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Atitude crítica; Atitude reflexiva; Investigação conceitual (p.                  argumentação é propor para que seja feito em duplas, favorecendo
25-28). O reconhecimento pertinente de que a racionalidade e a ra-                       a troca de ideias entre os pares.
cionalidade filosófica são um bem humano comum pode dar lugar
a um entendimento descaracterizador da filosofia. É preciso estar                         LABORATÓRIO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS (P. 30)
atento a essa possibilidade. A filosofia é pensamento racional,                                  Sugere-se explorar a leitura da charge O pensador Moderno,
mas é pensamento racional que tem características peculiares.
Assim, as seções Atitude crítica, Atitude reflexiva e Investigação                       de Singer [DOC. 1]. Ela propicia inúmeras reflexões sobre o pensamen-
conceitual tratam de algumas das características principais do                           to e a filosofia nos tempos contemporâneos. Importante estimular
modo filosófico de pensar.                                                               relações ente a filosofia e o filosofar e a situação atual. Muitas
                                                                                         coisas que acontecem, por exemplo, a degradação do meio am-
        A atitude crítica, o questionar, é pressuposto da investigação                   biente, entre outras coisas, evidencia a falta de reflexão sobre a
racional. Nada está isento de questionamento, inclusive a própria                        prática humana. O [DOC. 2] estabelece relações entre a organização
filosofia. A exploração da breve citação de Merleau-Ponty, de Elogio                     social, a polis, e o surgimento da filosofia. A cidade-estado seria
da filosofia, é um bom caminho para esclarecer a relação entre a                         o lugar ideal para exercer a razão, o debate de argumentos, sobre
admissão da ignorância, o questionamento incessante, a investigação                      o destino dos cidadãos.
contínua e um saber sempre provisório, que pode ser questionado.
                                                                                         Leitura complementar para os alunos
        A tirinha de Charles Schulz é um contraponto bem-humo-
rado à atitude crítica e pode ser bem utilizado nesse sentido.                                       “A filosofia é vista como um espaço onde reina o capricho, poden-
A personagem tem uma atitude baseada em seu sentimento ou                                    do cada um dizer o que quiser. Seu caráter não-empírico é entendido
emoção e não ponderará do ponto de vista racional.                                           como pura arbitrariedade, quando não como confusão crônica. Porém,
                                                                                             essa impressão é falsa: a filosofia não é um caos de pontos de vistas
        Outras duas características da filosofia ou do filosofar é a ati-                    incomensuráveis, nem consiste simplesmente em possuir certezas.
tude reflexiva e a investigação conceitual. Ambas se interrelacionam.                        Trata-se de ter opiniões sobre certos temas bem definidos e sustentá-
Para proceder a uma investigação racional é preciso pensar o próprio                         -las em algo diferente de uma convicção pessoal; mais ainda, o núcleo
pensamento, isto é, investigar racionalmente as ideias, os princípios,                       essencial da filosofia não é constituído de crenças sistematicamente
as teses, os argumentos, as relações lógicas e as conclusões. Essa                           definidas e racionalmente fundadas senão de problemas e soluções.
investigação racional rigorosa tem como centro os conceitos. Esse
aspecto é esclarecido por meio da citação de Platão do Diálogo                                       Se o público em geral não entende o que os filósofos fazem e
Teeteto. Nela, evidencia-se algo que deve ser destacado, a diferença                         crê que cada um simplesmente diz o que quer, isso se deve, em grande
entre opinião baseada em uma constatação empírica superficial e                              medida, ao fato de que não entende o problema ou, mais ainda, não toma
a investigação essencial – o que faz cada coisa ser o que é –, que,                          consciência da existência de um problema. Esse é o dado da equação
para Sócrates, era a que se remetia aos conceitos.                                           que tende a faltar e o motivo essencial da impressão de arbitrariedade.
                                                                                             O que o filósofo diz é tomado como ‘mero dizer’ como ‘irresponsável
        Problemas e dinâmica da filosofia (p. 28). Essa última seção                         afirmar’ passando-se por alto seu originário caráter de ‘solução’. No
do capítulo 2 trata de problemas filosóficos e da dinâmica da filo-                          entanto a filosofia possui problemas, sendo a unidade dinâmica interna
sofia. Trata-se de que o aluno perceba a importância do problema                             desses problemas o que está na base da multiplicidade e da mudança
na investigação filosófica e que saiba distinguir um problema pro-                           de temas e opiniões. Quando não há problema tampouco há filosofia.”
priamente filosófico de um problema comum presente em nosso
dia a dia, que pode ou não ser transformado em um problema                                      PORTA, Mario Ariel González. A filosofia a partir de seus problemas. São
filosófico. Quer dizer, um problema filosófico tem de ser construído                                                                             Paulo: Loyola, 2002. p. 25-26.
de maneira precisa, claramente delimitado, por meio da reflexão.
                                                                                          SUGESTÕES DE LEITURA PARA O PROFESSOR
        O texto base do capítulo permite que o aluno avance na com-
preensão, pois está permeado de exemplos que podem ser utiliza-                              BERTI, Enrico. No princípio era a maravilha. São Paulo: Loyola, 2010.
dos com contrapontos, isto é, exemplos de problemas que não são                              O filósofo Enrico Berti, nesta obra, trata das raízes da filosofia grega, a partir da
filosóficos: “O que faço para ir bem na prova?”; “Como trocar o pneu                         experiência do maravilhamento que, segundo ele, diferente da admiração, evoca
do carro se perdi o macaco hidráulico?”; qual vacina é mais eficaz                           o desejo de conhecimento. Assim, Berti aborda o impulso ao conhecimento
para imunizar contra a COVID-19?”; “Um verdadeiro amigo faz o que                            presente nos primeiros filósofos, que buscaram conhecer a natureza, o mundo
ele fez?”. Em relação a essa última, o texto avança aproximando-se                           e o ser humano.
a uma indagação filosófica a partir da pergunta: “Afinal, o que é ami-
zade?” A próxima citação pode esclarecer ainda mais essa questão.                            CONCHE, Marcel. O sentido da filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
                                                                                             Nesta obra, o filósofo francês Marcel Conche trata da filosofia, entendendo-a
            “Uma vaga vivência de insatisfação por mais intensa que seja                     não como um resultado, mas como um meio, uma busca, uma investigação que
    não basta para que tenhamos um problema filosófico. Ela pode ser o                       está relacionada à verdade.
    primeiro passo (e geralmente é), mas o que define o filósofo é o fato
    de que ali onde o entendimento comum se contenta com a tal insa-                         CONTE-SPONVILLE, André. A filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
    tisfação (e crê eventualmente, que ela, enquanto pura ‘resistência’, já                  O filósofo francês busca tratar, nesta obra introdutória sobre a filosofia, o que é
    é o pensamento de um problema) o filósofo a conduz à forma de uma                        filosofia, como ela evolui no tempo e quais são as grandes correntes filosóficas.
    pergunta explícita bem definida e, por tal motivo, suscetível de resposta.”
                                                                                             PIEPER, Josef. Que é filosofar? São Paulo: Loyola, 2014.
       PORTA, Mario Ariel González. A filosofia a partir de seus problemas. São              A pergunta que norteia a obra do filósofo alemão Josef Pieper, “Que é o filoso-
                                                         Paulo: Loyola, 2002. p. 30-31.      far?”, como o próprio autor sabe, não pode ser respondida de maneira definiti-
                                                                                             va. Trata-se, então, de uma busca permanente, fazendo jus ao próprio nome da
        O outro aspecto importante a ser destacado nessa parte é a                           filosofia: amor à sabedoria.
dinâmica da filosofia. A filosofia e o filosofar decorrem da relação
entre o problema constituído e a tentativa de solução, que pode                              PORTA, Mario Ariel González. A filosofia a partir de seus problemas:
ou não levar a novos problemas. Essa compreensão é decisiva,                                 didática e metodologia do estudo filosófico. São Paulo: Loyola, 2002.
pois, uma vez aceita, o estudo desse ou daquele filósofo, desta                              Abordagem didático-metodológica que torna acessível o estudo e o ensino
ou daquela corrente filosófica, deve proceder em primeiro lugar à                            da filosofia.
delimitação do problema e a tentativa de solução.
                                                                                         RESPOSTAS E COMENTÁRIOS DAS ATIVIDADES DO LIVRO DO ESTUDANTE
 APRENDER A ARGUMENTAR (P. 29)
        Sondar os alunos acerca das informações que eles possuem                          QUESTÃO (P. 22)
                                                                                                 O ser humano começaria a filosofar após a admiração des-
a respeito das expressões: “deduzir” ou “fazer deduções”, que
são relativamente comuns na linguagem cotidiana, na imprensa                             pertada pela realidade. Em outras palavras, o estranhamento ou
ou mesmo na escola. Nesta seção, apresentamos os raciocínios                             a dificuldade de compreensão sobre determinado fenômeno ou
dedutivo e indutivo, no contexto da lógica argumentativa, de maior                       aspecto da realidade impulsionaria o questionamento filosófico.
precisão. Dependendo do perfil da turma, o professor poderá optar                        Assim, a filosofia teria uma vinculação estreita com a realidade ou
por discutir com a classe as premissas e as conclusões dos exem-                         o cotidiano do ser humano. A intenção é que o aluno compreenda a
plos apresentados. Outra sugestão para enriquecer o exercício de                         relação entre a vida ou a realidade e as reflexões filosóficas – essa
                                                                                         relação será melhor desenvolvida neste capítulo. Tal entendimento
                                                                                         se contrapõe à ideia disseminada de que a filosofia nada tem a ver

384 MANUAL DO PROFESSOR
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