir os nossos comportamentos, Platão, e isso pode influenciar nosso entendimento sobre
visando a melhoria da condição de vida individual e coletiva. (EM13CHS501) o sofista. Depois, estabelecer de maneira clara a diferen-
ça entre persuasão e verdade. A persuasão pode levar à
Analisar o exercício político dos sofistas no âmbito de Atenas e estabelecer crença sem conhecimento ou ao conhecimento, mas, para
algumas relações reflexivas com a situação atual da política e da democracia. Sócrates, os sofistas não se interessavam pela verdade; ape-
(EM13CHS603) nas buscavam convencer; lidavam com a opinião, e não com
o conhecimento.
Compreender o relativismo e o absolutismo morais e a difícil busca pela univer- • Ajudar o aluno a compreender os conceitos de relativismo e
salização dos direitos humanos fundamentais, tendo como referência a declara- de absolutismo moral a partir da citação de Protágoras. Essa
ção do Direitos Humanos. (EM13CHS101, EM13CHS604 e EM13CHS605) compreensão o auxiliará na reflexão sobre os direitos univer-
sais humanos que é desenvolvida na parte seguinte do texto.
Os robôs precisam de regras? (p. 44) Sobre os direitos humanos:
• A reflexão sobre os direitos humanos com base nos concei-
Ao tratar sobre inteligência artificial, a abertura do capítulo tos estudados: os valores humanos são ou não universais?
tem o objetivo de provocar a reflexão a respeito das criações hu- É possível universalizar direitos, respeitando as diferenças
manas e seus limites. É possível que o tema de abertura provoque culturais? Nesse aspecto, a citação de Norberto Bobbio sin-
reflexões genéricas sobre a relação entre ser humano e tecnologia tetiza bem a dificuldade em conciliar reivindicações legítimas
– o que é interessante e, se for oportuno, deve ser estimulado. do absolutismo e do relativismo.
No entanto, a reflexão propriamente dita sobre a tecnologia será • Destacar a importância das reflexões éticas na sociedade
desenvolvida na unidade 6 deste livro. É possível retomar pos- contemporânea. O desenvolvimento econômico, científico
teriormente algumas ideias e noções discutidas neste capítulo. e tecnológico, ao mesmo tempo que possibilita conquis-
tas, suscita desafios éticos com os quais o ser humano
Sugerimos explorar logo de início o conceito de ética, a partir tem de lidar.
da leitura do texto: “Ética é o campo de reflexão sobre a prática,
sobre nossas ações e o que as motiva, e sobre valores que orientam SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS PARA O PROFESSOR
nosso comportamento: o que é bom ou ruim, bem ou mal, justo ou
injusto etc.”. Destacar para o aluno o fato de que a reflexão sobre BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
as ações é algo característico e imanente ao ser humano. Qualquer A obra, composta de onze ensaios, discute a definição e os fundamentos dos
pessoa, pelo menos vez ou outra, reflete eticamente sobre o que fez direitos do homem a partir de uma perspectiva histórico-político-filosófica.
ou vai fazer ou sobre os motivos de sua ação. Nenhum outro animal O autor ainda defende a questão da paz e a necessidade de se assegurar os
estabelece valor sobre suas ações, boas ou más, justas ou injustas. Direitos Humanos ao longo do desenvolvimento global da civilização humana.
Explorar também a história em quadrinhos de Calvin. Ela RABENHORST, Eduardo R. O que são os direitos humanos?
possibilita algumas atividades, pois trata de algo bem comum ao Disponível em: <www.dhnet.org.br/dados/cursos/edh/redh/01/01_
aluno e ao ambiente escolar. rabenhorst_oqs_dh.pdf>. Acesso em: 9 out. 2024.
Nesse artigo, Rabenhorst trata de esclarecer o que são os direitos humanos,
Sugestão: a) destacar a argumentação de Calvin e seu dile- sua origem e seus sentidos.
ma; b) propor aos alunos que deem um título à história; c) solicitar
aos alunos que reescrevam o diálogo dos últimos três balões (a
partir da resposta à pergunta de Hobbes: “O que você decidiu?”),
mudando o final, isto é, mudando a conduta de Calvin.
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